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Maria Paula sobre os Cassetas: “Eram machistas para caramba”

Atriz conta como conquistou seu espaço e usa sua experiência como psicóloga na composição de personagens até hoje. FOTO: INSTAGRAM
Atriz conta como conquistou seu espaço e usa sua experiência como psicóloga na composição de personagens até hoje. FOTO: INSTAGRAM

UOL/FOLHAPRESS

A atriz Maria Paula, 52, relembrou, em entrevista à jornalista Marcia Zarur, no canal “Sesc DF”, no YouTube, a época em que começou a fazer sucesso na Globo, em 1993, apresentando um festival de rock. Na ocasião, ela já estava na MTV e foi convidada para apresentar, ao vivo, o programa de variedades “Radical Chic”. Em seguida, ela logo foi contratada para atuar no extinto “Casseta & Planeta”.

“Eu estava vindo do ‘Radical’, um programa diário, ao vivo, aí eles me chamaram e eu falei, ‘claro!’, porque eu adorava aquela pegada do humor inteligente. E quando eu fui, fazia a abertura e o final, e só”, relembrou ela, que ainda disse que a equipe era machista. “Foi com muito jeitinho. E eu não fazia os personagens, eu não fazia nada! E eles eram muito machistas. E eu falava, ‘galera, isso aqui não vai dar bom assim, não”.

Apesar de ter uma participação pequena na atração, Maria Paula não desistiu e acabou ganhando seu espaço. “Com o tempo, com calma, eles foram me dando um papel aqui, outro ali. A minha sorte é que os papéis foram grandes sucessos. A Leticia Spiller fazia o papel de má numa novela (Suave Veneno, de 1999), e eu fazia as paródias. Esse papel fez um sucesso danado, lembro que ela xingava as pessoas, ‘seu ornitorrinco manco’. E as pessoas me viam na rua e pediam ‘me xinga’. E eles viram que precisavam me dar mais espaço. E foi assim que consegui, foi crescendo minha participação e chegou a hora em que fui considerada a oitava caceta”.

FOTO: TV GLOBO

A artista ficou no programa até 2010 quando ele foi extinto. Com o fim do “Casseta”, ela foi trabalhar com cinema, escreveu livro, teve dois filhos, e continuou a exercer a profissão de psicóloga. “Minha vocação é pesquisar a psiquê humana, sou uma pessoa curiosa, eu gosto de gente, gosto das relações, de como a gente se comunica e se entende com o outro. Sempre pensei sobre o que se passa na cabeça das pessoas. Na composição de personagens, a psicologia me ajudou muito”, avaliou.

Atualmente, ela se dedica aos seus trabalhos como roteirista, palestrante e Embaixadora da Paz. “Eu recebi esse [título] e junto com ele veio uma responsabilidade enorme de fazer com que a credibilidade da minha imagem pudesse chegar a lugares onde as pessoas estão precisando de uma mensagem mais acolhedora, que não passe pelo julgamento, denúncia, cancelamento”.

Mãe de Maria Luiza, 18, e Felipe, 14, Maria Paula disse que não mostrou seu trabalho no “Casseta” para eles. “Não mostrei. Eles me viram no cinema, no teatro, me veem muito em cima do palco, mas o ‘Casseta’ eles ficaram sabendo pelos amigos. O que é um perigo! (risos)”, conta ela, que faz o tipo linha dura quando necessário.

“Eu, como mãe, tenho a consciência de que não sou amiga do meu filho. Eu vou educar o meu filho, e, se numa queda de braço, eu tiver que dizer que ele não vai usar o telefone enquanto eu estou no carro dirigindo, levando ou buscando na escola, e essa é a hora em que a gente precisa interagir, e que eu não sou um motorista ou um carro elétrico, sem motorista, porque parece que ele foi abduzido por aquela tela, eu vou dizer. E quando eu falo esse tipo de coisa, eles começam a questionar o que falei lá atrás! Mas eu sou uma pessoa diferente. Hoje eu não bebo, eu medito todo dia, faço ioga, tenho uma rotina muito equilibrada. Aí, vem um amigo e me mostra no ‘Casseta & Planeta’ fazendo o oposto disso tudo”.

Maria Paula ainda aponta que apesar de diferenciado e mais sofisticado, o programa sofreria uma certa perseguição nos dias de hoje. “Não se calçava na humilhação do outro, sempre teve uma coisa mais elaborada ali por trás. Mas existia também. Tinha a mulher como um objeto. A loira e popozuda, ali, sendo objeto de piada. Mas tinha uma coisa de descontração, que eu acho que era legal e se perdeu. Acho que o politicamente correto, de certa forma, limitou, engessou. Mas, por outro lado, que bom! A gente não faz mais piadas desrespeitosas. Todo mundo achava normal porque a sociedade achava graça naquilo. Hoje em dia seria, no mínimo, cancelado, quiçá até presos todos (risos)”.