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Mulheres em cargos de alta liderança relatam os desafios de conciliar carreira e filho

Mulheres em cargos de alta liderança relatam os desafios de conciliar carreira e filho

De acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas, após 24 meses, quase metade das mulheres que tiram licença-maternidade não está mais presente no mercado de trabalho, padrão que se repete até mesmo 47 meses depois. No levantamento, foi concluído que, dentre 247 mil mães, 50% foram demitidas após, aproximadamente, dois anos da licença maternidade. Vale destacar que, de acordo com a Lei 14.020, as mulheres devem ter estabilidade de emprego desde a confirmação da gravidez até 5 meses após o parto.

Outro levantamento feito pela plataforma Vagas.com mostra que, durante algumas etapas de processos seletivos, mais de 70% das mulheres já foram perguntadas se são ou pretendem ser mães. Em muitos momentos também aparecem perguntas como “quem cuidará do seu filho se ele ficar doente?”.

Para refletir sobre o tema, reunimos 15 mulheres em cargos de alta liderança, para compartilhar suas experiências e os desafios entre a carreira e a família. Confira:
Camilla Junqueira, Diretora Geral da Endeavor Brasil

Para Camilla, a síndrome do impostor é a grande responsável por barreiras entre a vida profissional e pessoal. “Às vezes o óbvio precisa ser dito, infelizmente. Uma mulher que escolhe o caminho de se desenvolver na carreira e se tornar líder sabe que terá um acúmulo de funções, especialmente se essa mulher é mãe. As pessoas da minha geração já evoluíram muito em relação à geração dos meus pais, mas ainda é difícil encontrar de fato uma divisão igualitária de tarefas dentro da casa. Existem vários estudos que falam da carga mental da mulher”, comenta Camilla. “Acho importante a gente não se iludir. Se queremos tudo, haverá um custo. Minha filha tem dois anos de idade, sempre acho que estou fazendo menos do que deveria por ela. Há momento que não vou participar de uma reunião que acontece às seis e meia da tarde para poder ficar com ela. Há outros que não poderei levá-la à escola por conta do trabalho. Você vai entender que isso faz parte do jogo e que, na verdade, os pratos não estão caindo, é só autocobrança a ser trabalhada. Ser mãe é a experiência mais transformadora da vida e a maternidade traz uma maior força de vontade para você querer ser exemplo”, finaliza a executiva.
Ingrid Barth – presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups)

Ingrid Barth, presidente da Abstartups, é mãe da Maya. Ela trabalha para que a filha cresça numa sociedade mais inclusiva e diversa, com mães empreendedoras e empresárias, principalmente pela experiência que teve no ramo de finanças e tecnologias, áreas dominadas por homens. “Quero que a Maya entenda que não vai precisar abrir mão de nada na vida por ser mulher. Que tenha uma jornada diferente da minha, que precisei enfrentar muitos desafios e dificuldades por trabalhar numa área tradicionalmente masculina”, comenta Ingrid.

Julia Michelin, diretora geral da Bio Ritmo

A filha de seis anos da Julia é o maior e melhor presente da executiva, mas isso não quer dizer que romantiza a gravidez. “Em 2015, assumi o primeiro cargo de liderança, como gerente geral de ginástica da Bio Ritmo, foi sem dúvida uma grande virada na minha carreira. Porém, esse turn point aconteceu na vida pessoal também. Engravidei e não foi nada fácil. Tudo muda, o corpo, a rotina, as prioridades. Pode ser bem assustador e nunca estaremos totalmente preparadas”, comenta Michelin. “Teve uma fase em que fiquei muito neurótica achando que não daria conta, que não daria certo minha carreira. Pensava que precisava mostrar muito mais produtividade e continuar treinando para ser uma mãe fitness. A sociedade faz com que a mulher se coloque nesse papel de auto cobrança. No entanto, minha base sempre foi fundamental para me manter no eixo. Quando chego em casa, minha mãe e filha estão ali para mostrar que tudo está bem. Sou muito feliz com elas e onde estou hoje profissionalmente falando. Gravidez não é barreira para crescimento na carreira e nem para nada”, finaliza a executiva que hoje está à frente dos 700 funcionários da Bio Ritmo e de equipes de marketing e finanças.

