Agosto é o mês da conscientização pelo fim da violência contra a mulher. A campanha Agosto Lilás, criada para reforçar a importância da Lei Maria da Penha, vai além das denúncias formais: é um momento para refletir sobre os tipos de violência que não aparecem nos noticiários, mas deixam cicatrizes profundas — inclusive no funcionamento do cérebro.
A psicóloga e neuropsicóloga Tatiana Serra, especialista em comportamento, destaca que a violência psicológica e emocional, muitas vezes invisível, pode ser tão devastadora quanto a física. “Estamos falando de relações marcadas por humilhação, controle, gaslighting, isolamento social e manipulação afetiva. Isso não deixa roxo no braço — mas pode desorganizar o sistema nervoso e comprometer áreas ligadas à memória, atenção, autoestima e capacidade de tomar decisões”, explica.
A violência que mexe com o cérebro
Tatiana lembra que o cérebro feminino exposto constantemente a ameaças emocionais entra em estado de alerta crônico. “O sistema de defesa se ativa, liberando altos níveis de cortisol. A longo prazo, isso pode levar a quadros de ansiedade, depressão, confusão mental e até alterações cognitivas”, aponta.
Em avaliações neuropsicológicas, a especialista relata que muitas mulheres apresentam queixas de esquecimento, insônia, dificuldade de foco e sensação de estarem ‘desconectadas de si mesmas’. “Esses sintomas são comuns em vítimas de abuso emocional. É como se o cérebro estivesse tentando sobreviver a um campo de batalha invisível”, diz.
Sinais de alerta: quando procurar ajuda
Segundo a psicóloga, é importante desconstruir a ideia de que só existe violência quando há agressão física. “Frases como ‘você está louca’, ‘ninguém mais vai te querer’, ‘isso é culpa sua’ são formas de violência que destroem a autonomia emocional da mulher e precisam ser levadas a sério”, destaca.
Tatiana orienta que sinais como:
- medo constante do parceiro,
- baixa autoestima repentina,
- isolamento de amigos e familiares,
- culpa excessiva e
- alterações de comportamento
devem ser observados com atenção — por si mesma e pelas pessoas próximas.
Denunciar é importante — mas acolher também é
A especialista reforça que nem sempre a vítima consegue sair da relação de forma imediata, e que o primeiro passo é o acolhimento sem julgamento. “A violência contra a mulher é também um problema de saúde mental pública. Precisamos oferecer espaços seguros, redes de apoio e acesso à psicoterapia, para que ela possa se reconhecer como vítima e se fortalecer emocionalmente”, afirma.