JULGAMENTO

Cantora ex-namorada de Diddy, afirma que foi espancada em orgia

O segundo dia de testemunhos no julgamento do rapper Sean "Diddy" Combs foi dominado pelo depoimento da ex-namorada Cassie Ventura

Sean "Diddy" Combs. Foto: Divulgação
Sean "Diddy" Combs. Foto: Divulgação

O segundo dia de testemunhos no julgamento do rapper Sean “Diddy” Combs foi dominado pelo depoimento da ex-namorada do réu, a cantora Cassie Ventura, que está no terceiro trimestre de gravidez.

Os promotores, cientes de que a cantora é a testemunha-chave entre três supostas vítimas do rapper acusado de crimes sexuais, tráfico sexual e extorsão, questionaram Ventura detalhadamente sobre a origem de seu relacionamento com Combs.

Ela o conheceu quando assinou contrato com a Bad Boy Records, gravadora fundada por ele. Ventura tinha 19 anos, Combs, 37. No começo, a relação era platônica e Combs se apresentava como protetor da carreira da cantora.

Ventura afirmou ter se apaixonado pelo rapper, mas disse que a situação começou a mudar quando, ao completar 22 anos, foi levada às orgias batizadas por Combs de “freak offs”. Segundo ela, o rapper dava ordens a ela e assistia aos atos sexuais. “Os ‘freak offs’ se tornaram um emprego para mim,” disse Ventura. As festas podiam vários dias seguidos, com pausas para reidratação.

O espancamento no corredor do Hotel Intercontinental, em 2016, exibido em vídeo para os jurados, ocorreu em meio a uma dessas orgias, segundo a cantora.

Ventura narrou uma rotina de abuso emocional e físico, além da intimidação — era monitorada por empregados e seguranças do rapper. Ela afirmou que vivia sob medo constante de punição e de perder acesso ao seu celular e laptop. Ventura disse também que Combs desprezava suas reclamações de estar sendo humilhada.

Ela também listou as drogas que tomava durante as orgias “para sentir dissociação” e se proteger dos eventos -como ecstasy, cocaína, maconha, cetamina e cogumelos.

À tarde, após a pausa para o almoço, Ventura seguiu detalhando os incidentes. Disse que, durante um “freak off”, em Los Angeles, um segurança interrompeu para avisar que o rival e empresário do rap Marion “Suge” Knight estava num restaurante próximo.

Knight, fundador da Death Row Records, que lançou as carreiras de nomes como Snoop Dog, Dr. Dre e Tupac Shakur, foi condenado, em 2018, a 28 anos por homicídio, acusado de atropelar intencionalmente Terry Carter, seu amigo e parceiro de produção musical, após uma discussão no set do filme “Straight Outta Compton: A História do NWA”.

Ventura afirmou que Combs, então, decidiu que eles tinham de correr até o local, e pôs uma pistola na bolsa da cantora, que chorou, aterrorizada.

A cena faz lembrar o incidente de 1999, quando o rapper e a cantora Jennifer Lopez, sua então namorada, foram detidos fugindo de um tiroteio iniciado pelo grupo de Combs, num clube noturno na Times Square. Combs foi julgado e absolvido do crime de porte ilegal de arma de fogo, mas uma testemunha o acusou de se vangloriar de ter feito Lopez levar a pistola na bolsa.

Durante a tarde, a promotora que questionava Ventura orientou o depoimento para demonstrar como os supostos crimes do rapper tiveram participação de empregados e seguranças. Vários nomes foram citados, entre eles o de Kristina Khorram, a ex-chefe de gabinete de Combs. Especula-se que Khorram já teria feito algum acordo de delação com a Justiça federal.

A sessão no tribunal em Manhattan começou, nesta terça, com a defesa de Combs interrogando o garoto de programa Daniel Philip que explicou, na segunda, como passou mais de um ano sendo pago para atos sexuais com Ventura, que Sean Combs assistia e às vezes gravava.

Na segunda parte do depoimento, a defesa tentou estabelecer que Ventura estava no controle da relação sexual -e Philip discordou, contando que ouviu incidentes em que o rapper batia na cantora.

Um grupo das principais empresas de mídia americanas enviou uma carta ao juiz Arun Subramanian cobrando acesso aos vídeos sexualmente explícitos que Combs gravou e teria usado para chantagear Ventura e outra mulher citada pelo pseudônimo de Jane.

A promotoria queria manter os vídeos fora do alcance do público porque eles expõem a privacidade das mulheres. Advogados da defesa sugeriram que os jurados assistissem aos vídeos dos “freak offs” com fones de ouvido. Nas gravações, é possível ouvir a voz de Combs dirigindo os atos sexuais.

Pouco antes de começar o depoimento de Ventura, o juiz Subramanian ouviu o apelo de advogados de defesa que queriam impedir que Alex Fine, marido da cantora, ficasse no tribunal durante os testemunhos, alegando que poderiam eventualmente convocá-lo como testemunha.

Fine, que tem duas filhas com Ventura, insistiu que sua presença era importante para apoiar emocionalmente sua mulher grávida. Um acordo foi feito com os promotores. Fine vai ter que deixar a sala do tribunal quando sua mulher começar a detalhar a alegação de que foi estuprada por Combs.

LÚCIA GUIMARÃES