Michelle Wadhy, uma das fundadoras da Fast Escova

Michelle, uma das fundadoras da Fast Escova, tem o desafio de empreender e também ser mãe. Mesmo sem chances de gestar, após vencer um câncer , ela engravidou e, resolveu empreender, pois estava decidida que seu tempo era o bem mais precioso naquele momento. Junto com a sua sócia, teve a ideia de um negócio de beleza rápido, já que estava difícil conciliar a rotina de empreendedora, maternidade e cuidados com a casa. “Só quem vive a maternidade sabe que muitas vezes abdicamos da nossa vida para viver a vida dos filhos, porém em troca, vivemos o amor incondicional. Foi pensando nisso que surgiu a Fast Escova, um modelo de negócio de beleza que não precisa de hora marcada, para mulheres assim como eu, que precisam ser dona do seu tempo, para conseguirem conciliar com equilíbrio as diversas tarefas do seu dia”, comenta Michelle.

Mariana Chaves, diretora financeira da Flexpag

Mariana Chaves é uma das sócias e diretora financeira da Flexpag, para ela a maternidade e empreender não foi uma tarefa fácil, mas a rede de apoio familiar permitiu conciliar bem os dois papéis. “Para conciliar a minha vida de mãe e profissional, eu aprendi que é essencial saber gerenciar o meu tempo e estabelecer prioridades. Como mãe, vi que qualidade de tempo é muito mais importante que quantidade. E sendo uma empreendedora torna o desafio grande também, pois sinto um sentimento de maternidade pelo meu negócio, o que demanda minha atenção constante em todas as suas etapas. Eu sei que para me dar bem em todas essas áreas, preciso primeiro estar bem comigo mesma. Felizmente, tenho uma rede de apoio familiar, o que faz as coisas fluírem muito bem para mim”, comenta Mariana.

Priscilla Martins Dias, Head of Finance da Justos – startup de seguro auto

Priscilla Head of Finance da Justos é mãe de gêmeas que estão com 6 anos de idade. “Ser mãe me completa como pessoa. A maternidade traz consigo a paciência que achamos que não tínhamos, força que surge em horas necessárias e especialmente nos faz sentir um amor único, genuíno e melhor que qualquer outro. Cada dia intensamente vivenciado ao lado delas, vale muito a pena”.

Luciana Precaro – diretora de Consórcios da Sinqia

Luciana Precaro é diretora de Consórcios na Sinqia e mãe da Valentina. Antes do nascimento de Valentina, a executiva acreditava que iria precisar abrir mão das coisas em sua carreira, mas foi o oposto. Para ela, a maternidade foi um ponto que a ajudou a melhorar como pessoa. “Existe um preconceito de que a mãe vai entregar menos, mas acontece o contrário: a mãe vira uma leoa e entrega mais. Minha filha foi uma inspiração para eu crescer, como profissional, amiga, filha… me fez evoluir em todos os aspectos da minha vida”, diz. Para conseguir conciliar, a solução foi separar os momentos de estar só com minha filha, dos momentos de estar totalmente voltada ao trabalho. Era desafiador, e meu coração ficava apertado quando a minha filha ficava doente e precisava deixá-la para poder trabalhar”, declara.

A Sinqia criou alguns projetos voltados às mães, como o aumento da licença maternidade e a sala de amamentação. “O que eu acho que faltam nas empresas é ter mais abertura para ouvir as próprias mães, sobre o que poderia facilitar a vida delas, e, talvez, trazer conteúdos, momentos de trocas de melhores práticas. Acredito que a troca de experiências entre as mães já acalma e torna o momento mais rico”, comenta a executiva.

Luciana completa e diz que ser mãe também ampliou sua visão como líder na Sinqia. “Acredito que minha filha me ajudou a melhorar em vários pontos. Da mesma forma que quero vê-la evoluindo, segura e com sua independência, também quero ver todas essas qualidades em meus liderados”, finaliza.

Tia Dag – Fundadora da ONG Casa do Zezinho

Dagmar Rivieri, conhecida como Tia Dag, é mãe e fundadora da ONG Casa do Zezinho. A educadora lidera a Organização há 29 anos e já ajudou cerca de 30 mil crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. Seu maior desafio sempre foi o de gerenciar a ONG, mas, por sempre ter trabalhado com crianças, a maternidade aconteceu de forma tranquila.

