Com o patrocínio do Ministério da Cultura e do Instituto Cultural Vale, o Museu A CASA do Objeto Brasileiro e Alcantarino Design realizam a exposição “Caboclos da Amazônia: arquitetura, design e música”, de 30 de setembro a 07 de janeiro de 2024, na sede da instituição localizada na Rua Pedroso de Moraes 1216, em Pinheiros, São Paulo.
A exposição faz sua estreia em São Paulo após uma temporada inaugural em Belém do Pará, em maio de 2022. Concebida pelo designer paraense Carlos Alcantarino, a mostra celebra e ressalta a autêntica essência do rico universo da arquitetura, do design e das expressões artísticas do Estado do Pará.
Ao longo de suas incursões pelas comunidades da ilha de Marajó, incluindo Afuá, e da ilha do Combu, situada em Belém, Alcantarino documentou suas impressões da paisagem amazônica. Elementos do cotidiano, como
a elevação das habitações para proteção contra as cheias das marés, a vibrante paleta de cores das casas, a música regional e as elaboradas inscrições nas embarcações, minuciosamente confeccionadas pelos talentosos artistas conhecidos como “abridores de letra”, coexistiam de maneira harmoniosa em seu cenário. Tais registros revelam conceitos originais, que desafiam as normas estéticas convencionais e capturam a rica atmosfera cultural vivenciada pelos caboclos que habitam a floresta.
A mostra apresenta uma coleção diversificada com mais de 300 peças, organizadas em quatro categorias distintas: Arquitetura e Interiores, Objetos, Letras e Música.
A seção de “Arquitetura e Interiores” exibe uma coleção de fotografias tiradas nas ilhas do Marajó e do Combu, enfatizando a arquitetura única das casas de ribeirinhos, pescadores e outros cenários da Amazônia. A cenografia é composta por tábuas de construção sem acabamento, pintadas nas cores tradicionais dessas habitações, proporcionando uma representação fiel da autêntica arquitetura cabocla em toda sua dimensão.
A área dedicada aos “Objetos” apresenta instalações que incluem elementos da vida cotidiana dos caboclos, como o carrinho de raspa-raspa, garrafas com ervas do Mercado Ver-o-Peso, brinquedos feitos de miriti e as pipas que são empinadas nos céus de Belém.
Na seção dedicada às “Letras”, os visitantes terão a oportunidade de se familiarizar com os símbolos de comunicação do caboclo amazônico, com destaque para os “abridores de letras,” que são os artistas responsáveis por pintar os nomes nas embarcações. As paredes servirão como suporte para exibir o trabalho de alguns desses artistas, cada um com seu estilo único.
No espaço dedicado à “Música”, a atmosfera evoca os bares à beira da estrada do interior amazônico, com destaque para a trilha sonora que inclui os ritmos de carimbó, guitarrada e festa de aparelhagem.
Para a realização da exposição, Carlos Alcantarino recebeu o apoio da designer gráfica Fernanda Martins, especializada em Tipografia e Design com foco na região amazônica, e que também coordena o projeto “Letras que Flutuam”. Além disso, contou com a colaboração de Alessandro Lima Abreu, um profissional da pintura que deu os primeiros passos em sua carreira aos 14 anos, auxiliando seu pai. A trajetória inicial de Alessandro na pintura se assemelha a de muitos jovens na região, onde seu pai cuidava dos traços das letras, enquanto Alessandro ficava responsável por preencher os desenhos.
CABOCLOS DA AMAZÔNIA: ARQUITETURA, DESIGN E MÚSICA Texto de Carlos Alcantarino, organizador da exposição
“Nascido e criado em Belém do Pará, o céu, a mata, os rios, a atmosfera regional e cultural, para mim tudo era absolutamente normal e corriqueiro. Anos se passaram, radicado no Rio de Janeiro, trabalhando como designer e atuando em algumas frentes relacionadas às artes, volta e meia voltava a Belém. O olhar mudou. Navegando pelos furos na ilha do Combu, me dei conta de que aquele cenário era de uma exuberância única, e aquelas simples casas pareciam ter nascido naqueles locais. Parece pouco? Não é.
