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Através do envio de vacinas, os EUA buscam uma reaproximação com o Vietnã para reduzir a influência da China no sudeste asiático

United States and Vietnam two folded flags together
United States and Vietnam two folded flags together

Desde o final da guerra fria, a relação dos Estados Unidos com o Vietnã não é boa por motivos óbvios: foram quase vinte anos de guerra no país vietnamita que culminaram em quase três milhões de mortos e um país completamente destruído. Hoje essa relação é regada a desconfiança, mas os americanos viram na vacina a oportunidade de estreitar laços para lidar com um incômodo em comum: a China. A tarefa, entretanto, não vai ser nada fácil.

No último dia 26, o secretário de defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, esteve no Vietnã a convite do ministro da defesa vietnamita para tratar de diversos assuntos, dentre eles o combate à covid-19 e uma cooperação militar. Sobre a pandemia, o assunto se tornou pauta porque o governo americano já doou mais de cinco milhões de doses para o Vietnã e, sabendo que a vacina é a nova ferramenta de barganha geopolítica das potências mundiais, se compreende que as doações vão muito além da boa-fé. Há interesse, e nesse caso, o governo americano busca dar suporte marítimo aos vietnamitas em uma área dominada pelos chineses.

O mar do sul da China é uma área com rotas comerciais que movimentam mais de três trilhões de dólares por ano, mais da metade dos navios de pesca do mundo estão localizados ali, além de se estimar que haja reservas de petróleo e de gás natural na área. O mar do sul da China engloba diversos países, mas os chineses alegam que mais de 90% da área pertence a eles, impedindo inclusive os vietnamitas de pescar e explorar uma pequena área que por lei é do Vietnã.

O curioso de toda essa história é que o Vietnã ainda é governado pelo partido comunista desde o final da guerra fria, tem a China como principal aliado, mas está insatisfeito e vem buscando formas de aumentar seu poder marítimo para combater a agressiva expansão chinesa que vem impedindo o país de crescer economicamente. Isso soou como música para os americanos, que viram no atrito uma oportunidade de exercer sua influência em um país historicamente ligado ao poderio chinês.

É bom deixar claro que, apesar das relações entre o Vietnã e a China não estarem em seu melhor momento, isso não significa que o país está disposto a se tornar um aliado ferrenho dos Estados Unidos. Tanto é que o secretário de defesa americano não foi recebido pelo chefe de Estado do Vietnã, somente pelo ministro de defesa do país, o que demonstra que o governo vietnamita ainda vê uma visita americana como protocolar, sem as pompas de um grande aliado. O encontro é também uma forma do Vietnã enviar um alerta à China, sinalizando que estão recebendo o governo americano porque estão insatisfeitos com algo. Para os Estados Unidos, o envio das vacinas e a intenção de uma cooperação militar significam a oportunidade de combater estrategicamente a influência chinesa e a melhora a longo prazo na relação com um país que há poucas décadas foi palco de uma devastadora guerra potencializada pelos próprios americanos.

Sobre esta reunião, há um famoso provérbio que sintetiza muito bem o que está acontecendo:

“O inimigo do meu inimigo é meu amigo”.