Entretenimento

“O Rei da TV” conta a ascensão de Silvio Santos

foto: divulgação/ Star+
foto: divulgação/ Star+

Se tivesse feito carreira nos Estados Unidos, Silvio Santos já teria dezenas de obras produzidas a seu respeito. Livros, documentários e, quem sabe, até mesmo um filme, que renderia um Oscar ao ator principal.

No Brasil, ao contrário, são raras as cinebiografias. É verdade que o volume cresceu de uns tempos para cá, destacando figuras do show business como Hebe Camargo, Renato Russo e Elis Regina. Mas um nome permanecia intocável: justamente o mais icônico da nossa TV, Silvio Santos, que construiu um império a partir de quase nada e hoje, aos quase 92 anos, ainda recusa a aposentadoria.

O próprio Silvio fez circular a lenda de que seus imitadores precisariam de uma autorização especial, algo não previsto pela lei brasileira. Era o caso de Márvio Lúcio Carioca, que se gabava de ter recebido o aval do dono do SBT. Mas aí surgiu Marcelo Adnet fazendo uma imitação totalmente desautorizada, e Silvio não pôde fazer nada para impedi-lo. Depois disso, parece que se abriu um portal e surgiram diversos projetos de peças e filmes retratando o empresário.

Um deles, ainda em produção, é o filme “Sequestro”, que centra o roteiro num episódio específico – o rapto de Patrícia Abravanel, filha de Silvio, em 2002 – e traz o apresentador Rodrigo Faro no papel principal.

Mais ambiciosa é a série “O Rei da TV”, que cobre quase toda a carreira de SS e cuja primeira temporada estreia hoje, 19, na plataforma Star+.

PRIMEIROS ANOS

A reportagem teve acesso a três dos oito episódios. O primeiro deles, “A Geleia É Minha”, mostra a adolescência de Senor Abravanel na classe média baixa do Rio de Janeiro, em meados da década de 1940. Filho de judeus vindos da Grécia e da Turquia, o rapaz logo demonstrou iniciativa para os negócios.

Dono de uma voz potente e de uma inquebrantável cara de pau, tornou-se um dos camelôs mais bem-sucedidos do centro da cidade. Em pouco tempo, conseguiu dinheiro para encher sua casa de guloseimas, inclusive sua favorita – geleia de morango.

O segundo episódio, “Canta, Peru!”, retrata os primórdios de Silvio Santos – o nome artístico pelo qual se tornaria famoso – no rádio, na virada dos anos 1950 para os 1960. Escalado para comandar “A Caravana do Peru que Canta” (no caso, o peru era ele mesmo), uma espécie de circo itinerante que se apresentava nas periferias do Rio e de São Paulo, o jovem animador de auditório conseguiu tarimba e desenvolveu seu estilo peculiar.

Também foi nessa época que Silvio adquiriu de um de seus mentores, o radialista Manoel da Nóbrega, um negócio semifalido chamado Baú da Felicidade, que se tornaria o alicerce de seu grupo empresarial.

O terceiro episódio, “O Rei dos Domingos”, finalmente mostra a chegada de Silvio Santos à televisão, comandando na antiga TV Paulista (atualmente a Globo de São Paulo) o programa que leva seu nome, até hoje no ar, agora pelo SBT.

GUGU

Esses três capítulos são emoldurados por uma crise ocorrida muitos anos depois, em 1988, quando um pólipo na garganta fez com que Silvio perdesse a voz e não conseguisse mais enfrentar a maratona que era seu programa dominical, transmitido ao vivo.

foto: divulgação/ Star+

A emergência médica é agravada por outro problema: Gugu Liberato, estrela em ascensão do SBT, está sendo sondado pela Globo para assumir as tardes de domingo da emissora carioca, competindo diretamente com seu descobridor.

Esses dois dramas não aconteceram exatamente ao mesmo tempo, mas os roteiristas tomaram a liberdade de juntá-los para aumentar a dramaticidade. Alguns nomes também foram trocados: Boni, o ex-todo-poderoso da Globo, agora é Rossi, para evitar possíveis problemas jurídicos.

Muito bem escritos, produzidos e dirigidos, esses capítulos iniciais mostram Silvio Santos como um sujeito despachado, capaz de trazer soluções surpreendentes para qualquer problema inesperado. Mas não é nenhum santo: demonstra racismo diante de uma funcionária negra e é capaz de adulterar o resultado de um concurso para garantir o sucesso de seu programa.

O apresentador também se revela vaidoso e inseguro. Instado a comunicar ao vivo que seu programa passará a ser apresentado por Gugu Liberato enquanto estiver tratando das cordas vocais, Silvio acaba anunciando que sua ausência será coberta por “reprises dos melhores momentos”. Para fúria de Gugu, que imediatamente liga para a Globo.

Mariano Mattos, ainda pouco conhecido, enche de entusiasmo o Silvio Santos jovem. Mas é o veterano José Rubens Chachá, que interpreta o apresentador na maturidade, que passa o peso de uma carreira atribulada, ainda que extremamente bem-sucedida – e que, àquela altura, ainda estava na metade.

(Texto: Folhapress)