Entretenimento

Paulo Vieira cativa com simpatia na TV

Do alto de sua simplicidade, o humorista avisa que renovou com a Globo sem pedir aumento: “tenho um salário muito bom”. Foto: Facebook/Reprodução
Do alto de sua simplicidade, o humorista avisa que renovou com a Globo sem pedir aumento: “tenho um salário muito bom”. Foto: Facebook/Reprodução

Anna Luiza Santiago – Agência O Globo

Paulo Vieira se define como um vira-lata caramelo. “Está sempre à vontade”, “quebra o respeito” e “traz as pessoas para a humanidade das coisas”. Da mesma forma que o cachorro, o humorista tem angariado simpatia por onde passa: do público à diretoria da Globo. Emplacou uma terceira temporada do “Avisa lá que eu vou”, em cartaz no GNT, e terá uma série para chamar de sua no Globoplay. “Pablo e Luisão”, em reta final de gravações e ainda sem data de estreia, narrará as aventuras do pai de Vieira e seu melhor amigo, conhecidos de quem segue o artista nas redes. Aílton Graça fará Luisão, o pai do comediante. Otavio Muller será Pablo.

E o tocantinense de 31 anos tem fôlego para muito mais. Nesta entrevista, ele detalha novos projetos, reflete sobre representatividade e comenta a liberdade para fazer piadas com provocações à própria TV Globo.

‘Pablo e Luisão’

“Sou apaixonado por um episódio da cerca elétrica. Foi quando meu pai comprou de um ferro-velho um carregamento de orelhões velhos, fez a cerca da nossa casa com eles e eletrificou. Também amo outro, em que minha família se muda para uma sala comercial, para economizar R$ 150. Acho tudo emocionante, principalmente porque a série não é sobre mim. É sobre meu pai, sobre o Pablo, dois sobreviventes do meio do Brasil, sonhadores, empreendedores. É sobre minha mãe, Conceição, mulher que sustenta a casa não só financeiramente, ajudando meu pai a vender salgados. Ela é o esteio moral e emocional da família. É a história do Brasil inteiro. Fazer esta série é, de alguma maneira, inventar uma história melhor para mim. Não deixa de ser uma terapia.”

Personagens na vida real

“Pablo e Luisão estão ótimos, continuam trabalhando e se metendo em roubadas. Falo para a Globo que a gente precisa ter umas cinco temporadas e que a quinta vem sendo escrita por eles agora. Os dois começaram novos negócios. Um é de bebidas. Estão engarrafando pinga para vender. Leram que o homem mais rico do Brasil é dono de cervejaria. Também estão com ideia de ferro-velho. Querem abrir e dar o nome de Pablo e Luisão para aproveitar o hype da série. E tem o de sempre: lanchonete. Meu irmão diz que, agora que tenho algum dinheiro, vou pôr grana na mão deles só para gerar texto.”

‘Avisa lá que eu vou’

“O GNT me deu dinheiro para fazer o programa que eu quisesse. Construí com a Dani Ocampo (autora e diretora) e a equipe do canal, em cima da premissa ‘O que a gente vai ser feliz fazendo?’. É sobre felicidade. Não é encomenda, não é sobre algoritmo. Queremos gravar a próxima temporada este ano. Temos uma lista de 40 cidades. Vamos sofrer para escolher quais visitar.”

Situação financeira

“Eu não estou rico. A minha definição de rico é uma pessoa que não precisa mais trabalhar. Se eu parar, paro de comer. E ficar muito rico nunca foi meu objetivo. Minha ambição é ter uma casa confortável, comer e beber o que eu quero, viajar de vez em quando e poder ajudar pessoas próximas. Não tenho ambição de comprar avião e mil propriedades, nem de ostentar uma pulseira de R$ 500 mil. Meu medo é que essas coisas me afastem da minha essência. Acho difícil, porque tento ficar sempre vigilante. Já dei uma casa para o meu pai e para minha mãe, pago o melhor plano de saúde para eles e estou comprando meu apartamento em São Paulo. Tenho um salário muito bom. Tanto que, na renovação com a Globo, nem estou pedindo aumento.”

