CONSUMO DE OVOS

Na onda de Gracyanne Barbosa: brasileiro aumenta consumo de ovos e faz até assinatura

Gracyanne Barbosa
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Gracyanne Barbosa Reprodução

A musa fitness Gracyanne Barbosa causou assombro quando disse consumir 40 ovos por dia, antes de entrar no reality Big Brother Brasil 2025. A modelo fisiculturista disse comer 10 ovos inteiros e só a clara de outros 30 para obter as proteínas que garantam a sua massa muscular, cerca de 170 gramas por dia.

O consumo médio brasileiro é bem inferior ao da modelo: foram 269 unidades per capita em 2024, o equivalente a 0,7 ovo ao dia, segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal). Ainda assim o índice representa um avanço de 11% em relação a 2023.

Contaram para esse aumento a disparada de 20,8% no preço da carne vermelha no ano passado, levando o brasileiro a fazer substituições, além da campanha da indústria de ovos com médicos e nutricionistas, procurando desmistificar a ideia de que a ingestão de ovos causa complicações, como o aumento do colesterol. De quebra, a onda fitness colocou o ovo como aliado dos treinos, fornecendo proteína de qualidade a um preço justo.

“Eu não consigo precisar o quanto, mas desde que a Gracyanne Barbosa estreou no Big Brother, as vendas têm aumentado”, diz André de Carvalho, diretor de marketing da Mantiqueira Brasil, uma das maiores produtoras de ovos no Brasil. “Converso com varejistas e concorrentes, todos têm essa impressão.”

Em 2024, a Mantiqueira vendeu 4 bilhões de ovos, um aumento de 16% em relação ao ano anterior. A empresa fornece para grandes redes de varejo, como Pão de Açúcar e Carrefour, mas também tem cinco lojas próprias quatro em São Paulo e uma no Rio e conta com um serviço de assinatura de ovos são cerca de 12 mil clientes que recebem os ovos direto da granja.

“Nas lojas e na assinatura, temos o kit fitness, de 40 ovos, com mais de 68 gramas cada um”, diz Carvalho. “Também vendemos caixas que têm entre 90 e 360 ovos cada uma. É normal alunos ou professores de academias que consumam entre duas e três caixas por mês.”

A Mantiqueira ainda é dona da marca Happy Eggs, de galinhas criadas livres, um segmento cujos ovos são 30% mais caros que os tradicionais. “A galinha criada livre exige mais espaço e também come mais”, afirma. Mas também é o segmento que mais cresce, sendo o preferido das novas gerações, preocupadas com o bem-estar animal. “No Brasil, apenas 5% das vendas de ovos são de galinhas livres. Na Europa, este índice está em 30% e, nos Estados Unidos, em 40%.”

No ano passado, a empresa investiu R$ 30 milhões em uma campanha de marketing da Happy Eggs, e vem fazendo um trabalho de divulgação junto a médicos e nutricionistas a respeito das propriedades nutritivas do produto. “O ovo deixou de ser o vilão”, diz Carvalho.

A nutricionista Lara Natacci concorda. “Os ovos são ricos em nutrientes, têm proteína de alta qualidade, vitaminas A, E, B12, além de ácido fólico e colina que é importante para a atividade cerebral”, diz Lara, pós-doutorada em nutrição pela USP (Universidade de São Paulo) e Sban (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição).

Estudos recentes apontam que o consumo moderado do produto cerca de um ovo por dia não afeta o nível de colesterol, diz ela. “Quem treina muito tem mais necessidade de proteína. Três ovos por dia, dependendo do seu nível de atividade física, é ok”, diz ela, lembrando que é preciso uma avaliação individual para determinar a quantidade correta para cada um.

Mas Lara chama a atenção para os riscos de um cardápio monotemático, sempre prejudicial para o organismo, e do excesso de proteína, que pode levar a problemas renais, por exemplo.

“Alguns estudos também indicam que pode afetar a saúde óssea e gerar problemas metabólicos, com mudanças hormonais.”

Segundo Ricardo Santin, presidente da ABPA, os produtores de ovos vêm se dedicando à divulgação dos benefícios do produto. “Há 15 anos, o consumo anual per capita estava em 120 ovos”, diz ele, que também preside o conselho do Instituto Ovos Brasil.

Com o mercado interno aquecido, o Brasil exportou apenas 1% da sua produção no ano passado. Mas agora, com o dólar em alta, a exportação está favorecida. Um dos riscos para a produção, no entanto, é o preço do milho, commodity que é o principal ingrediente da ração usada nas granjas. “Cerca de 70% dos custos da produção de ovos estão concentrados na ração”, diz Santin.

Este ano, cada brasileiro deve consumir 272 ovos, um crescimento de apenas 1% em relação a 2024, segundo a ABPA. Não é por falta de demanda interna, mas porque a produção leva um tempo para ser ampliada. “Uma granja compra a pintainha, que é a galinha filhote, e precisa esperar que ela cresça para só então botar ovos. Isso leva mais de quatro meses. Cada galinha bota apenas um ovo a cada 26 horas”, diz André de Carvalho. Além disso, o projeto completo para a construção de uma nova unidade pode levar entre seis meses e um ano.

Daí a possibilidade de aumento de preços, diz o executivo da Mantiqueira, uma vez que o consumo vem crescendo e há uma pressão externa para aumentar as exportações, já que os Estados Unidos, grande exportador, vem enfrentando uma gripe aviária.

“Estamos correndo para aumentar a nossa produção e atender a demanda. Vamos crescer dois dígitos este ano também”, afirma. Hoje a Mantiqueira exporta principalmente para Chile, Oriente Médio e Japão.