MÔNICA BERGAMO/FOLHAPRESS
Às vésperas de completar 82 anos, a atriz Betty Faria diz que o “ser humano está envenenado de ódio” e que “vivemos na época da hipocrisia”. A artista foi, recentemente, atacada na internet por sair em defesa da apresentadora Patricia Poeta. A jornalista vem sendo criticada por, entre outras coisas, ter interrompido ao vivo uma fala de Manoel Soares, seu colega no programa Encontro (Globo).
Betty tuitou que há uma campanha contra Patricia e questionou se Manoel seria uma vítima. Por causa disso, virou alvo nas redes. O ator Bruno Gagliasso chegou a compará-la à atriz Regina Duarte, que ficou conhecida nos últimos anos por espalhar fake news e defender o governo de Jair Bolsonaro (PL) —Betty se opôs ao bolsonarismo e apoiou o candidato Ciro Gomes (PDT) no último pleito.
“Nós estamos vivendo na época da hipocrisia. Tem que ser politicamente correto. Se uma pessoa que sofre algum tipo de preconceito faz uma cagada, não age corretamente, você não pode falar, porque existe uma militância que reage”, desabafa.
Betty conversou com a reportagem na semana passada, por videoconferência. Aceitou falar sobre o tema de forma generalizada, sem citar o nome de Gagliasso.
“Mas eu não vou me calar. Sempre fui rebelde. Vou falar o que eu quiser, o que me der vontade, o que eu achar que não está certo. Principalmente, se for para defender uma mulher, que é sempre a espinafrada”, afirma ela.
Na véspera da entrevista à reportagem, Betty disse ter conversado com uma amiga que é de “esquerda e muito inteligente” —e que ela não poderia dizer o nome—, e que teria afirmado que elas deveriam “ficar mais quietas”.
“Vivi a ditadura [militar] nos anos 1960, 1970 e não fiquei quieta. Vou ficar quieta agora, a essa altura da vida?”, questiona. “Como não pode falar? Que porra de democracia é essa que você não pode demonstrar desagrado com determinados comportamentos?”, indigna-se. Ela completará 82 anos em maio.
A atriz, que segue contratada da Globo e acaba de rodar um filme em Portugal, diz que também ficou emocionada com todo o apoio que recebeu, especialmente o de Fafá de Belém. Mesmo afirmando não ser amiga de Betty, a cantora destacou em publicação nas redes sociais que a atriz a ensinou sobre “empoderamento feminino, liberdade, posicionamento e coragem”.
“Foi uma declaração de amor, que eu vou levar para sempre no meu coração”, diz a atriz. Betty Faria pondera, porém, que a discussão central evocada pela polêmica vai além do desrespeito causado pelos ataques que sofreu. “É a radicalização, é a guerra.”
“E isso se reflete no boboca que entra na internet para xingar uma velha num domingo de manhã para aparecer, para ser herói. Entendeu?”, argumenta. “Como é que chama agora o termo? É a lacração”, diz, aos risos.
“As pessoas têm que ter consciência política. Já que tem internet, que tem mídia, veja um pouco do que está acontecendo no mundo. A extrema direita está entrando e tomando conta”, analisa.
Para ela, o mundo precisa de paz, mas isso não significa que se aceite impunidade. “Se [a pessoa] estiver errada, tem que ser chamada a atenção, sim. Não vai agir mal, e eu vou ficar calada”, enfatiza.