Casos recentes como as mortes do influenciador PC Siqueira e da jovem Jéssica Vitória Canedo, após ambos serem alvos de notícias falsas que repercutiram e geraram mensagens negativas do público, reacenderam um alerta para a influência da internet, em especial das mídias sociais, sobre a saúde mental e o cyberbulling.
Não por acaso, o Brasil é o terceiro país do mundo que mais consome redes sociais, segundo levantamento da Comscore, reunindo 131,5 milhões de contas ativas, que ficam conectadas mais de 46 horas/mês por usuário.
Segundo um estudo de 2023 do Opinion Box, em parceria com o Histórias de Ter.a.pia, 57% da população acredita que influenciadores digitais podem ajudar ou atrapalhar em relação à saúde mental, e 1 em cada 4 pessoas entrevistadas já buscou ajuda profissional após ser impactada psicologicamente por um conteúdo divulgado na internet.
Uma outra pesquisa, esta do Royal Society for Public Health (RSPH), em parceria com o Movimento de Saúde Jovem, mostrou que 70% dos jovens afirmaram que navegar pelo Instagram fez com que se sentissem pior em relação à sua autoimagem.
“Esses dados mostram o poder de influência que uma rede social possui sobre a saúde emocional das pessoas e o quanto essa ‘nova’ cultura já está enraizada em nosso cotidiano. Algo que pode ser utilizado para incluir, acaba promovendo um movimento de comparação, de segregação e de exclusão, consequentemente instigando transtornos mentais como ansiedade e depressão”, explica a especialista em diversidade e inclusão, Kaká Rodrigues, que é cofundadora da consultoria Div.A – Diversidade Agora!.
A especialista afirma ainda que é preciso controlar o uso das redes sociais. “O uso excessivo dessas mídias on-line pode provocar sentimentos negativos como inveja, rancor e insatisfação com a vida, além de afetar o desenvolvimento e a capacidade crítica dos jovens. Esse desenvolvimento disfuncional pode ser o gatilho para transtornos mentais possivelmente graves, o que vai influenciar em todos os aspectos de suas vidas, inclusive no trabalho”, alerta Kaká.
Um levantamento publicado pela Secretaria da Previdência comprova as falas da consultora em diversidade. Os dados do estudo mostram que episódios depressivos são a principal causa de pagamento de auxílio-doença não relacionado a acidentes de trabalho (30,67%), seguidos de outros transtornos ansiosos (17,9%).
Para Renata Torres, especialista em diversidade e inclusão e também cofundadora da Div.A – Diversidade Agora!, as empresas podem auxiliar na promoção da saúde mental das pessoas colaboradoras. “As organizações podem oferecer apoio psicológico, promover atividades de lazer e integração, incentivar o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, evitar o excesso de cobranças e metas inatingíveis, reconhecer os esforços e as conquistas dos funcionários e criar um ambiente de trabalho saudável e acolhedor”, explica a especialista.
Segundo Renata, as lideranças devem ficar atentas ao excesso de navegação em redes sociais durante horário de trabalho e a mudanças de humor sem motivo aparente da pessoa colaboradora. “Há uma convivência diária e por isso é possível dar suporte e apoio à equipe quando ela precisa. É perceptível também na produtividade da pessoa colaboradora, pois quando ela não está bem, isso reflete direto no seu trabalho. Buscar qualidade de vida para o dia a dia das pessoas que estão no ambiente de trabalho das empresas é essencial para a permanência de talentos e ajuda a promover a saúde mental em nossa sociedade”, afirma Renata Torres.
As especialistas da Div.A ressaltam ainda a importância da Lei 14.811/2024, promulgada nesta segunda-feira, dia 15 de janeiro, pela Presidência da República, que inclui os crimes de bullying e cyberbullying no Código Penal. “É uma medida importante para as organizações, porque isso impacta em demissão por justa causa em caso de pessoas colaboradoras praticantes de cyberbullying”, concluem.