Diogo Dantas/Agência O Globo
T reze anos separam Julián Álvarez, 22, de Messi, 35. Aos 11 anos, o menino revelado pelo Club Atlético Calchín, de Córdoba, parecia seguir caminho parecido com o do ídolo, que foi para a Espanha muito cedo. Fez testes no Real Madrid, chamou atenção, mas decidiu voltar para a Argentina, pois, para ser contratado ainda menor de idade, precisaria se mudar com toda a família. Álvarez, então, retornou para o clube de sua cidade natal, onde gravou um vídeo em que afirmava que seu sonho era jogar uma Copa do Mundo.
Na sequência, cumpriu as etapas que levam as grandes promessas argentinas para a Europa. Por caminhos diferentes, admirador e ídolo se encontraram na seleção e agora unem seus talentos em busca do tricampeonato mundial.
Álvarez chegou a ser observado no Boca Juniors e no Argentinos Juniors, mas despontou no River Plate, sob o olhar do técnico Marcelo Gallardo. Em 2011, em meio aos seus primeiros testes, o garoto conheceu Messi durante a Copa América realizada na Argentina. Na ocasião, o craque havia faturado a Liga dos Campeões e o Mundial de Clubes pelo Barcelona de Pep Guardiola, o mesmo treinador que hoje orienta Álvarez no Manchester City. Em 2018, o atacante atuou como “sparring” nos treinos da seleção na Copa do Mundo da Rússia, completando o elenco por fazer parte da seleção sub-20.
Assim, se aproximou de Messi meses antes de surgir como opção de Gallardo na segunda partida da final da Libertadores em que o River derrotou o arquirrival Boca, em 2018.
“Messi é meu ídolo desde criança. É um herói para mim”, afirmou o “Aranha”, como ficou conhecido pela capacidade de manter a bola grudada nos pés.
Aos poucos, o jovem atacante foi ganhando espaço no River Plate, clube pelo qual consquistou títulos nacionais e sul-americanos, entre eles a Copa Libertadores, a Copa Argentina, a Recopa Sul-Americana e a Supercopa Argentina, além do Campeonato Argentino e o Troféu dos Campeões. Em maio deste ano, pela Libertadores, marcou seis vezes na goleada do River por 8 a 1 sobre o Alianza Lima, do Peru, no Monumental de Núñez. Pelo clube, fez 122 partidas, totalizando 54 gols e 31 assistências, números que lhe propiciaram convocações para a seleção e, na sequência, o passaporte para o futebol europeu.
Álvarez estreou pela seleção em junho do ano passado, em jogo contra o Chile pelas Eliminatórias. Logo depois, fez parte do grupo que conquistou a Copa América ao bater o Brasil no Maracanã, encerrando um jejum da Argentina de 28 anos sem títulos. Com destaque no River e na seleção, o atacante acabou negociado por 18 milhões de euros (cerca de R$ 101 milhões) ao Manchester City.
No Qatar, ele segue com trajetória vencedora. Chegou como reserva, mas precisou de pouco tempo em campo para ganhar a posição e deixar no banco Lautaro Martínez e Di María. Depois deixar sua marca contra Polônia e Austrália, quando foi titular, se reafirmou nas quartas de final diante da Croácia, com muita entrega e dois gols, tornando-se, assim, o mais novo a marcar duas vezes numa semifinal desde Pelé na Copa de 1958.
Neste domingo, contra a França, Álvarez terá a oportunidade da consagração definitiva. Medirá forças com Mbappé, que é um ano mais velho e vai para a sua segunda final de Mundial. É fato que o estreante argentino não tem a mesma experiência do adversário, mas, com seus quatro gols, está a apenas um de igualar Mbappé e Messi, que dividem a artilharia da competição. No total, o camisa 9 soma sete gols em 18 jogos pela Argentina.
Filho de um ex-caminhoneiro e uma professora de escola infantil, Álvarez vem de uma família de classe média de Córdoba. Ele tem dois irmãos e sempre se mostrou um garoto tranquilo e dedicado, segundo a família.
Seus primeiros passos no futebol foram dados sob a tutela do observador Hugo Rafael Varas, que vendia empanadas e largou um cargo na prefeitura da cidade para abrir uma escolinha de futebol. Ele levou Álvarez com apenas 7 anos para a Futura Estrellita, de onde o menino seguiu para o Calchín e, de lá, para o poderoso River. Quando convidado para testes no Real Madrid, o atacante conheceu os ídolos Higuaín e Di María, este seu colega na seleção. No Qatar, Julián Álvarez pediu passagem e pode fazer a diferença na decisão.