O assunto dos últimos dias, embora pouco divulgado na mídia, é Bashar al-Assad. O presidente sírio, que governa seu país desde 2000 e tem todos os traços de um ditador, está sendo alvo de intensos esforços dos seus vizinhos para que o mundo volte a reconhecê-lo como líder e a Síria deixe de ser uma nação isolada sob embargos.
Desde o início da guerra na Síria, em 2011, os Estados Unidos tentaram de tudo para derrubá-lo: financiaram rebeldes, bombardearam o país e impuseram pesados embargos econômicos para desestabilizar o governo de Assad. A ideia era que ele caísse na onda da Primavera Árabe, que na época derrubou ditadores e encurtou mandatos presidenciais no Oriente Médio e no norte da África. Nesse meio tempo, ainda enfrentou o Estado Islâmico, que invadiu a Síria, tomou metade do país e transformou a cidade de Raqqa em sede do seu califado. Tudo em vão, já que a Rússia e o Irã apareceram para ajudar Bashar a se manter no poder e recuperar quase todo o território, sobrando alguns confrontos periféricos, como é o caso da província de Idlib, que ainda permanece sob domínio rebelde.
Hoje já é consenso que Assad venceu a guerra e é preciso seguir em frente. O seu vizinho fronteiriço, Líbano, passa por uma gravíssima crise econômica e energética. Os constantes apagões, fizeram o governo libanês importar energia da Jordânia e do Egito, mas para que isso acontecesse de fato, geograficamente teve que passar pela Síria. O problema é que o embargo americano não permite qualquer tipo de negociação entre países com os sírios, sob pena de se tornarem alvos de embargos, mas isso está mudando.
Washington já entende que Assad ficará no poder e agora é hora de retomar a diplomacia gradualmente. Para ajudar na crise energética do Líbano, a embaixada americana em Beirute anunciou um plano para enviar gás natural via Jordânia e Síria sem qualquer pena aos países envolvidos. Reabrir canais de conversa com os sírios, permitindo seu retorno à Liga Árabe e ao tabuleiro geopolítico global, também é visto como a única saída para evitar que o país se torne um eterno partidário da Rússia e do Irã na região.
Em 10 anos, Bashar al-Assad passou de pária internacional e criminoso de guerra à possível alternativa para crises no Oriente Médio. E embora governe um país destruído pelos anos de guerra, com quase 70% da população em extrema pobreza, Assad é incrivelmente popular dentro da Síria.
Se dissessem lá em meados de 2014 que esse seria o desfecho da guerra, ninguém acreditaria. O tempo é implacável.