Wal Sarges
Chega o momento de se despedir dos eventos da quadra junina que ocorrem na Fundação Cultural do Pará (FCP), em Belém. O tradicional Auto Junino, que reúne cerca de 200 integrantes, realiza duas apresentações neste final de semana, uma neste sábado, 29, e outra no domingo, 30, no anfiteatro do Núcleo Curro Velho. Toda a programação do Arraial de Todos os Santos possui entrada franca.
O Auto Junino é um espetáculo de teatro musical que reúne dança, teatro e música e é executado por crianças e uma parte dos pais. É o que explica Jorge Cunha, coordenador de iniciação artística do Curro Velho. “É uma tradição que já acontece há 33 anos e reúne participantes das várias oficinas. É uma culminância das oficinas que a gente faz, pensando no Auto, em cima de um roteiro que é escrito especialmente para eles nessa dinâmica. O roteiro, a música, toda a composição ainda é feita, pensada para esse público”.
Este ano, o espetáculo conta com cerca de 210 participantes que trazem para o palco o tema: “Uma história junina de Chico e Catirina”, um clássico do folclore brasileiro. Na trama, Chico, um vaqueiro e a esposa Catirina se veem em apuros ao tentar salvar um boi muito estimado pelo patrão.
Nesse contexto, Jorge Cunha comenta que faz um paralelo entre a cultura do boi-bumbá e as nossas vivências atuais. “Durante o período de preparação das montagens e de laboratórios, a gente traz uma discussão sobre o celular, que está ligado à tecnologia usada pelas crianças e adolescentes. A gente tenta lincar a discussão da cultura popular com o uso dessa tecnologia. Refletimos sobre como a juventude pode se interessar pela cultura, especialmente, da cultura popular junina”.
O espetáculo traz ainda uma homenagem a mestres e mestras, que se dedicam uma vida inteira na preservação da cultura popular. “A gente traz um boi que vem todo dividido com desenho do corte do boi, mas no lugar desses cortes, a gente traz os nomes dos bois desses mestres. São homenageados cerca de 26 bois de mestres que já se foram, além de bois de mestres que ainda estão por aqui, então tem a Mestra Rosa, o Mestre Alarindo, do Entroncamento, o Mestre Zitinho, todos representados por seus bois, além do boi Pavulagem e o boi Malhadinho” cita ele.
COLORIDO
O Arraial de Todos os Santos encerra neste domingo, 30. O ponto alto da quadra junina é o concurso de quadrilhas e a apresentação de misses. Neste sábado, ocorre a apuração do 20º Concurso Estadual de Quadrilhas Juninas e das candidatas a miss, às 10h, e no domingo, a premiação dos vencedores às 18h, no antigo Centur.
Nesta sexta-feira, 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, o total de 50 candidatas disputaram o título de Miss da Diversidade em 2024. A ideia, de acordo com a diretora de Interação Cultural da FCP, Claudia Pinheiro, é que o evento proporcione mais visibilidade e respeito aos artistas LGBTs, então, o concurso foi deslocado para esse dia e ocorre na Praça do Palco Verequete. “Nós resolvemos homenagear pessoas da cultura junina. Uma delas é a Dona Graça que faleceu em 2021, de covid-19, que por muito tempo se dedicou a Rainha da Juventude, que é uma das quadrilhas mais antigas aqui de Belém. Outra homenagem é ao nosso mestre Verequete, onde ocorreu a apresentação de folguedos e de pessoas LGBTs”, diz.
A cada ano, as quadrilhas são um evento à parte na programação, trazendo coreografias, sincronia, além de muito brilho e colorido. “Elas dão show, são apresentações que a gente só pode agradecer por não fazer parte do grupo de jurados. A Fundação contrata seis pessoas com notórios saberes na área de artes e cultura para que eles avaliem o trabalho por meio de traje, coreografia, marcação e evolução. E essas pessoas que ficam com a parte pesada da história a nós, enquanto público e organização, cabe aproveitar e nos deleitarmos com isso”, analisa Claudia Pinheiro.
A diretora destaca a participação de uma quadrilha muito especial neste ano. “Nós tivemos uma quadrilha muito interessante, formada só por senhoras da melhor idade, a Aroma De Patchouli. Foi uma coisa que me surpreendeu pela coragem e garra de entrar num concurso grande, como é o do Centur. Foram 145 quadrilhas que participaram, 15 mirins, oriundas de 61 municípios. Percebe-se que a vontade de participar está aumentando e vem gente de vários municípios para concorrer. Nós temos uma média de 2 mil pessoas por noite no prédio para assistir e participar dos eventos, tanto na parte de quadrilha quanto dos folguedos.
Outra coisa legal é que o nosso concurso tem sido transmitido pelo YouTube, com uma média de mil a dois mil pessoas assistindo aos concursos”, comemora Claudia Pinheiro.