Matheus Miranda
Não há mais dúvida no meio dos apaixonados pelo futebol: o torcedor brasileiro está completamente ‘copado’ após a estreia imponente da seleção brasileira na Copa do Mundo do Qatar, na última quinta-feira (24), ao vencer com contundência a Sérvia, por 2 a 0, pela rodada inaugural do Mundial 2022. O duelo permitiu à população seguir otimista na conquista pelo hexacampeonato mundial depois de a equipe passar com propriedade pela sua primeira adversidade. Mas, os 90 minutos frente aos sérvios, encerrados com o sentimento de felicidade e alívio, no começo, contou com mistura de aflição e nervosismo, um alerta importante para o cuidado do coração dos torcedores mais frágeis, visto que cada partida brazuca será um verdadeiro teste para cardíaco daqui pela frente.
O resguardo em meio à euforia e celebração tem fundamento. Um estudo realizado por especialistas da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto (SP), aponta um aumento de 4% a 8% em casos de infarto em jogos do Brasil na Copa do Mundo, com base nos dados dos Sistemas de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS), gerenciado pelo Ministério da Saúde. O motivo é a alta carga de intensidade de emoção ao somar-se a um coração enfraquecido ou que já esteja doente. O levantamento foi realizado entre a Copa do Mundo da França, em 1998, e a Copa do Mundo da África do Sul, em 2010.
Wellington Barata, de 27 anos, que se enquadra na categoria ‘torcedor raiz’, não esconde que, quando o assunto em questão é futebol, toda emoção vai ao extremo. Em relação ao Brasil e a Copa do Mundo, o sentimento triplica visto a bagagem do ‘Brasa’ na história dos mundiais e o seu favoritismo a cada edição. O choque de sensações, nesse sentido, é inevitável. “Em um jogo como o da estreia, pelo fato de enfrentarmos uma seleção muito capacitada, que passou nas Eliminatórias como líder de sua chave e fazendo bons jogos, já bate o nervosismo antes mesmo do jogo. O peso de acompanhar a estreia também faz a diferença em alguns momentos”, disse.
A montanha-russa de emoção durante a semana de estreia da Copa do Mundo Qatar, com picos no jogo do Brasil, foi comprovado nas redes sociais através de memes e postagem dos torcedores ansiosos por gols do time, que se concretizou no segundo tempo. Wellington Barata reforça. “A ansiedade pré-jogo é complicada. A gente passa a noite acordado imaginando diversas possibilidades que podem acontecer no jogo. Isso acaba me deixando um pouco pilhado”, diz.
Jeito de torcer já está adaptado à pressão
Torcer em alto e bom som em dias de jogos de futebol é algo enraizado no torcedor brasileiro, independente da forma e o jeito que for emanada as energias positivas ao time de coração ou seleção brasileira. A aposentada Aurora Mendonça, de 80 anos, hipertensa, tem dois métodos de torcida para amenizar a alta carga de emoção em dias de jogos: acompanhar o desenvolvimento das partidas pelo rádio ou assistir somente à reta final dos jogos de seu interesse. “É muita pressão. O tempo demora a passar, então não consigo ficar quieta. Ligo o rádio, desligo, escuto um pouco. Quando é final de campeonato é só final de jogo. Às vezes fico rezando esperando o melhor para o time”, conta.
Apesar da pressão alta, a torcedora, que está controlada com o seu quadro, já se acostumou com o estilo de torcida. Para Aurora, o seu estilo diferenciado é até benéfico em sua avaliação. “Não incomodo ninguém. Vejo o pessoal torcendo, me animo, saio, depois volto, pergunto como está a partida. Se estivermos ganhando, eu grito, comemoro junto. Se tiver perdendo pego o terço e rezo para ajudar”, relata.
Especialista alerta sobre os cuidados para cada situação
Apesar do alerta com a saúde em dias de jogo do Brasil em Copa do Mundo, é extremamente normal acompanhar cada partida de maneira tranquila em meio à alta carga de emoção. O médico cardiologista Antônio Monteiro respalda. “Tudo depende da condição do torcedor. Se tiver princípio de infarto ou arritmia, precisa saber se a sua condição está controlada para receber uma carga emocional além da normal. Se a condição estiver controlada, tudo ok, não há restrições em acompanhar as partidas de futebol”.
O profissional da medicina aponta cuidados, também. “Agora, se tem uma complicação maior, não se sentir seguro, o jogo pode acarretar em um perigo maior”, esclarece o especialista. As consequências pela falta de um cuidado, nesse sentido, podem ser fatais. “É necessário saber de fato sobre a sua situação. Podem gerar terminações em frequência cardíaca além do normal nas células do coração e desencadear uma morte súbita”, destaca.
Com jogos realizados todos os dias e com a magia da Copa do Mundo em cativar a emoção do público a partir do jogo mais comum ao mais aguardado, o médico cardiologista deu orientações para uma torcida saudável e responsável. “Fica até um complemento que se de fato a pessoa souber que tem alguma doença no coração e queira ver o jogo, é tentar ter um autocontrole. Caso a emoção esteja em excesso ou um jogo difícil, sair do ambiente, tomar uma água, tentar respirar”, reforça.