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Fátima Bernardes assume o comando do “The Voice Brasil”

Fátima Bernardes assume o comando do “The Voice Brasil”

Fátima Bernardes acaba de abandonar de vez o jornalismo. É um passo que já vinha ensaiando há dez anos, quando decidiu deixar a bancada do “Jornal Nacional” para criar o “Encontro”, mas se concretiza mesmo nesta terça-feira, 15, dia em que ela assume a apresentação do “The Voice Brasil” depois da saída de Tiago Leifert da Globo.

O programa, se por um lado a permite aceitar os holofotes que sempre estiveram sobre seu corpo, por outro a afasta de discussões densas que pautaram a construção de sua persona pública nos últimos anos.

À frente do matutino da Globo, Fátima não se furtou de nenhum assunto. Foi de suicídio a aborto, prática da qual já disse ser a favor, e à legalização das drogas, que também tem seu apoio.

É fato que, no reality show, que ela apresentará ao lado dos jurados Gaby Amarantos, Iza, Lulu Santos e Michel Teló, não há espaço para muita conversa além de música, mas Fátima promete se manter ativa no debate público por meio de suas redes sociais.

Às vésperas das eleições, a apresentadora, que namora o deputado pernambucano Túlio Gadelha, do PDT, desde que se separou de William Bonner, quebrou um protocolo próprio, subiu o tom contra o presidente Jair Bolsonaro e declarou voto em Lula, num vídeo com mais de 1 milhão de compartilhamentos no Instagram.

Mas Fátima faz um aviso. Não é porque declarou apoio ao petista no pleito que pretende se tornar uma ativista ou analista política. Agora que chegou aos 60 anos e se voltou para o entretenimento, com mais liberdade até para se vestir, investindo em tendências como os croppeds que deixam a cintura à mostra, ela diz que quer mesmo é viver a vida, passar mais tempo com os filhos e o namorado, mostrar suas plantas e suas caminhadas no Instagram.

Por que você decidiu deixar o “Encontro”?
Sou inquieta. Foi mais difícil e demorado sair do Jornal Nacional, porque não me imaginava fora do jornalismo. Criei o “Encontro” em busca do entretenimento, mas ele tinha um pé no jornalismo. Agora, queria perder completamente o conforto do jornalismo.

Muito se especulou que você queria sair da Globo ou se aposentar. É verdade?
É mentira. As pessoas vão ter que me aguentar na televisão até eu morrer, porque trabalho com algo que escolhi trabalhar, o que é um privilégio. Trabalho num lugar que me permite mudar e me transformar. Nunca pensei em sair da Globo.

De que maneira a mudança impactou sua rotina?
Não preciso acordar cedo e estar no meu melhor momento todo dia. Posso tomar café em casa, ler o jornal e só depois começar a vida. Ter tido um câncer, entender que a vida passa muito rápido, ter dois filhos morando fora e o namorado transitando entre três cidades me fez acelerar essa transição integral para o entretenimento. Manifestei esse desejo, e o convite para o “The Voice” caiu como uma luva. Ainda não voltei a dançar, não estou com os médicos em dia, mas já tenho muito mais disponibilidade.

No “Encontro”, você discutia temas densos, como feminicídio e aborto, algo que o “The Voice” não permite. Vai sentir falta?Isso agora faz parte das minhas redes sociais. Por 35 anos, entrevistei mães que perderam os filhos, filhos que perderam os pais. O “Encontro” era o espaço para eu falar de tudo o que o jornal trata, mas de maneira mais pessoal. Este espaço não deixou de existir. Ele só migrou para a internet. E eu ganho o refresco de não precisar lidar com isso todos os dias, porque estas pautas estão aí e precisam ser tratadas, mas geram um desgaste emocional grande.

Você já evitou tocar em algum assunto?
Não. Basta ter cuidado. Suicídio, por exemplo, é tabu, mas fiz vários programas sobre isso. Se eu sentir necessidade de falar sobre alguma coisa, vou falar. A questão não é só o que eu falo, mas como eu falo.

Nem mesmo ao declarar voto em Lula?
Não. Era o momento. Como eu não estava no ar, facilitou. Talvez se estivesse não teria feito. Antes, não poderia fazer isso, por estar à frente do “Jornal Nacional”. Mas antes também nunca senti necessidade de falar sobre isso.

Por que sentiu agora?
Por causa da agressão à imprensa e da valorização de notícias falsas. Havia muita desinformação. Mesmo estando fora do ar, isso me assustou muito. Não era só sobre em que candidato eu ia votar. Era sobre ajudar as pessoas a se informarem.
Mas não quero que esperem que agora eu vá fazer análises políticas e me posicionar politicamente todo dia. Quando achar que tenho algo a acrescentar, quando meu coração mandar, eu falo.

Você fez uma série de vídeos explicando o sistema eleitoral. Ter um namorado deputado a aproximou dessa pauta?
Tinha seguidor que me dizia que ia votar no Túlio, sendo que o Túlio é de Pernambuco, e o seguidor de Minas Gerais. Comecei a pensar em como poderia explicar isso. No primeiro vídeo que fiz, estava na minha cama, com o cabelo ruim, sem maquiagem. Acordei querendo falar alguma coisa, mas não estava determinado que eu ia revelar meu voto. No caminho, conforme gravava e via a repercussão, achei importante dizer.

Você mesma já foi vítima de fake news. Disseram que você doou R$ 350 mil a Adélio Bispo, autor da facada contra Jair Bolsonaro, e usaram o CPF de seu filho para receber Auxílio Emergencial indevidamente. De onde vêm esses ataques?Prefiro nem imaginar, mas é uma coisa orquestrada para desvalorizar minha profissão como jornalista. As fake news vão desde dizerem que estou grávida até dizerem que financio bandido e estou do lado de criminosos em detrimento da polícia.

Como você decide o que compartilhar e o que manter privado?
O que me dá prazer e o que pode inspirar as pessoas. Postar foto de uma caminhada é mais interessante do que a de um restaurante que a maioria não vai poder frequentar. Em relação ao Túlio, nunca quis esconder, mas flagraram a gente num cinema no nosso primeiro “Encontro”. Quando recebi o diagnóstico de câncer, o médico sabia, a enfermeira sabia, a auxiliar sabia. Não dá para esconder nada. Assumo o ônus de ser uma pessoa pública, mas me dou o direito de escolher quando falar.

As mudanças que você têm tomado na carreira também parecem mudar a percepção do público sobre seu envelhecimento. Como foi chegar aos 60 anos?Envelhecer não é fácil. Nem democrático, porque a maioria das pessoas não têm a mesma condição que eu tenho de me cuidar. Tenho muitas possibilidades, mas tenho um olhar mais natural para o envelhecimento. Faço meu botox, mas nada mais agressivo, como plástica ou preenchimento. Não sou contra, mas não sinto esta necessidade. Pelo menos não por enquanto. Mas minha idade não me define. Eu tenho várias idades. Tem dias que estou mais leve e mais jovem, e outros que estou mais para baixo e mais velha.

Texto: Pedro Martins/ Folhapress