Diário no Qatar

Messi se afirma como o dono da Copa (Coluna do PVC - 14/12)

Messi já começou a semifinal recordista e não apenas de jogos em Copas do Mundo, empatado com Lothar Mathäus. Venceu 16 de suas 25 atuações, duas a mais do que o alemão, campeão mundial de 1990 numa final contra Maradona. Ninguém ganhou mais jogos em Mundiais do que Messi, e é impressionante vê-lo, à margem do campo, com sangue nos olhos.

Ele está assim.

Parece disposto a ser campeão a todo custo. É ele quem rege sua equipe e sua torcida em movimentos coordenados, ora atrás dos volantes, ora arrastando zagueiros e dando passes decisivos, como o do terceiro gol, marcado por Julián Álvarez.

No início, a Croácia estava melhor, trocava passes, no ritmo de Brozovic, Modric e Kovacic, seu meio de campo. O espaço estreito entre os zagueiros Lovren e Gvardiol e o primeiro meio-campista, Brozovic, tirava de Messi a naturalidade com que joga entre as linhas de defesa e volantes.

Até que, aos 21 minutos, ele recebeu no círculo central, e seu primeiro drible deu a senha para a confiança do time. Três minutos depois, Enzo Fernández acertou o primeiro chute, rebatido por Livakovic.

Não foi uma partida fácil, diferentemente do que pode parecer para quem vê o resultado final. MacAllister achou passe preciso para Julián Álvarez sofrer pênalti.

Foi assim que Messi marcou seu 11º gol em Copas, um a menos do que Pelé, um a mais do que Batistuta. Cinco minutos depois, o maior goleador argentino em Mundiais começou a jogada do gol de raça marcado por Julián Álvarez.

A essa altura, o estádio já estava tomado pelo canto da torcida argentina, que veio a Doha de todos os cantos de seu país. Tandil, Córdoba, Mar del Plata, Mendoza, Buenos Aires. Ouvem-se todos esses nomes nos vagões de metrô lotados por hinchas.

“Muchachos, ahora que volvimos a ilusionar, quiero ganar la tercera, quero ser campeón mundial / Y a Diego. Desde el cielo lo podemos ver. Com Don Diego y la Tota, alentandólo a Lionel.”

Tota era dona Dalma, mãe de Maradona que, pela letra da canção, está junto ao filho incentivando Lionel Messi. Agora que voltaram a sonhar, querem ser campeões mundiais.

Só Argentina e Marrocos têm torcidas de verdade no Qatar. Os árabes torcem pelos marroquinos e alguns levam bandeiras da Palestina aos estádios. Havia pelo menos uma, atrás do gol em que Messi e Julián Álvarez marcaram no primeiro tempo.

Mais do que seu 11º gol em Copas, Messi presenteou Julián Álvarez com seu sétimo passe decisivo, terceiro no Qatar. Significa que o melhor jogador do século 21 deixou o estádio Lusail como recordista de jogos e de vitórias em Copas, como artilheiro e líder de assistências neste Mundial.

É realmente impressionante que Messi faça sua melhor participação em Copas do Mundo num país em que se reverencia Alá curvando o tronco em direção ao chão.

Os torcedores no Qatar têm feito este mesmo movimento, mas para dizer Meeeeessi, Meeeeeeesi, Meeeeeeesi!

Não vai ser fácil Mbappé e a França serem melhores.

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Paulo Vinicius Coelho é jornalista, autor de ‘Escola Brasileira de Futebol’, cobriu sete Copas e oito finais de Champions