Ficava imaginando projetos de renomados arquitetos, e cada vez mais essa arquitetura invisível e pura do caboclo me parecia a melhor alternativa para acompanhar a floresta, protagonista da cena. Iniciei uma pesquisa, viajei pelo Marajó fotografando vilas de pescadores e centros urbanos, entrei nessas casas e deparei com uma explosão de cores. É interessante essa completa dissociação da arquitetura e decoração com o restante do país, onde o minimalismo e as cores neutras predominam. Percebi que poderia agregar nessa busca outras expressões artísticas dessa região, com o mesmo conceito original, desvinculado de qualquer tendência vigente – como as letras abertas que denominam os barcos amazônicos, um legado que muitas vezes passa de pai para filho, criando intuitivamente uma identidade gráfica.
Os objetos nascem não apenas pela necessidade do seu uso, como canoas e redes, mas muitas vezes com um pensamento involuntariamente lúdico, cuja função é apenas transmitir a magia desse povo, como por exemplo uma banca de ervas e garrafas no mercado Ver-o-Peso que resulta em uma bela instalação sensorial.
Finalmente, a música local é a trilha sonora desse conjunto denominado cultura amazônica, embalando e contagiando com personalidade ímpar. Nossa proposta é apresentar uma amostra desse universo, oriundo do mais puro sentimento caboclo.”
Como resultado da exposição, foi produzido um catálogo que inclui textos contribuídos por conceituados autores, sendo a apresentação assinada pela renomada jornalista Adélia Borges, que detém o título de Doutora Honoris Causa concedido pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).
TEXTO DE ADÉLIA BORGES
“A Amazônia é internacionalmente conhecida por suas riquezas naturais. O que poucos conhecem são as riquezas construídas pelas mulheres e pelos homens que a habitam. Esta exposição desvenda o universo da arquitetura e do design elaborados na Amazônia, mostrando que as criações locais atendem com muita inteligência as funções a que se destinam e são totalmente adaptadas ao território em que se inserem. Ao contrário de agredir a natureza, convivem harmonicamente com ela.
Mas elas vão muito além. Não basta que as casas sejam erguidas sobre palafitas para enfrentar bem a subida das águas e descida das águas ou que os objetos utilizem com sabedoria as matérias-primas do território. Em tudo se vê um vocabulário formal incrível. Tudo é exuberante e superlativo. Não há monotonia. Em oposição a um mundo que fica cada vez mais homogêneo, igual e monótono, aqui se vê uma diversidade de cores e grafismos a expressar o desejo de beleza e a expressão individual de cada morador. As cercas que delimitam o privado do público são vazadas para propiciar a necessária ventilação em ambientes de alta umidade do ar, sendo portanto uma solução coletiva adaptada ao meio. Mas cada uma tem a sua identidade própria, em grafismos que parecem nunca se repetir. Os interiores das residências poderiam estar em revistas de arquitetura e decoração, se elas se abrissem para a expressão popular, tal a personalidade dos ambientes que combinam sem constrangimento diferentes estampas e materiais, dos plásticos à toalhinha de crochê, e sempre com muitas, muuuuiiiiitas cores.
O organizador desta surpreendente e valiosa exposição reúne condições ideais para a tarefa que empreendeu. Carlos Alcantarino nasceu no Pará e portanto enxerga desde “dentro” a realidade que aborda. Ao mesmo tempo, soma o olhar “de fora”, pois há 40 anos foi para o Rio de Janeiro, onde construiu uma carreira nacional e internacional solidamente reconhecida. Tem, portanto, repertório mais do que suficiente para navegar nessas águas.Alcantarino se cercou de outras pessoas que também nutrem um olhar experiente e amoroso em relação à região, a exemplo da designer Fernanda Martins, que fez a seleção dos letreiros dos barcos, ampliando o acesso à sua pesquisa sobre os “abridores de letras”, como são conhecidos os pintores de barcos, e trazendo três deles para a frente da cena, garantindo seu protagonismo. Os objetos vernaculares como o carrinho de raspa-raspa e as garrafadas de ervas, as fotos mostrando a diversidade das embarcações artesanais e os objetos carregados de significado espiritual ofertados por ocasião do Círio, entre outros, compõem um conjunto muito estimulante, e tudo isso embalado pela música da região, igualmente diversa e vibrante.
Ao trazer à luz esses múltiplos inventários, esta exposição vai incentivar que esse rico patrimônio seja respeitado e valorizado por todos aqueles que querem um futuro melhor, em que o fazer humano não só não entre em choque com a natureza, mas também celebre com formas e cores a alegria de estarmos vivos.”
