Diário no Qatar

Copa serve como "preliminar" para confraternizações de fim de ano

Nildo Lima

Desde que o apito inicial soou para a abertura do Mundial do Qatar, no último dia 20, uma velha tradição voltou a ser praticada em vários lares brasileiros, com o encontro de familiares reunidos em frente ao aparelho de TV para assistir e torcer pelo escrete nacional, cuja estreia foi positiva, com a vitória sobre a Sérvia. São pais, filhos, tios e avós juntos em uma mesma torcida, num encontro que é transmitido de geração para geração e registrado a cada quatro anos. Em Belém e em outras cidades do Estado não é diferente, com famílias inteiras tendo o pensamento único de torcer, ainda que de longe, pelo escrete nacional no Mundial.

Quase sempre vestindo a camisa verde e amarela ou outro traje nas cores da seleção brasileira, foi fácil encontrar, na capital paraense, na última quinta-feira, no primeiro jogo do time do técnico Tite, famílias paraenses em um bate-papo saudável enquanto aguardavam pelo começo da partida entre Brasil e Sérvia. Bastou a bola rolar e a TV passou a reinar absoluta como centro das atenções. Os dois gols marcados por Richarlison fez com que os abraços fossem trocados entre familiares. Uma cena que todos esperam repetir nos próximos jogos da equipe canarinho.

O aposentado Carlos Augusto Noronha da Silva, de 70 anos, é um dos paraenses que faz questão de assistir aos jogos ao lado da família. “Já se tornou uma tradição”, conta ele. “É um momento, como o Natal, a festa de final de ano e o Círio, no qual a gente tem a oportunidade de se reunir com as pessoas da família. Isso é muito legal. Uma pena que aconteça apenas de quatro em quatro anos”, diz seu Carlos, esposo de dona Elza, com quem tem cinco filhos, pais de seis netos do casal, todos reunidos em uma das casas da rua Rodolfo Chermont, no bairro da Marambaia.

Na casa 2221 da rua 3 de Maio, no bairro da Cremação, assim como em tantas outras residências brasileiras, a Copa do Mundo também é sinônimo de reunião familiar. É lá que o eletricista Paulo Célio Evaristo, de 60 anos, reúne os parentes e amigos para assistir aos jogos e torcer juntos pela seleção, como na última quinta-feira, numa festa que varou pela madrugada em comemoração à vitória do time nacional. “Só fomos parar lá por uma hora da madrugada”, conta o marido da dona de casa Márcia Cristina Souza Santos, de 52 anos.

No distrito de Icoaraci, as ruas estavam praticamente desertas durante o jogo entre Brasil e Sérvia. Em contrapartida, famílias inteiras se reuniam na moradia de algum parente para acompanhar a estreia brasileira no Mundial. “Todos os anos de Copa do Mundo recebo os filhos, netos e outras pessoas da família para torcermos juntos pelo Brasil”, revela o engenheiro Luiz Otávio Malheiros, de 55 anos. “Nessa estreia do Brasil são mais de 20 pessoas que estão aqui para dar essa força à nossa seleção”, festejou Luiz, anunciando um novo encontro amanhã por ocasião do jogo com a Suíça. “É uma nova oportunidade de estarmos juntos outra vez”, salienta.

Parentes e amigos, todos juntos, fazendo a festa. Foto: Ricardo Amanajás / Diário do Pará

Mudança no calendário da Copa agradou a galera

Para o eletricista Paulo Célio Evaristo, a mudança no calendário da Copa do Mundo, transferida da metade para o final do ano, não é algo ruim. O morador do bairro da Cremação argumenta que o início do Mundial em novembro, com o final em dezembro, “serve como uma preliminar” para as festas de final de ano. “A gente já segue comemorando, ainda mais se o Brasil for hexacampeão”, diz. Ele e a esposa, Márcia Cristina Souza Santos, receberam, na quinta-feira, na casa do casal, a visita de cerca de 30 pessoas, boa parte delas parentes.

Paulo Célio diz ter ficado contente com a estreia do Brasil no Mundial e, também, por mais uma possibilidade de estar ao lado dos filhos, cunhados e de outros parentes. “Essa é uma coisa positiva que a Copa nos proporciona, a de reunir pessoas que gostamos com o mesmo objetivo de torcer por nossa seleção”, observa. Como em época de Natal e festa de troca de ano, o eletricista também prepara algum tipo de alimento que serve aos convidados. “A gente tomou aquela cervejinha, acompanhada de um bate-papo e, claro, churrasco e sopa, consumidos antes, durante e depois do jogo”, explica.

Sobre a estreia da seleção brasileira, Paulo Célio afirma ter ficado satisfeito com a primeira apresentação do time. “Acho que a equipe brasileira foi bem”, avalia. “A atuação do grupo foi boa e o placar de 2 a 0 justo”, analisou o eletricista, já se preparando para a partida de segunda-feira, contra a Suíça. “Ao longo de toda a Copa a gente vai estar sempre reunido. No próximo jogo também estaremos juntos mais uma vez se Deus quiser”, diz Paulo Célio, que promove todos os anos uma ação filantrópica, com a entrega de brinquedos no dia de Natal para as crianças carentes.