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Na Cúpula do clima, o Brasil ganha tempo com discurso conciliador, mas vai precisar mostrar na prática

Illegal mining causes deforestation and river pollution in the Amazon rainforest near Menkragnoti Indigenous Land. - Pará, Brazil
Illegal mining causes deforestation and river pollution in the Amazon rainforest near Menkragnoti Indigenous Land. - Pará, Brazil

Na última sexta-feira (23) encerrou-se a Cúpula do Clima, evento organizado pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Essa foi a primeira oportunidade do líder americano mostrar sua força no cenário global, protagonizando um raro momento em que EUA, China e Rússia concordaram sobre um assunto. Além destes países, os holofotes se viraram para o Brasil que entrou na Cúpula pressionado pelo alto índice de desmatamento na Amazônia e, apesar do ceticismo, o discurso de Bolsonaro agradou a Casa Branca.

O presidente brasileiro já compreendeu que a agenda ambiental de Biden guiará seu governo e isso ficou muito claro desde o seu primeiro dia de mandato quando ele anunciou a volta dos Estados Unidos ao Acordo de Paris. Além de criar a Cúpula do Clima, Biden também já revogou a permissão da construção do oleoduto Keystone XL, que liga o Canadá ao estado americano de Nebraska. Essa obra é contestada por ambientalistas e indígenas que alegam risco aos rios e terras de povos tradicionais presentes no meio do caminho.

Um país como o Brasil não pode se omitir da agenda ambiental e uma relação amigável com Biden é fundamental para os interesses de Bolsonaro na política externa. Pensando nisso, o tom conciliador tomou lugar das bravatas rotineiras do passado neste assunto, mas apesar dos elogios do presidente americano após promessas do líder brasileiro em acabar com o desmatamento ilegal nos próximos nove anos e reduzir drásticamente até 2050 a emissão de gases causadores do efeito estufa, será preciso mostrar que isso não é apenas um mero discurso. Biden quer agilidade e para isso, Bolsonaro pede recursos financeiros.

Ainda não se sabe como será essa ajuda internacional para combater o desmatamento na Amazônia, ou até mesmo se ela vai acontecer, mas o Brasil vai ter que mostrar que está fazendo o dever de casa. Aliás, na Cúpula do Clima, quase todos os países estão falhando com as suas metas. Um relatório recente da ONU mostrou que, assim como o Brasil, os Estados Unidos, Canadá, Austrália e Coréia do Sul não devem cumprir seus compromissos de redução da emissão de carbono até 2030.

Um outro alvo da Cúpula foi a China, país considerado o maior poluidor do mundo, responsável pela emissão de 28% de carbono na terra e que está sendo pressionada para alcançar a neutralidade climática até 2050. Xi Jinping disse que o país vai alcançar a meta antes do previsto.

O fim do evento ficou marcado pelo ceticismo nos discursos, com todos tendo a obrigação de fazer melhor do que fizeram até agora. Nosso país tem sido alvo de críticas e devido a abundância de recursos naturais disponíveis em solo brasileiro, deveríamos estar liderando as conversas sobre o meio ambiente e não o contrário. É importante recordar que, diferente de países que investem pesado no armamento bélico para serem ouvidos no cenário internacional, o Brasil detém de uma força natural para opinar nas conversas globais: 60% das nossas terras são ocupadas pela maior floresta tropical do mundo e isso faz da Amazônia uma ferramenta extremamente valiosa nas relações internacionais que o Brasil não está sabendo usar.