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Marcos Frota, 66, falou sobre o personagem Tonho da Lua em Mulheres de Areia (Globo).
Tonho da Lua foi inspirado no texto de Ivani Ribeiro, com o auxílio da Solange Castro Neves. “Ali no texto já tinham todas as indicações que eu precisava para poder construir o personagem, com a direção do Wolf Maia. Outras duas inspirações que eu tive foram, primeiro, um vendedor de sorvete que tinha na minha cidade, Guaxupé, no sul de Minas Gerais. Acho que o nome dele era Augusto, a gente o chamava de ‘seu Gustin’. Ele era um vendedor de sorvete que andava de um certo jeito, usava umas botininhas da roça, com um jeito único de falar e se comunicar… eu passei a observá-lo. Levei muito das características de ‘seu Gustin’, o sorveteiro mais querido da minha cidade, e meio Tonho da Lua, no sentido lúdico. Outra pessoa que eu me inspirei foi no meu filho, Tainã, que tinha três anos. A infantilidade dele me dava um pouco o tom infantil que o Tonho da Lua tinha, a pureza do Tonho da Lua”.
Desafios de interpretar um personagem tão marcante como Tonho da Lua:
“Eu vi a novela ‘Mulheres de Areia’ na TV Tupi de São Paulo, com a Eva Wilma fazendo Ruth e Raquel, e o Gianfrancesco Guarnieri interpretando o Tonho da Lua. Aquilo me marcou muito, e eu percebi, então, que eu tinha um enorme desafio pela frente. Eu procurei dar um pouco mais de ludicidade, transformar o Tonho da Lua num personagem um pouco mais lúdico, já que ele é um artista, um artista das areias, das esculturas. Sem dúvida nenhuma, o maior desafio de interpretar um personagem tão complexo e tão marcante foi estudar o texto. O texto é um clássico da nossa teledramaturgia e exige que o ator tenha muita atenção. Contracenar, também, com atores como Laura Cardoso, Paulo Goulart, Raul Cortez e, principalmente, a Gloria Pires, vivendo Ruth e Raquel, exigiu o máximo de mim. São grandes atores, que vinham para a cena com muita força, intensidade. Eu tinha que chegar com o texto muito estudado, para que eu pudesse realmente contracenar com colegas tão talentosos, tão intensos, com uma interpretação tão mágica”.
Impacto na trajetória profissional:
“O Tonho da Lua primeiro arrancou a máscara da minha vaidade. Esse talvez tenha sido o maior impacto na minha trajetória, na minha carreira. Eu entendi, definitivamente, o exercício do ofício, da arte de representar, da arte de interpretar. A importância do trabalho em equipe, a presença magnânima de um diretor de telenovela e, claro, um texto espetacular da dona Ivani Ribeiro, que é uma das maiores autoras que o nosso país conheceu. Um trabalho em equipe, a ausência de vaidade, e exercício do ofício, foi o que mais o Tonho da Lua me ensinou”.
Elementos que fazem com que Tonho da Lua seja atemporal:
“O Tonho da Lua rompeu a barreira do tempo junto com a novela, não é? É um personagem lembrado até hoje, em todo o lugar que eu chego com o meu circo ou com outro evento, as pessoas vêm conversar comigo sobre o Tonho da Lua. É um personagem que ficou. Agora, nesse momento que ele retorna, no ‘Edição Especial’, ele vai poder se apresentar a uma nova geração. Isso é muito importante, porque essa nova geração, principalmente as crianças, vão se identificar muito com as brincadeiras dele, vão ter com ele uma intimidade, vão se divertir com ele e, claro, vão acompanhar uma história linda que ele vive, de amor incondicional com a Ruthinha, interpretada pela Gloria Pires. O jeito que ele conduz a história dele, e o amor que ele tinha por aquele lugar que ele vivia, aquela prainha e os pescadores… aquilo tudo era a vida dele”.
Mensagem ao público:
“O Tonho da Lua me ensinou o amor incondicional, aquele amor que não espera nada em troca. Por isso é o mais rico. É o que faz você crescer. O Tonho da Lua se libertou através do amor que ele sentia pela Ruth. A gente comentava muito isso, eu e a Gloria Pires, dessa relação que o Tonho tinha com a Ruth, e o quanto isso era um momento de acolhimento. Apesar de todas as dificuldades psicológicas e temperamentais que o Tonho da Lua tinha, isso libertou o Tonho. Tanto é que, no final da novela, ele foi embora com o circo. Isso é incrível, porque é um encontro com a minha própria vida, com a minha própria carreira. Eu criei um circo brasileiro, hoje de padrão internacional, e nunca imaginei que um personagem fosse ir embora com o circo, e o personagem foi. A última cena do Tonho da Lua é ele se despedindo da cidade dele, dos amigos, e indo embora para viver a vida do circo. É quando a vida se mistura com a arte. Eu sou muito agradecido a toda a equipe, e principalmente ao público, que acompanhou com tanto entusiasmo a história de um dos personagens mais queridos que a gente conhece. Eu até hoje fico muito sensibilizado e muito grato pela relação que o público tem. A mensagem que eu gostaria de passar com o Tonho da Lua é essa: ninguém faz nada sozinho, em nenhum aspecto. É a força da equipe que determina o êxito”.