Diário no Qatar

Fechado por motivo de futebol (Coluna Crônicas da Copa) - 20/11)

Fechado por motivo de futebol (Coluna Crônicas da Copa) - 20/11)

Pego emprestado o título do livro do mestre Eduardo Galeano para abrir essas crônicas da Copa do Mundo. Durante um mês, pretendo sentar na minha poltrona favorita e me transportar para as arquibancadas do Qatar. Infelizmente, por razões profissionais, nem sempre com uma cerveja na mão, como fazia o escritor uruguaio, por isso espero que os próprios jogos sejam tão empolgantes que me tirem da sobriedade e me façam ficar naquele estado de feliz embriaguez.

O bom da Copa é que por “jogos empolgantes” você pode presumir diversas coisas que não necessariamente uma partida estupenda de futebol. Às vezes trata-se de um único lance. Um fortuito minuto perdido dentro de outros noventa aborrecidos, mas que salva o dia, que faz história, e daqui a alguns anos é dele que você irá lembrar. Ou, quem sabe a trajetória de um jogador, um drama pessoal superado. Tudo é válido. Mais do que isso. É mágico.

Tenho as minhas expectativas. O hexa do Brasil, claro, é a principal. Mesmo com Neymar sendo a pessoa insuportável que é, ainda há motivo para torcer. Um em especial: após um tempo difícil na história do país, com ode à ignorância e à truculência, vemos no horizonte a esperança de normalidade e progressos sociais, e um título mundial seria a coroação desse novo momento histórico, quem sabe com uma reaproximação da seleção com o povo, uma relação que sempre foi tão bonita e estremeceu tanto nos últimos anos.

O próprio time brasileiro ajuda nesse aspecto. Tite conseguiu fazer da seleção, em que pese a falta de testes contra europeus, uma equipe competitiva, que dá gosto de ver. Muito disso pelo resgate de uma tradição ofensiva, expressada até pelo número de atacantes convocados para a Copa: nove. A seleção tem opções de jogo, variações táticas, o que há tempos não se via. Não é favorita absoluta, mas é uma das cotadas, sem dúvida.

Além disso, Messi e Cristiano Ronaldo vão para a última Copa de suas brilhantes carreiras. É a taça que lhes falta para os seus fãs amplificarem o coro de que eles são, de fato, os maiores jogadores do mundo – Pelé, perdoai, eles não sabem o que falam. De todo modo, vê-los em campo, daqui a pouco, não será mais possível.

Foram 15 anos no auge. E agora temos que aproveitar cada instante desse privilégio, desfrutar cada passe ou lançamento perfeito, aquele drible de corpo… Que um gol, ainda mais em um Mundial (CR7 pode se tornar o único na história a marcar em cinco Copas), seja motivo para contemplar o infinito e agradecer aos deuses da bola.

Mas essas são só as histórias principais. E nós sabemos que a Copa é pródiga em nos surpreender e revelar subtramas tão maravilhosas quanto o melhor causo que tenha ouvido ou livro de realismo fantástico que você já tenha lido na vida. É isso, gente, chega de conversa por hoje, que daqui a pouco tem Qatar e Equador. Vamos nessa?

 

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A coluna Crônicas da Copa é assinada pelo jornalista Carlos Eduardo Vilaça, editor do caderno Bola.