“Eu criei o meu filho junto com as outras crianças da ONG. Desde cedo, ele pode viver com uma diversidade incrível, como chilenos, argentinos e crianças da periferia”, ressalta Tia Dag. Seu conceito de família nunca foi tradicional de “pai, mãe e filhos”, mas sempre foi o de “família humana”. “Hoje meu filho me agradece por ter tido contato com outras crianças e por ter crescido em meio a tanta diversidade”, aponta. Atualmente, ele é presidente da Casa do Zezinho, e sempre acompanhou o trabalho da mãe e abraçou a sua causa.

Para Tia Dag, o maior aprendizado da maternidade é a doação. “É você se doar, entender que aquele ser é diferente de você, que é preciso ter olhar, escuta, compreensão e paciência”, aponta. De olho nos desafios que muitas mães passam durante a criação de seus filhos, como a falta de uma rede de apoio e a impossibilidade de se doarem – já que a grande maioria das mães dos Zezinhos (nome carinhoso dado às crianças da Organização) são mães solos e passam por diversas dificuldades – criou, há três anos, um projeto voltado para os pais. Esse projeto oferece os mesmos cursos e oficinas que são aplicados para as crianças e os jovens da Casa do Zezinho, como oficinas de empreendedorismo por meio da gastronomia, do artesanato, do corte e da costura, entre outros.. “Se elas precisarem de algum curso específico, também oferecemos. Nosso objetivo é trazer alívio para essas mães, tirando-as um pouco da difícil realidade da periferia que vivem”, finaliza.

Maria Mestriner Colli – fundadora da Pampili

A Pampili é a marca líder no segmento do lifestyle infantil feminino que completou 36 anos de história no último mês. Maria estava grávida de cinco meses e tinha 24 anos quando decidiu abrir a empresa. “Era uma jovem sonhadora, com desejo enorme de empreender. Eu engravidei no meio do processo de planejamento e não pensei em desistir em momento nenhum”, completa.

O pequeno Diego, primeiro filho de Maria, costumava brincar entre a turma da produção e era perito em derrubar as caixas de sapatos empilhadas e vivenciou uma história de propósito. Hoje, ele atua como CCO da empresa. Já Guilherme, o filho mais novo que também cresceu juntamente com o Diego dentro do negócio, hoje atua como dermatologista e faz parte do conselho contribuindo com os negócios.

Para outras crianças, o caminho foi semelhante, pensando em acolher os filhos das colaboradoras da Pampili, que são 80% do quadro de funcionários. Inaugurado em 2008, o Instituto Terra do Rosa oferece um lugar seguro para que crianças de 5 a 16 anos desenvolvam seus dons e talentos, como auto estima, princípios, valores e cidadania. Assim, não ficam na rua enquanto as mães trabalham e crescem amparadas emocionalmente e preparadas para assumirem o seu primeiro emprego.

O projeto – que conta com atividades lúdicas, aulas de inglês, informática e natação e capacitações – já acolheu mais de 1.500 crianças e adolescentes e, muitas delas, tiveram a oportunidade de se desenvolver profissionalmente e hoje atuam em diversas funções dentro da Pampili.

 

Bruna Milet, CMO da Sympla

A carioca Bruna Milet, além de CMO da Sympla, o maior ecossistema de experiências do país, é mãe de Thiago e Rafael, de 14 e 11 anos. A diretora está à frente das áreas de Branding e Performance da companhia e se divide entre São Paulo, onde vive com os filhos e o marido, e Belo Horizonte, a sede da empresa. “Ser mãe e executiva traz vantagens e desafios. Eu certamente me tornei uma profissional melhor após a maternidade, mais focada e empática. Mas é bem desafiador equilibrar as agendas e a paternidade ativa é um fator importantíssimo para viabilizar a continuidade da carreira das mães. No meu caso, a atuação do meu marido e de minha rede de apoio dividindo o cuidado com as crianças foi fundamental. As empresas e lideranças também têm sua responsabilidade: nenhuma mãe ou pai deveria perder a apresentação da escola dos filhos ou o cuidado com sua criança doente por trabalho. Essas pequenas flexibilidades fazem toda a diferença”.

