O hábito de fumar tem consequências devastadoras para a saúde. De acordo com o Ministério da Saúde, o tabagismo é um problema de saúde pública que contribui para o desenvolvimento de diversas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como o câncer. O Câncer de pulmão é o mais lembrado, pois 90% dos casos são causados pelo tabagismo e, além disso, é o tipo que mais mata no mundo todo. Mais de 32 mil pessoas são diagnosticadas com câncer de pulmão, anualmente, no Brasil, e quase 90% desses pacientes, ou seja, cerca de 30 mil pessoas, morrem em consequência da doença. “85% dos diagnósticos de câncer de pulmão são feitos com a doença em estágio avançado, quando as chances de cura são reduzidas”, destaca o cirurgião torácico Iury Burlamaqui, do Centro de Tratamento Oncológico – CTO.
Mas o câncer de pulmão não é o único que tem relação direta com o tabagismo. O fumo está relacionado a 17 tipos diferentes de câncer. A Fundação do Câncer, que faz análises das tendências da doença no Brasil, fez um estudo sobre os 7 tipos de câncer considerados tabaco-relacionados, que têm maior incidência. O levantamento foi publicado na 7ª edição do info.oncollect.
Tipo de câncer | Incidência (2024) | Mortalidade (2022) |
Pulmão | 32.560 novos casos/ano | 29.576/ano |
Cólon e Reto | 45.630 novos casos/ano | 22.326/ano |
Estômago | 21.230 novos casos/ano | 13.850/ano |
Colo de útero | 17.010 novos casos/ano | 6.983/ano |
Cavidade oral | 15.100 novos casos/ano | 6.605/ano |
Bexiga | 11.370 novos casos/ano | 5.119/ano |
Esôfago | 10.990 novos casos/ano | 8.571/ano |
Laringe | 7.790 novos casos/ano | 4.612/ano |
Juntos, esses 8 tipos de câncer somam mais de 160 mil diagnósticos anuais e 97 mil mortes.
Por trás desses números assustadores estão dezenas de substâncias tóxicas usadas na produção dos cigarros Uma das piores é a nicotina, que tem um alto poder viciante, levando apenas sete segundos para chegar ao cérebro e promover a liberação de dopamina, uma substância que gera a sensação de bem-estar. Esse é o mecanismo que causa a dependência química do cigarro e dificulta o combate ao vício.
Combate ao fumo – O relatório da OMS mostra que o Brasil, ao lado da Holanda, está na liderança do ranking de países que obtiveram maior sucesso na redução o número de fumantes, no grupo de países que melhor adotam práticas anti-tabaco no planeta. O Brasil alcançou uma redução relativa de 35% dos fumantes desde 2010. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo IBGE, apenas 12,6% dos brasileiros consomem cigarros regularmente, contra os 60% que fumavam na década de 80.
Contra-ataque – O número de fumantes de cigarro comum continua diminuindo, mas o número geral de fumantes aumentou. É que nos últimos anos a indústria do tabaco tem conseguido uma vitória expressiva e devastadora com os Dispositivos Eletrônicos de Fumar (DEFs). Os cigarros e os dispositivos eletrônicos de tabaco aquecido vieram em substituição aos convencionais, numa criação da indústria tabagista, quando se observou que o mercado de usuários de cigarros convencionais havia diminuído no mundo. Os vapes estão proibidos no Brasil desde 2009. A normatização da Anvisa foi submetida a uma consulta pública, no final de 2023, e a uma nova reunião da diretoria colegiada da Anvisa, mantendo a proibição.
Mesmo assim, o consumo cresceu 600% nos últimos 6 anos, segundo dados do IPEC. 80% dos brasileiros que já usaram ou usam dispositivos eletrônicos para fumar estão na faixa entre 18 e 34 anos. A estimativa é de que 1 milhão de pessoas usam DEFs. 70% tem entre 15 e 24 anos.
A pneumologista Margareth Dalcolmo, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), pesquisadora da Fiocruz e referência nacional e internacional no estudo de doenças pulmonares, é uma das pioneiras na luta contra o tabagismo no Brasil. Ela aponta que os vapes podem ser considerados uma epidemia grave.
Evitável – Até os 75 anos de idade, 1 em cada 5 brasileiros deve desenvolver algum tipo de câncer. Mas a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que mais de 30% dos cânceres podem ser evitados com a adoção de um estilo de vida saudável. “São recomendações que servem não apenas para evitar o câncer de pulmão, mas para muitas outras doenças. Não fumar, ter uma alimentação saudável, praticar atividade física regularmente, não ser sedentário ou obeso, dormir bem e cortar ou pelo menos reduzir o consumo de álcool são medidas que mudam a vida para muito melhor, que todos precisam perseguir. Pelo menos 1/3 dos cânceres podem ser evitados com essas medidas”, afirma Iury Burlamaqui.
31 de maio – Dia Mundial sem Tabaco – A data foi criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) com intuito de alertar a sociedade sobre os riscos do tabagismo para a saúde. Há mais de 50 doenças relacionadas ao vício de fumar.