Agência O Globo
Pioneira da teledramaturgia no Brasil, Laura Cardoso escolheu sua profissão ainda na adolescência, aos 15 anos, quando começou a atuar em radionovelas na Rádio Cosmo. Agora, perto de completar 96, no próximo dia 13, comemora oito décadas de carreira, sem planos de parar.
“A aposentadoria é uma coisa horrível”, disse a atriz ao Globo em Gramado, onde foi uma das homenageadas do 51º Festival de Cinema da cidade gaúcha, semana passada, quando recebeu o Troféu Oscarito pelo conjunto de sua obra. “Estou muito feliz, sempre acho que não mereço tanto. As pessoas são maravilhosas comigo. É muito gratificante. Amo representar. Amo o teatro, o cinema, a TV, o circo. Sou fã de tudo que envolve a arte”.
Em cartaz na Globo com a reprise de “Mulheres de areia” (1993), em que interpreta Isaura, mãe de Ruth e Raquel (Gloria Pires), dona Laura, como é tratada por amigos e colegas de profissão, se divide hoje entre Perdizes, São Paulo, e um sítio em Itu, no interior do estado. Afastada da TV desde 2019, quando participou da novela “A dona do pedaço”, e do cinema desde 2020, quando atuou em “De perto ela não é normal”, a atriz ainda espera por novos projetos no audiovisual.
“Se você ficar parada, você morre. Quero continuar na batalha, quero ficar de pé, lutando”, reforça Laura, cuja paixão pela literatura a levou ao mundo da arte. “Sempre gostei muito de ler, lia muito quando era criança. E sempre sentia a vontade de representar, de fazer alguma coisa para alguém ver. Gosto muito e respeito a minha profissão”.
Esse amor se traduz em muita disposição para novos projetos e homenagens, comemorando sempre o contato com fãs e com colegas que a vida lhe deu. “Aonde me levam eu vou. Sou meio festeira e bagunceira. Se me chamam para uma festa, eu vou”.
A fragilidade decorrente da idade exige que tome cuidados. Ela vem sendo acompanhada de perto pelo bisneto Fernando Faria, filho de Adriana Balleroni – a atriz também é mãe de Fátima Balleroni, ambas de seu casamento com o ator e diretor Fernando Balleroni (1922-1980).
SORRISOS E DESPEDIDAS
Em Gramado, Laura compareceu aos eventos sempre com o sorriso característico e a companhia de Faria. Marcou suas mãos na calçada da fama e recebeu o troféu das mãos de outras homenageadas do festival: Ingrid Guimarães, Alice Braga e Lucy Barreto.
Inicialmente, Laura receberia a distinção ao lado da amiga Léa Garcia, que morreu no último dia 15, aos 90 anos, na cidade gaúcha.
“Estávamos juntas todos esses dias em Gramado, sorrindo e nos divertindo, como nos velhos tempos. Fique com Deus, minha eterna colega”, escreveu Laura em sua página no Instagram.
A atriz lamenta ainda a despedida recente de parceiros da TV e do teatro, como Aracy Balabanian, Aderbal Freire-Filho e José Celso Martinez Corrêa. “São colegas maravilhosos, que eu amo e respeito”.
O Troféu Oscarito é mais um numa larga coleção de prêmios recebidos por Laurinda de Jesus Cardoso Balleroni, nome de nascimento da estrela. Laura acumula 42 prêmios ao longo da carreira, que conta com 81 participações na TV, entre novelas e séries, com destaque para obras como “Rainha da Sucata” (1990), “A viagem” (1994), “Chocolate com pimenta” (2003) e “Caminho das Índias” (2009).
No cinema, esteve em produções como “Terra estrangeira” (1995), de Walter Salles e Daniela Thomas, e “O outro lado da rua” (2004), ao lado dos amigos Fernanda Montenegro e Raul Cortez, entre outros.