Liberdade para o humor

“Na Globo, sou uma mistura de ombudsman (crítico interno) com embaixador. Um pouco esquizofrênico, eu sei. Meu objetivo é provocar as estruturas e trazer uma reflexão, provocar debates. Às vezes estou criticando toda a estrutura e ao mesmo tempo dizendo que a nova Globo é um lugar maravilhoso para trabalhar. As duas coisas são verdadeiras. Nunca rolou puxão de orelha, juro. Nem toque, nada. Hoje tenho liberdade para criar e sou respeitado. Estou no meu Renascimento. Encontrei um mecenas, que é a Globo. Me sinto na Florença do século XVI.”

Novos projetos

“Apresentei um monte de coisa: uma ideia de reality, uma ideia de documentário. Não apresento só para mim, apresento também para os outros fazerem.”

Alcance nas redes

“A partir do momento em que você fala, tem 50% de chance de errar. A vida do comunicador é também errar, voltar atrás, não fazer mais. Conforme você amadurece, entende a importância de pensar mais antes de falar, de não entrar na sedução da urgência da opinião. Estou aos poucos compreendendo o tamanho das coisas e o meu tamanho.”

Contra ódio, maturidade

“Lido muito bem com haters. Isso vem da maturidade. E tem um aspecto religioso engraçado. Cada orixá dá uma determinação, que é a quizila. Geralmente não pode comer alguma coisa. A minha única e principal é não poder brigar. Eu evito.”

Show business

“Acho que as pessoas me veem exatamente como me vejo. Um cara que chegou do Tocantins, que não entende direito toda esta estrutura e que acha algumas coisas legais e outras, não. O show business é uma festa que acontece há anos. Eu cheguei ali, me deram um microfone. Falo o que estou achando, bebo e como alguma coisa, mas entendo que não sou dali. Eu sei o lugar de onde sou e gosto dele. Eu aproveito, mas não tenho compromisso com as mentiras. Sou filho de Xangô com Ogum e Oxum. Toda vez que tem festa e estou nela eu penso: ‘Isso aqui tudo é meu, eu mereço, está preparado para mim.’ Sou o vira-lata caramelo. Você já viu um constrangido? Ele está sempre à vontade. Se soltar na Chanel ou na Louis Vuitton, vai sentar na melhor cadeira. Só escolhe bons pontos. Se alguém dá carinho, ele fica. Se trata mal, vai embora. É o meu espírito animal. Uma coisa boa do vira-lata é que ele quebra o respeito. Se tem alguém poderoso discursando, com pose, o vira-lata chega e cheira. Quebra todo o respeito, traz as pessoas para a humanidade das coisas.”

Ser inspiração

“Não acho que representatividade é um peso. Eu não carrego esta bandeira, eu sou esta bandeira. Como vou fugir de ser um homem negro no Brasil? Não consigo. Então, se eu sou esta bandeira, eu sou também até onde essa bandeira pode chegar. Isso é motivo de orgulho. Fico feliz quando alguém diz que sou inspiração. Boto muito no meu trabalho a tentativa de somar para a minha comunidade. E eu nem comecei a fazer o trabalho que quero. ‘Pablo e Luisão’ e ‘Avisa lá que eu vou’ são os primeiros passos de muitos que quero dar. Quando eu começar a caminhar de fato, quero que as pessoas se sintam inspiradas a contarem suas próprias histórias. Eu realmente acredito que somos reis e rainhas que vieram da África. Então, tento, com a minha presença, validar isso. Mas é sempre bom dizer: a favela não venceu. Eu venci. A favela só vai vencer quando o racismo e a fome acabarem.”

Planos de casamento

“Tenho muito problema com certas obrigações. Acho que não caso só de birra, nem é porque não quero. Minha vida com Ilana (Sales, sua namorada há sete anos) já é meio de casado. Temos uma parceria de vida, dividimos mil coisas. Esses dias falei para ela: ‘Queria que a gente tivesse filho por acidente’. Porque é muito doido escolher ter filho, uma decisão pesada. Estou renovando contrato, tenho plano de saúde bom. Eu engravidaria de mim agora. Mas acho que ela não está achando jogo, não (risos) .”