Diário no Qatar

Preocupação brasileira com prêmio de melhor do mundo é estúpida (Coluna do PVC - 12/12)

Neymar estreou no Santos no dia 7 de março de 2009, aos 17 anos, sob uma pergunta: “Quando ele será o melhor do mundo?” Ficou maior de idade, chamado de menino Ney, foi pai, seguiu chamado de menino Ney, e ouvindo: “Quando o Brasil vai voltar a ter o melhor do mundo?”.

Questão estúpida! Quem a repete somos nós, jornalistas. A um questionamento neurótico, uma resposta nervosa: quando o Brasil for campeão de novo, ora! Pode demorar, como se percebe pelo escandaloso fato de só um jogador de clube sul-americano ter feito gol nesta Copa. Dois do Campeonato Croata marcaram, Livaja e Bruno Petkovic.

Parece que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas o Brasil nunca foi campeão tendo mais convocados fora do que dentro do país. Em 2002, eram 13 de times brasileiros e 10 na Europa. Em 1994, 11 a 11. A primeira vez da seleção em Copas com um “estrangeiro” foi em 1982, Falcão, da Roma, e Dirceu, do Atlético de Madrid.

Só a França foi campeã tendo mais convocados no exterior. Futebol reflete cultura. Um jogador formado no Santos é diferente de alguém cuja formação terminou no Real Madrid. Rodrygo sempre será diferente de Neymar. Para o bem e para o mal.

Hoje, não dá para convocar quem joga o Brasileiro sem um ponto de interrogação na cabeça. Ninguém tem certeza de seu nível, principalmente depois desta Copa, em que Everton Ribeiro e Pedro não aproveitaram os poucos minutos que tiveram. Em que só um jogador da América do Sul fez gol.

Voltamos à observação neurótica. O Brasil não tem o melhor jogador do planeta desde Kaká, em 2007. E que importância tem isso, diante do fato de que a seleção não ganha a Copa do Mundo há mais tempo?

Gustavo Kuerten foi o número um do ranking do tênis por 43 semanas, a última em novembro de 2001. O Brasil foi o primeiro no futebol em 30 de junho de 2002, quando venceu a Alemanha, em Yokohama.

Nunca mais depois disso.

Neymar não foi e não será o melhor do mundo, salvo se houver um acidente da natureza de fazê-lo ser maior do que Messi ou Mbappé numa hipotética conquista do Paris Saint-Germain na Liga dos Campeões. Ou se fizer uma Copa do Mundo como a de Messi no Qatar, daqui a quatro anos, aos 34.

Improvável.

O que torna a pergunta ainda mais tola.

Neymar está na história do futebol por diversos motivos. Ajudou o Santos a recuperar a Libertadores, foi campeão e artilheiro da Liga dos Campeões – o único junto a Messi e Cristiano Ronaldo em 11 anos – e a mais cara transferência de todos os tempos.

A França sofreu para ganhar da Inglaterra, seu jogo mais dolorido, vencido com Mbappé marcado e Griezmann dando o passe para Giroud decidir.

Nenhum francês está, neste momento, perguntando quando seu camisa 10 será eleito o melhor do mundo. A razão não é Benzema ter vencido a Bola de Ouro, da France Football, neste ano. A preocupação é ganhar o terceiro título.

A França é a favorita. Apesar de Messi, o melhor jogador do século 21.

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Paulo Vinicius Coelho é jornalista, autor de ‘Escola Brasileira de Futebol’, cobriu seis Copas e oito finais de Champions