Montevidéu, capital do Uruguai, se transforma neste mês em ponto de encontro entre a Amazônia brasileira e o mundo da dança latino-americana. Nove jovens bailarinos de Porto Grande e Macapá (AP), Ananindeua, Marituba e Benevides (PA) iniciam sua jornada no Intercâmbio Internacional Brasil-Uruguai 2025, promovido pelo Circuito Norte em Dança e pelo Encontro Pan-Americano de Dança da Amazônia (PADAM), com apoio institucional do Instituto de Formación Artística (IFA), dirigido por Federico Lynch, renomado coreógrafo e professor uruguaio que esteve presente na edição de 2024 do Circuito no Brasil.
O intercâmbio é resultado direto das conexões multiculturais fomentadas pelas plataformas de circulação e formação do Circuito e do PADAM, que têm promovido, ao longo dos anos, a internacionalização da dança produzida na Amazônia e a inserção de jovens artistas em redes de cooperação internacional.
Durante a imersão de 15 dias no IFA, os participantes brasileiros terão acesso a aulas práticas e teóricas com foco em dança contemporânea, improvisação, técnicas somáticas, composição coreográfica, história da dança latino-americana e políticas culturais. Também integrarão laboratórios criativos com artistas locais e participarão de apresentações e rodas de diálogo com a comunidade artística uruguaia, tudo isso em um ambiente plurilíngue e de trocas interculturais intensas.
Para Igor Marques, diretor artístico do intercâmbio, produtor cultural e idealizador do Circuito Norte em Dança, essa experiência representa um salto simbólico e estrutural para os jovens selecionados:
“Mais do que atravessar fronteiras geográficas, esses bailarinos estão cruzando fronteiras simbólicas. Eles levam a Amazônia no corpo e na voz. O intercâmbio não é apenas uma formação técnica; é também um processo de reconhecimento, de expansão e de afirmação da identidade cultural amazônica no cenário internacional. É disso que falamos quando defendemos políticas culturais que alcançam a juventude com equidade.”
Oportunidade e transformação
Os jovens selecionados — oriundos de regiões periféricas e muitas vezes distantes dos grandes centros de formação artística — passaram por etapas rigorosas nas edições 2024 e 2025 do Circuito, sendo avaliados por profissionais do Brasil, do Chile e do Uruguai. O critério de seleção considerou não apenas a excelência técnica, mas também o engajamento social, a trajetória artística, o comprometimento e o potencial de multiplicação dos saberes em seus territórios de origem.
A maioria dos participantes vivencia, pela primeira vez, uma experiência internacional. Esse aspecto é um dos pilares do projeto, que busca ampliar horizontes e provocar transformações subjetivas profundas. “Esse intercâmbio muda tudo: muda a forma de ver a dança, muda a forma de ver o mundo e de nos vermos no mundo”, diz uma das participantes, de Benevides (PA), emocionada antes do embarque.
Circuito Norte e PADAM: redes que florescem
O Circuito Norte em Dança, em sua trajetória desde 2018, tornou-se um dos mais importantes fomentadores da dança na Amazônia brasileira. Em diálogo com escolas, companhias e artistas independentes, a plataforma articula apresentações, formações, festivais e intercâmbios que contemplam diversidade estética, inclusão social e valorização da identidade amazônica. O Encontro Pan-Americano de Dança da Amazônia (PADAM), realizado desde 2021, amplia essa rede para o contexto internacional, conectando países como Suriname, México, Equador, Honduras, Peru, Uruguai e outros países latino-americanos em torno da dança como ferramenta de diálogo e transformação.
A relevância dessas iniciativas transcende a arte pela arte. Trata-se de uma construção política e poética de novos paradigmas para a juventude amazônica. Os projetos colocam jovens artistas amazônidas em pé de igualdade com bailarinos de todo o continente, ressignificando o lugar que ocupam no campo cultural global e fortalecendo a ideia de que é possível fazer arte de qualidade, com compromisso e potência, mesmo nas margens do mapa.
“Nosso sonho é que, a cada ano, mais jovens possam viver essa experiência transformadora. Que voltem aos seus estados com mais repertório, mais consciência e mais amor pelo que fazem. A arte tem esse poder de nos empurrar pra frente, mesmo quando tudo parece difícil. E é isso que o Circuito Norte em Dança está fazendo: abrindo caminhos reais para vidas mais possíveis”, conclui Igor Marques.
Enquanto os nove bailarinos seguem suas jornadas por Montevidéu, a dança amazônica já dança em novos palcos, com novos sentidos, e com o coração em expansão. O intercâmbio é apenas uma etapa, mas é também o símbolo de um novo tempo: onde juventude, arte, Amazônia e mundo se encontram em um mesmo compasso.