Diário no Qatar

Mais uma final de Copa do Mundo (Coluna do Juca Kfouri)

Foto: Fifa/Divulgação
Foto: Fifa/Divulgação

O jogo no estádio Lusail é de fato imprevisível e tem tudo para ser sensacional

Das dez Copas do Mundo em que estive, deixei de ver, no estádio, duas decisões: a de 1986, no México, e a de 2006, na Alemanha.

Explico: a entre Argentina e Alemanha deixei de lado porque, vítima do chamado Mal de Montezuma antes da eliminação do Brasil pela França, nos pênaltis, estava fraco física e psicologicamente. Preferi voltar e ver na TV.

Em 2006, entre Itália e França, não consegui ingresso e vi no hotel.

A de 1982, quando a Itália ganhou da Alemanha, e virou tricampeã, vi ainda lamentando por Sarriá. A festa era dos outros.

Em 1990, em Roma, quem comemorou foram os alemães, fruto de pênalti inexistente contra a Argentina.

Já em 1994, no primeiro tetra em jogo, deu Brasil, em jogo horroroso e cobranças de pênalti não menos dos italianos, na Califórnia. Enfim, de corpo presente, comemorei.

Como estava no Stade de France, em 1998, para testemunhar o massacre francês ao som da Marselhesa sobre a traumatizada seleção brasileira.

Em 2002, quando o Brasil voltou a ganhar e virar pentacampeão, vi em casa mesmo, porque preferi sentir a Copa no Brasil, de madrugada, dados os horários asiáticos.

Até então, tirante, é claro, as três decisões com brasileiros, não tive preferência nem torci para ninguém.

Por compaixão, em 2010, na África do Sul, desejei ver a Holanda ser campeã pela primeira vez, mas a Espanha levou a melhor. Tudo bem, Iniesta e Xavi mereceram.

No Maracanã, em 2014, queria muito ver a Argentina campeã, mesmo que ouvisse de todos o alerta sobre a gozação dos hermanos se vencessem em pleno Rio.

Ora, não padeço da Síndrome de Berlim, nem da de Estocolmo, para torcer por quem nos havia enfiado 7 a 1 e nos submetido a maior humilhação esportiva de todos os tempos.

Em vão, deu Alemanha.

Finalmente, em 2018, em Moscou, entre França e Croácia fiquei com o mais fraco e me dei mal, de novo.

Acho que torcerei pela França, neste domingo (18), porque quero ver Lionel Messi levantar a taça.

Não que Mpabbé e Griezmann não mereçam porque merecem é muito. Mas ninguém como Messi.

Primeiramente porque os dois franceses já foram, quatro anos atrás, e Messi ainda não, além de ter sua derradeira chance.

Kylian Mpabbé, 23 anos, tem, no mínimo, mais duas Copas, se não três, com 34 anos, um a menos do que o argentino tem hoje.

Além do mais, ninguém cometerá a heresia de botar em dúvida a capacidade extraordinária do franco-camaronês, o que provavelmente alguém fará em relação a Lionel Messi caso não ganhe o título.

Respeitemos, pois, a ordem natural das coisas, embora o futebol não seja exatamente um esporte chegado a tal racionalidade.

O jogo no estádio Lusail é de fato imprevisível e tem tudo para ser sensacional, duelo ao cair da tarde, ou ao subir da noite, neste Qatar onde o sol se põe antes das 17 horas em dezembro.

Sem a concorrência do astro-rei, quem brilhará mais, Messi ou Mpabbé?

Enfim, em minha oitava final presencial, é triste constatar que só por duas vezes vi o Brasil em decisões, uma com vitória depois de 120 minutos terríveis e sem gols, e outra na acachapante derrota por 3 a 0 para os franceses.

Arrentina, Arrentina!

JANIO DE FREITAS
Já contei aqui e repito: quando vim para esta Folha, em 1995, seu Frias pesou no vaticínio: “Será o nosso Janio de Freitas no esporte”.

Não fui, não sou, não serei.

Quem nasceu para ser eu jamais será Janio de Freitas.

 

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Juca Kfouri
Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP