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Juca Kfouri - Quem tem medo da Coreia do Sul?

Coreia do Sul. The KFA
Coreia do Sul. The KFA

Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

 

A pergunta do título parece arrogante, a tal da superioridade aqui já mencionada. Por dever de coerência, mas, sobretudo, de avaliação, a resposta é: “Eu tenho medo da Coreia do Sul”.

Se fosse a do Norte o medo seria em dobro, por sua peraltice na Copa da Inglaterra, em 1966, quando eliminou a Itália, ao vencê-la por 1 a 0, e fez a Azzurra desembarcar no aeroporto de Fiumicino, em Roma, chamada de mercenária.

A vitória quase se repetiu no jogo seguinte, contra Portugal. Os comunistas chegaram a fazer 3 a 0 em 24 minutos de jogo, mas Eusébio, o Pelé europeu, fez quatro gols e os lusos acabaram vencendo por 5 a 3.

Medo em dobro porque ser comandado por Kim Jong-un deve ser dose.

A Coreia do Sul é menos amedrontadora e saco de pancadas da seleção brasileira, seis derrotas em sete amistosos, com uma única vitória por 1 a 0, nos acréscimos, em 1999. A seleção tinha Vanderlei Luxemburgo no comando, Rogério Ceni, Cafu, Juninho Pernambucano, Zé Roberto, Amoroso, Rivaldo, ou seja não era um catado qualquer, mas o jogo foi muito ruim e o gol um acidente.

Mais ou menos como o de Camarões, na partida que acabou com a invencibilidade brasileira e impôs o desafio de pela primeira vez ser campeão sem estar invicto. Repita-se, na campanha do pentacampeonato foram 28 vitórias e quatro empates.

Referências históricas são referências históricas e nada além de referências históricas.

A primeira derrota brasileira para seleção africana em Copas do Mundo está sendo tratada como mancha no currículo de Tite, um evidente exagero fruto exatamente da arrogância.

Não deixa de ser irônico ter a seleção vencido os dois europeus que teve pela frente e perder para um africano, com a missão, agora, de não perder pela primeira vez para time asiático em Copas do Mundo, porque, daí, voltará para casa.

Mas é bom lembrar que a seleção tetracampeã em 1994, nos Estados Unidos, foi a que sofreu a primeira derrota nas eliminatórias, para a Bolívia, em La Paz, por 2 a 0, com Taffarel bêbado pelos efeitos da altitude já no fim do jogo, depois de até pênalti ter pegado.

Certamente Carlos Alberto Parreira não está na história do futebol brasileiro por causa dessa derrota, a primeira em 40 anos e 31 jogos.

Tite também não estará pelo insucesso se o hexa vier, mas, para isso, primeiramente é preciso vencer a ameaça sul-coreana, sem levar em conta a goleada de 5 a 1 em junho passado, porque naquele dia eles tiveram a ingenuidade de querer jogar de igual para igual –além de o time desta segunda-feira (5) ser outro.

De tudo, o mais preocupante, depois de três jogos, é que parece cada vez mais distante a realização do sonho do treinador, de ir além da conquista do título, de também recuperar a imagem do futebol bonito do Brasil.

Dos 270 minutos disputados, apenas os 45 finais contra a Sérvia foram convincentes e, por mais que se dê o desconto da correta escalação dos reservas contra Camarões, o desempenho decepcionou, porque não eram quaisquer reservas, quase todos titulares em seus times europeus.

Às vezes pinta a dúvida sobre até que ponto o fim dos chamados treinamentos coletivos faz mesmo sentido, porque não permite entrosar o segundo time.

Telê Santana abominaria a novidade, pois era nos coletivos que corrigia posicionamentos e até ensinava fundamentos, por mais que treinasse jogadores consagrados.

Mas isso são outros 500.

Cuidado com a Coreia do Sul.