 

Talita Galvão, Gerente de ESG da Fênix DTVM

Talita Galvão é gerente de ESG e para ela a chegada da maternidade despertou nela uma maior sensibilidade no que ela faz dentro do âmbito profissional, trazendo para ela um olhar humanizado para seus colegas de trabalho. “O foco para o que é preciso fazer e principalmente o desejo de conquistar os objetivos planejados. Porém, o maior desafio é entender os diversos papéis que desenvolvo no meu dia a dia e não ceder a minha pressão de estar sempre vestida com a capa da mãe/profissional/super heroína. Hoje, observando tudo isso, eu entendo que é o olhar carinhoso, um abraço e o beijo amoroso do meu filho, que me dá a certeza que estou no caminho certo”.

 

Eliane Seze, diretora financeira da FNX Participações

Para Eliane Seze, diretora financeira, o maior desafio foi seus filhos entenderem a ausência da mãe. “Não é a quantidade de tempo que você está com seu filho e sim a qualidade desse momento, pois invisto muito na qualidade do tempo que tenho para atenção plena. Já tive a experiência de trazer meus filhos ao meu trabalho e eles perceberem a dinâmica do meu dia e do meu trabalho e se sentirem orgulhosos da mãe deles”.

Amanda Pinto, fundadora da N.OVO Plant Based

Movida pela vontade de inovar e contribuir para uma indústria alimentícia mais saudável e sustentável, Amanda fundou a N.OVO, foodtech voltada para o mercado plant based em 2019. A startup surgiu com o objetivo de impactar positivamente o planeta e a vida das pessoas, além de fomentar a liderança feminina e inserir cada vez mais mulheres no time de colaboradores. Hoje, aos 32 anos, Amanda é mãe de Maria Tereza e afirma: “A maternidade transformou à mim e à minha vida no âmbito profissional também. Depois da chegada da minha bebê, considero que desenvolvi a capacidade de gerir melhor o meu tempo, meus afazeres, priorizando demandas e delegando o que é possível. Considero que me tornei mais assertiva e objetiva. Hoje me considero uma profissional muito mais madura”. A empresária já entrou nas listas Forbes Under 30 e MIT Technology Review como Inventora do Ano e Innovator Under 35.

 

Treissi Amorim Espindula – Diretora de Conteúdo na FEBA Capital

Atualmente curtindo a chegada da sua primeira filha menina, Treissi Amorim, Diretora de Conteúdo da norte-americana, FEBA Capital, é a mãe do pequeno Liam, de dois anos e meio, e da recém-chegada, Luna, de apenas três meses de idade. Para a executiva, a sua família é uma preciosidade e, em 2023, o dia das mães será ainda mais especial com a presença da sua tão aguardada menininha. “O equilíbrio entre as responsabilidades pessoais e as responsabilidades profissionais tende a ser um desafio constante, principalmente para as mulheres que vivem a maternidade em dose dupla. Ter uma organização diária e prioridades bem definidas são algumas ações que me ajudam a exercer estes dois papéis, ao mesmo tempo em que não perco nenhum momento importante dessa fase tão especial que é a primeira infância”, afirma Treissi.

 

Patricia Zaborowsky, Diretora de RH da N26

Mãe de duas meninas, Patrícia Zaborowsky, Diretora de RH da Fincare N26, diz que o maior ganho adquirido com a maternidade é o equilíbrio, e entender que muitas vezes não é possível dar conta de tudo, mas fazer o seu melhor em cada papel que está exercendo no momento. “Ser mãe me tornou uma profissional mais resiliente e me fez compreender que não temos controle e precisamos lidar com os desafios, um de cada vez”. Ela ainda acrescenta que a vida profissional também a tornou uma mãe melhor, mais paciente e valorizando pequenos momentos que são importantes na vida das filhas. “O trabalho remoto me ajuda muito a equilibrar esse papeis, ao permitir estar em casa para ajudar na lição e ao mesmo tempo focar em reuniões”, afirma.

Créditos

Com informações da agência VCRP Brasil

Foto: Divulgação