Agência O Globo
São quase dois anos sem dar as caras numa novela. Para quem viveu a última década emendando trabalhos na televisão, a pausa é longa. Mas necessária, avalia Rodrigo Simas, ator de 31 anos que em 22 de janeiro volta às telas como parte do elenco da nova versão de “Renascer”. A trama de Benedito Ruy Barbosa, originalmente exibida em 1993, ganha reedição na faixa das 21h da Globo pelas mãos de Bruno Luperi, autor do recente remake de “Pantanal” (2022), na TV Globo.
Rosto conhecido – e cria de uma família com aptidão para as artes cênicas, ao lado dos irmãos Felipe Simas (vilão de “Fuzuê”, novela das 19h) e Bruno Gissoni (na série “Rio Connection”, do Globoplay) -, Rodrigo acredita estar diante de seu papel mais maduro até agora. É algo descolado dos galãs enfileirados em produções como “Fina estampa” (2011), “Malhação” (2012), “Além do horizonte” (2013), “Boogie Oogie” (2014) e “Orgulho e paixão” (2018), entre outras. O verbo “renascer”, ele mesmo reconhece, lhe cai bem no momento: “Há dois anos, saí, entre aspas, da TV. E isso me trouxe uma liberdade a mais para fazer outras coisas”.
Foi no teatro que o ator diz que passou por um “processo de amadurecimento pessoal”. Em ‘Prazer, Hamlet’ – que deve retornar em 2024, após temporadas bem-sucedidas no Rio e em São Paulo este ano -, o artista desabrochou. Na montagem sob direção de Ciro Barcelos, um dos remanescentes do grupo performático Dzi Croquettes, Rodrigo subiu ao palco sozinho pela primeira vez. Se desdobrou em sete personagens inspirados no clássico shakespeariano e se desnudou (literalmente) diante do público para abordar assuntos relacionados à sexualidade.
“É uma peça que me transformou, não só artisticamente como pessoalmente. Ela me abriu portas. Sinto que saí um pouco da caixinha em que eu sempre me coloquei e me colocaram. Então, acho que é tudo um processo de maturidade, sabe? Veio aí, para mim, toda a revolução dos 30 anos, com vários questionamentos. Mas acho que cada um tem o seu tempo”, analisa.
Ele se refere ao fato de ter falado abertamente nesse período, e pela primeira vez, acerca da própria orientação sexual. Em março, enquanto divulgava a estreia do espetáculo, o ator afirmou que era bissexual. A informação ganhou destaque no noticiário e, desde então, ainda dá pano para manga. Nesta semana mesmo, o influenciador digital e ex-BBB Fred Bruno provocou barulho nas redes sociais ao dizer que estaria aberto a “nova experiências” com o artista, namorado da também atriz Agatha Moreira.
Rodrigo garante não se importar muito com o que é compartilhado por aí. Mas faz questão de demonstrar espanto com a maneira com que o assunto é tratado.
“Vivo um momento de mais tranquilidade, de não me importar tanto com o que os outros pensam. E acho que há uma coisa da sociedade hipócrita em que a gente vive, e que vai repreendendo cada vez mais as pessoas, para elas não poderem ser só o que são. Nesse sentido, é até bom falar sobre isso, para naturalizar. Mas acho que esse tema tem que parar de virar pauta. Está aí uma coisa normal. O mundo é assim, muito mais assim do que todo mundo sabe”, opina ele. “Para mim, não foi uma escolha falar a respeito disso, como se dissesse: ‘Ah, agora vou me pronunciar.’ Não… Simplesmente surgiu! Uma jornalista me perguntou sobre isso, eu estava dentro de um teatro falando sobre a peça que aborda essas questões de Hamlet… Acho que tudo acontece por algum motivo”.
RENASCER
Pois bem, voltando agora a ‘Renascer’, na trama rural ambientada em Ilhéus, na Bahia, Rodrigo dá vida a José Venâncio, filho do protagonista e produtor de cacau José Inocêncio (Humberto Carrão/Marcos Palmeira), e interpretado por Taumaturgo Ferreira há duas décadas.
Irmão de José Augusto (Renan Monteiro), José Bento (Marcelo Mello Jr.) e João Pedro (Juan Paiva), o personagem se ressente pela falta de afeto do pai desde a infância. E vive um dilema familiar, ao lado da esposa, Eliana (Sophie Charlotte) – com quem tenta, há tempos, ter um filho -, depois de se apaixonar por Buba (Gabriela Medeiros), uma mulher transexual.
Este é um dos núcleos da novela que mais trarão novidades em comparação à versão original, segundo o autor, Bruno Luperi. Em 1993, o folhetim apresentou Buba como uma pessoa ‘hermafrodita’, termo que caiu em desuso para designar o que hoje é chamado como ‘intersexo’. À época, o papel coube à então novata Maria Luisa Mendonça, uma mulher cisgênero. Vinte anos depois, o cenário é outro – e a personagem passa a ser defendida por uma atriz transgênero ainda não revelada.
“É importantíssima essa atualização”, frisa Rodrigo. “Acho que antes havia uma coisa mais lúdica para apresentar a questão, que não era tão falada na época. Hoje me dá felicidade estar num trabalho que abordará de forma muito mais direta e real tudo isso, para contar essa história de tanto sucesso”.
Ele garante que, até agora, só bisbilhotou dois capítulos do original de “Renascer”, no Globoplay. Mas já tem o principal spoiler à vista, é claro: se tudo ocorrer como antes, José Venâncio morrerá por volta do 60º capítulo da história.
“Já foi comprovado que quando se sabe o que vai acontecer, as pessoas têm ainda mais interesse na novela”, brinca. “Estou focando nesse início e vou deixar acontecer. Apesar de ser um remake, ainda é uma obra aberta. É uma nova versão, né? Então, muita coisa vai mudar…”.