Diário no Qatar

De qual zebra estais a falar? (Por Sérgio Augusto)

Portugal jogou muito, se esforçou, mas encontrou pela frente um adversário aplicado e metódico. Foto: Fifa/Divulgação
Portugal jogou muito, se esforçou, mas encontrou pela frente um adversário aplicado e metódico. Foto: Fifa/Divulgação

Trinta anos atrás eu diria que foram duas zebras – e daquelas bem listradas. Afinal Portugal perder para a Coreia do Sul e o Brasil perder para Camarões já seriam situações inusitadas. Em Copas do Mundo, então, estaria iniciado o apocalipse, o armagedon do planeta bola.

Mas estamos em 2022 e agora as duas derrotas são resultados normais. Portugal perdeu de virada após marcar 1 x 0 antes dos cinco minutos de jogo. E o Brasil? Bem, o Brasil levou o gol após os 90 minutos, já nos nove minutos de acréscimos que o juiz deu (também achei tempo demais; parecia o primeiro tempo de uma prorrogação…).

Portugal jogou muito, se esforçou, mas encontrou pela frente um adversário aplicado e metódico. Perdeu vários gols e levou a virada quando todos já aguardavam o empate. O Brasil decepcionou. Perdeu também vários gols feitos e poderia ter liquidado a fatura por dois ou três de diferença.

Mas acomodou-se e perdeu para si mesmo. Já parece lenda urbana quando falamos que na Copa de 1994 o Brasil enfiou 3 x 0 em Camarões e, ainda assim, muitos acharam que naquele dia a seleção não jogou nada. Outros tempos, outros tempos…

Bem, sobre as zebras das perguntas lá em cima, a coisa é mesmo direta: algumas décadas atrás (nem tantas assim…..) “zebra”, no futebol, significava resultado improvável. Tipo um David vencer 11 Golias. Mas isso no tempo em que os jogadores de Coreia do Sul e Camarões eram praticamente amadores.

Hoje os caras jogam na Alemanha, Inglaterra, Itália, Espanha, França e enfrentam Cristiano Ronaldo, Messi, Mbappé, Lewandowski quase todos os dias. Globalizou geral e não existem mais favoritos. Tanto é que Alemanha e Uruguai, dois campeões do mundo, já estão fora da Copa do Qatar, a Argentina perdeu para a Arábia Saudita e muitas surpresas ainda estão por vir (o VAR que não me ouça…ou leia).

Em Portugal, a rotina nas ruas segue a mesma, afinal os 11 liderados pelo CR7 já estão classificados para a fase do mata-mata mesmo. Mas já percebi novidades: muitas bandeiras vermelhas, brancas e verdes a tremular nas janelas. A turma aqui começou a se animar, ainda que discretamente. O futebol é, sim, um esporte de multidões nos lados de cá, mas com moderação e responsabilidade, é claro.

Aquela cerveja bem gelada do Brasil aqui é chamada de “fino”. É um chope “de leve”. As celebrações são mesmo na base do vinho e aqui estão alguns dos melhores e mais saborosos do mundo. Tradicionalmente não tem farofa e o tira-gosto é um camarãozinho ou frango empanado. Em 1966, Portugal tirou o Brasil da Copa e ficou em terceiro na classificação geral.

Dessa vez, e apesar do entusiasmo mais contido, já são numerosos os portugueses que dizem que este ano o troféu de campeão vem para Lisboa. Provavelmente é a última Copa do Mundo do CR7 e para ele, que já ganhou tudo, só falta a taça de campeão do mundo por Portugal. (Cá entre nós: ele merece…e o futebol também).

E assim já se foi metade da Copa do Qatar. Mais duas semanas e vamos saber quem vai ostentar a taça pelos próximos quatro anos. Até lá as zebras devem reservar mais algumas surpresas (???????) aqui e acolá. Câmbio, desligo!

 

*

Sérgio Augusto é jornalista, paraense e radicado em Portugal.