A Copa teve uma abertura bem bonita. O desfile de mascotes e a apresentação de canções dos Mundiais anteriores deram ao evento um ar nostálgico, criando com sucesso a expectativa para a bola que logo estaria em jogo.
Um acerto e tanto do ponto de vista estratégico do país-sede para desviar, ao menos momentaneamente, o foco das críticas por toda a questão dos direitos humanos e demais polêmicas, já que a Copa mexe bastante com o nosso lado sentimental. Primeiro dia, só queríamos nos divertir e ver uma pelada de respeito.
Desejo atendido, pois foi basicamente o que assistimos. Especialmente porque o Qatar não é time de Copa, é de um joguinho de confraternização entre solteiros e casados de um escritório qualquer. Inclusive, estranhei demais o goleiro Saad Al-Sheeb não ostentar uma pancinha. Não combinou com o personagem. Pelo menos ele poderia justificar sua atuação horrorosa na partida.
Não que o Equador seja uma máquina, mas óbvio que se trata de um time de futebol, o dos solteiros, que se reúnem todo fim de semana para jogar, não são barrados por compromissos com suas esposas, afazeres domésticos ou obrigações com os filhos. Têm preparo físico e conseguem trocar passes, dar sequência às jogadas.
O equatoriano Enner Valencia, claro, aproveitou e fez logo três gols, mas só dois valeram. O de pênalti confirmou a minha teoria. A calma com que ele cobrou não cabe em um jogo de abertura da Copa do Mundo, com milhões de pessoas assistindo. Certeza absoluta que a mente dele se transportou para um quintal de fábrica ou para um campinho em Mosqueiro, seja lá onde estava ocorrendo o churrasco de confraternização da firma.
Já o segundo gol foi daqueles de se contar vantagem a semana inteira durante a pausa do cafezinho. A impulsão, o movimento do cabeceio tirando do goleiro. Lindo. Deu até para empolgar. Mas 45 minutos nesse ritmo foi demais. No intervalo, a torcida levantou o coro para protestar contra o governo do Qatar, mas que existe em todo jogo de solteiros contra casados: “Queremos cerveja”.
Em apoio, os jogadores resolveram não jogar o segundo tempo, que foi só enrolação. Ao que parece, todo mundo, na arquibancada e em campo, só pensava em tomar umas. Para se ter uma ideia, até o Qatar quase fez um gol com Muntari no finalzinho, vejam só! Seria o apogeu do time dos casados. Mas não foi dessa vez.
*
A coluna Crônicas da Copa é assinada pelo jornalista Carlos Eduardo Vilaça, editor do caderno Bola.