Entretenimento

A exposição “Imagens que não se conformam” abre nesta quinta-feira no MEP

O artista Eder Oliveira está entre os que participam da mostra, ao lado de nomes como Emmanuel Nassar, Berna Reale e Luiz Braga FOTO: DIVULGAÇÃO
O artista Eder Oliveira está entre os que participam da mostra, ao lado de nomes como Emmanuel Nassar, Berna Reale e Luiz Braga FOTO: DIVULGAÇÃO

Wal Sarges/Diário do Pará

O presente e o passado se conectam na exposição “Imagens que não se conformam”, que abre nesta quinta-feira, 23, no Museu do Estado do Pará (MEP). Itinerante, a mostra ficará aberta até o dia 25 de junho, em Belém, e depois irá circular em São Luís (MA) e Ouro Preto (MG). Artistas locais de renome produziram obras especialmente para a mostra: Berna Reale, Nay Jinknss, Marcone Moreira, Emmanuel Nassar, Luiz Braga e Alexandre Sequeira.

Essas produções dos artistas contemporâneos dialogam com obras raras e significativas do acervo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) que remetem aos períodos colonial, imperial e republicano do Brasil. A curadoria foi feita em conjunto pelo vice-presidente do IHGB, Paulo Knauss, e pelo historiador paraense Aldrin Figueiredo, que atua como diretor do Museu do IHGP.

“A exposição foi pensada para colocar a coleção do IHGB em diálogo com a arte contemporânea e, nisso, propor uma discussão sobre a memória nacional e sublinhar a ideia de que o passado não é um fato natural, mas uma construção social sempre atualizada no presente e envolve usos contemporâneos do passado”, explica o curador Paulo Knauss.

Obra de Flavya Mutran, “Cirio de Nazareth 1989”, em exposição.

Três artistas de diferentes gerações traduzem em suas obras esse diálogo, destaca Paulo Knauss. “Assim, Berna Reale desenvolveu uma obra que se relaciona com a pá usada pelo imperador Dom Pedro II para inaugurar os trabalhos de construção da primeira estrada de ferro do Brasil. Nay Jinknss contextualiza em sua criação visual as imagens de indígenas criadas pelo pintor Albert Eckhout, do tempo da ocupação holandesa no Brasil colonial”, descreve.

Na abertura da exposição, segundo o curador, os visitantes irão conhecer peças relacionadas à memória do imperador Dom Pedro II, patrono do IHGB, em que seu busto em mármore branco contrasta com a imagem de moça simples do nosso tempo, representada na obra de Alexandre Sequeira. Em uma outra sala se encontra uma roda dos expostos do Brasil colonial, um tipo de janela em que pais entregavam suas crianças para serem criadas por religiosos como órfãos.

“Essa peça histórica dramática é apresentada cercada de brinquedos tradicionais de miriti, nos lembrando que o direito de brincar traduz o direito à infância, uma luta ainda atual no Brasil. Vale destacar, talvez, a peça mais significativa da coleção do IHGB: o crânio da Lagoa Santa, que foi encontrado na primeira expedição arqueológica e paleontológica do Brasil, liderada pelo dinamarquês Peter Lund. De algum modo, o mistério que cerca o passado mais remoto da terra do Brasil persiste na interrogação crítica sobre o Brasil como destino coletivo que os artistas contemporâneos promovem”, aponta Paulo Knauss.

Obra da série “Imensidao”, de 2023, de Marcone Moreira, presente na exposição.

 

ENCONTROS E MEMÓRIAS

Aldrin Figueiredo reflete sobre a importância da arte contemporânea paraense. “Nesta exposição, as obras dos artistas locais dialogam com os próprios objetos. Uma das salas, por exemplo, é a que apresenta os brasões, que eram registros de família nobiliárquicos que representavam um pouco essa elite imperial. Agora muitos dos artistas trabalham com esses brasões que representam ancestralidade, outras lógicas que não são as aristocráticas, como por exemplo, os pontos riscados dos orixás feitos nos azulejos, que é uma das características muito fortes nas religiões afro-brasileiras. Iremos ver, lado a lado, um prato com um brasão de um barão do café, um registro nobiliárquico de um marquês e também um ponto riscado de um Xangô, por exemplo, ao lado de [obras de] Ruma de Albuquerque, Emmanuel Nassar e Marcone Moreira”.

Três peças foram produzidas pelo artista Marcone Moreira a partir de madeiras de embarcações e peças de caminhões, formando uma certa geometria. “Eu já trabalho com essa ideia de memória, com a presença do tempo impregnado com madeiras de embarcações ou de caminhões há algum tempo. São objetos com certa referência nos brasões, tendo eles como ponto de partida”, diz.

O tempo que conduz sua criação é abstrato, conta o artista. “Eu coleto material e depois tenho um processo de reelaborar esses materiais. Pensando muito a pintura, a memória deles”, detalha Marcone.

VEJA

Exposição “Imagens que não se conformam”
Quando: De hoje até 25 de junho, com visitação de quarta a domingo, de 9h às 16h
Onde: Museu do Estado do Pará- MEP (Praça Dom Pedro II, s/n – Cidade Velha).
Quanto: Gratuita.