Da Redação
Em 2015 a artista Ester Sá foi até a cidade de Abaetetuba, no estado do Pará, visitar a mestra de artesania do brinquedo de miriti, Nina Abreu, e lhe pediu para contar a sua história. Nina permitiu…abriu a voz e o coração.
Elas conversaram longamente e Nina lhe contou suas peripécias de vida e arte, principalmente da sua infância quando começou a construir brinquedos. A partir das histórias, Ester escreveu um texto-homenagem que primeiramente estreou como um espetáculo narrativo e agora está registrado em livro com as lindas ilustrações de Luciana Leal. É a obra ‘Nina Brincadeira Menina’, que está sendo lançada pela editora Amo e que tem editoração assinada por Andréa Pinheiro.
O lançamento do livro já aconteceu em Abaetetuba, Castanhal e Belém, onde teve mais um evento na Livraria Travessia, neste sábado, onde além da sessão de autógrafos e da venda do livro, houve um bate-papo com a autora, contando sobre o processo de criação da obra. Também teve a participação online da ilustradora Luciana Leal, que é paraense, mas mora em Aracaju. O bate-papo foi mediado por Pedro Gama, da Livraria Travessia.
“A história deste livro começa em 2015, quando eu ainda nem sabia que ele existiria. Começou numa viagem à cidade de Abaetetuba para pedir a permissão de Nina Abreu para contar sua história. Fomos recebidos, eu, meu esposo André Mardock, minha filha Alice, na época com 3 anos, e meu amigo Aníbal Pacha, o qual eu havia convidado para estar como consultor no projeto”, explica Ester.
“Nina e sua filha Merian carinhosamente nos receberam e em dois dias conversamos e gravamos nossa entrevista/bate-papo. Eu tinha em mente criar uma contação de histórias ou espetáculo narrativo com as histórias de infância dela. Parti da hipótese de que um adulto que construa brinquedos, provavelmente teria tido essa conexão iniciada na infância, então a condução da entrevista passava por buscar esta resposta, e eu a encontrei”, pontua a autora.
“Nina contou muitos causos de sua vida, e sim, a conexão da criação dos brinquedos estava na infância dela. A partir do material gravado, construí o texto e a encenação desse espetáculo narrativo, que estreou em 2015, e em 2017 teve a oportunidade de viajar por 10 estados da Amazônia Legal através do projeto Sesc Amazônia das Artes”.
O lado literário passou a despertar na pandemia. “Com vontade de investir na carreira literária convidei a artista visual e ilustradora Luciana Leal para uma parceria com nossas obras, e assim começamos a trabalhar nessa criação, e nasceram nossos primeiros livros. Em 2021, ficou pronto o ‘Nina’ em formato de livro, e também outros livros que fizemos juntas. Em 2022 fomos convidadas pela Editora Amo a lançar, e em 2023 ele está nas mãos das pessoas”
ENTREVISTA – ESTER DE CORAÇÃO ABERTO
No bate-papo a seguir, exclusivo para o Diarinho, Ester Sá conta um pouco mais sobre sua inspiração para o livro ‘Nina Brincadeira Menina’ e como faz para cativar o público infantil, que tanto a prestigia. Confira! .
P Como surgiu essa vocação para trabalhar com crianças?
R Assim que me formei na escola de teatro, fui convidada a participar no elenco de alguns espetáculos do grupo In Bust teatro com bonecos. A vivência com eles me trouxe esse público. Também na escola de teatro pude dar aulas para crianças. Depois destas experiências montei espetáculos para o público infantil e depois comecei a contar histórias, compor e escrever pensando nelas e também na criança que eu fui um dia.
P Qual a inspiração para o seu livro?
R Nina Brincadeira Menina é inspirado em histórias de vida, principalmente de infância de uma das maiores referências da artesania do brinquedo de Miriti, Dona Nina Abreu.
P Qual o diferencial de poder trabalhar com o público infantil?
R É um público muito sincero, ele espelha a gente. Aprendo muito com a verdade das crianças, elas se expressam e reagem de forma muito autêntica.
Uma coisa que tem acontecido mais pra agora, é encontrar jovens adultos que dizem me ter visto contando histórias quando crianças, isso me faz refletir o quanto esse público se renova.
P Quais teus projetos futuros?
R Continuar trilhando esta missão de artista, que se renova inventando novas formas de existir em mim. Também tenho estudado autoconhecimento e pretendo cada vez mais juntar estes conhecimentos e vivências no fazer artístico
P O que você prioriza na hora de contar histórias?
R Com certeza a conexão com as pessoas, olhar nos olhos, vivenciar juntos a história. Brincar através das narrativas e os sons num convite a encontrar consigo mesmo.
P Em um mundo cada vez mais tecnológico, como conquistar esse público com uma linguagem completamente diferente?
R O narrar é uma tecnologia ancestral e continua atual exatamente pelo fato da conexão entre as pessoas. A voz, a história, a imaginação, o jogo lúdico, o faz de conta sempre terá forte impacto no ser humano, inclusive por ser uma necessidade para nossa sobrevivência. As formas, os locais podem mudar, mas o fato de querermos estar em roda compartilhando experiências nunca vai acabar. Mesmo que não saibamos o quando desejamos, nós, humanidade, queremos muito isso.