PROGRAMAÇÃO DE ABERTURA DA EXPOSIÇÃO
Para a cerimônia de abertura da exposição, agendada para o dia 30 de setembro, sábado, das 14h às 18h, está previsto um bate-papo com a participação de Carlos Alcantarino, Fernanda Martins e Alessandro Lima Abreu, mediado por Regina Galvão, jornalista, curadora e consultora de conteúdo especializada em design, arte e arquitetura.
SOBRE CARLOS ALCANTARINO
Nasceu em Belém do Pará, em 1958, e mudou-se para o Rio de Janeiro em 1982 onde está baseado até o presente. Designer autodidata, possui graduação em engenharia civil com mestrado pela PUC – Rio. Em 1996 montou o Estúdio Alcantarino, especializado no desenvolvimento de móveis e objetos utilitários, projetos arquitetônicos e cenográficos e consultoria em design. Tem se destacado na área de design sustentável e socioambiental com seu projeto Experiência Design. Já participou de inúmeras exposições internacionais e ganhou os principais prêmios de design no Brasil e exterior.
SOBRE O INSTITUTO CULTURAL VALE
O Instituto Cultural Vale atua em museus e centros culturais, na preservação e valorização de patrimônios e no fomento às múltiplas manifestações artísticas, guiado pela visão de que a cultura é instrumento de transformação social, capaz de gerar impacto positivo na vida das pessoas e construir um legado para as futuras gerações.
A Vale atua há mais de três décadas na Amazônia pela sua preservação e pela salvaguarda de suas múltiplas manifestações artístico-culturais. Para nós, é especial estar ao lado de projetos como “Caboclos da Amazônia: Arquitetura, Design e Música” que, através de casas, objetos, móveis, imagens gráficas e um panorama musical regional, reverencia o rico universo do modo de viver da polução nativa amazônica e suas múltiplas identidades.
SERVIÇO
O MUSEU A CASA DO OBJETO BRASILEIRO E ALCANTARINO DESIGN REALIZAM A EXPOSIÇÃO
CABOCLOS DA AMAZÔNIA – ARQUITETURA, DESIGN, MÚSICA [email protected] | www.acasa.org.br
www.alcantarino.com | @caboclosdaamazonia
30 DE SETEMBRO 07 DE JANEIRO DE 2024
ABERTURA | 30 DE SETEMBRO | SÁBADO | 14H ÀS 18H
MUSEU A CASA DO OBJETO BRASILEIRO
Av. Pedroso de Morais 1216, Pinheiros, São Paulo SP CEP: 05420-001 São Paulo, SP, Brasil +55 11 3814-9711 Horários: de terça a domingo, das 10h às 18h30 Entrada gratuita | Amigável aos animais
MUSEU A CASA DO OBJETO BRASILEIRO
O Museu A CASA do Objeto Brasileiro é um espaço de referência do saber artesanal, criado para proteger, difundir e valorizar suas tradições e técnicas, e que busca atualizá-las no contexto da contemporaneidade, fazendo um constante diálogo entre o passado, presente e futuro desses saberes.
A partir de exposições, projetos, programação cultural, conexões e parcerias culturais e institucionais, o Museu A CASA se posiciona no centro de um ecossistema que pensa, reflete e fomenta a produção artesanal.
Ao longo de sua trajetória, que começou em 1997 pelas mãos da economista Renata Mellão, A CASA evidencia a importância do saber feito à mão para a cultura brasileira, criando pontes entre pessoas, abrindo espaços de troca de experiências e aprendizagem mútua, e explorando todas as capacidades de conexão e tradução entre os diferentes mundos desse universo.
O foco principal do trabalho desenvolvido pelo Museu A CASA do Objeto Brasileiro está, justamente, na manutenção do saber artesanal com um viés de impacto socioeconômico, onde contribuímos para que as comunidades artesãs espalhadas pelo país possam também se desenvolver de forma sustentável e autônoma, além do incentivo a produções ambientalmente responsáveis, que respeitam os ciclos na natureza e privilegiam a (re)utilização de materiais próprios a cada território.
A CASA reconhece que esse conhecimento permeia todo o processo de criação manual, e essa essência guia cada decisão tomada pela instituição.