LUCIANO TRINDADE/FOLHAPRESS
Faz 20 anos desde que uma seleção europeia foi derrotada na final de uma Copa do Mundo. Foi em 2002, ano que o Brasil liderado por Ronaldo e Rivaldo venceu a Alemanha e conquistou o penta, na competição realizada na Coreia e no Japão.
Depois disso, as nações do Velho Continente deram início a domínio inédito no Mundial. Em suas últimas quatro edições, somente os europeus foram campeões -França (2018), Alemanha (2014), Espanha (2010) e Itália (2006). Nunca houve um período tão grande com predomínio de um continente.
Nas quatro Copas realizadas neste século, foi difícil até mesmo furar a barreira das semifinais para chegar às decisões. Apenas Brasil e Argentina conseguiram, em 2002 e 2014.
Considerando as oito semifinais deste período, foram 15 presenças de seleções europeias, quatro de sul-americanas e apenas uma asiática. A Europa praticamente virou a dona da competição. Bem diferente do que ocorria no século passado.
Se uma edição era vencida por uma seleção sul-americana, a outra, geralmente, ficava com uma europeia e assim sucessivamente. A regra só foi quebrada duas vezes, quando o mesmo país conquistou o título de forma consecutiva. A primeira delas foi com a Itália (1934/1938), e a segunda com o Brasil (1958/1962).
É difícil apontar o quanto um histórico negativo pesa sobre uma equipe, mas é evidente que, para o Brasil voltar do Qatar com a conquista do sexto troféu, a seleção vai ter trabalho para quebrar a atual hegemonia estabelecida pelos europeus.
Apesar de não ter conseguido voltar à decisão desde a conquista de 2002 e de ter visto Itália e Alemanha, com quatro títulos cada um atualmente, terem diminuído a diferença para o Brasil, o time canarinho ainda é o que mais venceu o torneio, marca que segue impondo respeito.
Além disso, o elenco liderado pelo técnico Tite chegará ao Oriente Médio embalado pela ótima campanha na disputa das Eliminatórias. A equipe passou pelo classificatório invicta, com 14 vitórias e 3 empates.
Fez, ainda, 40 gols e sofreu somente cinco, reflexo de um sistema defensivo sólido, que terá como os seus pilares no Qatar os zagueiros Thiago Silva, Marquinhos, Éder Militão e Bremer.
No ataque, Neymar, com oito gols, Richarlison, com seis, e Raphinha, com três gols, foram os destaques.
Os bons resultados também foram vistos nos amistosos. Neste ano, a seleção encarou quatro adversários que estarão na Copa (Japão, Coreia do Sul, Gana e Tunísia) e venceu todos eles.
Mais que isso, apenas contra os nipônicos a vitória foi por apenas um gol de diferença. No total, foram 14 gols marcados e apenas dois sofridos somando os quatro confrontos.
Por outro lado, o técnico Tite lamenta o fato de não ter enfrentado seleções europeias de ponta durante o ciclo para a Copa no Qatar.
Desde a derrota para a Bélgica, nas quartas de final do Mundial na Rússia, por 2 a 1, o Brasil enfrentou só um adversário do continente, a República Tcheca, em um amistoso em março de 2019. Venceu por 3 a 1.
“Não ter enfrentado [times europeus de ponta] prejudica, sim, a seleção brasileira, mas também prejudica as equipes europeias”, afirmou o treinador do Brasil durante o anúncio dos convocados para a Copa.
De acordo com um dos auxiliares de Tite, Cléber Xavier, a comissão técnica também não teve tempo para analisar as principais equipes da Europa. “Paralelamente às nossas convocações, nós observamos muito Sérvia, Suíça e Camarões. O foco é em cima destas seleções. Não conseguimos olhar França, Alemanha, Inglaterra, Espanha, como adversários na frente.”
Enquanto isso, além das Eliminatórias, os europeus duelaram entre si na Eurocopa de 2020, realizada em 2021 por causa da pandemia, e também na Nations League.
É bem verdade, no entanto, que a ampla maioria dos jogadores que ele chamou atual em clubes europeus. Dos 26 da lista, 22 jogam por lá, três são de clubes brasileiros e um joga no México, na América do Norte.
Real Madrid (ESP), Juventus (ITA) e Manchester United (ING), cada um com três convocados, são os times que tiveram maior presença na lista de Tite.
O fato de ter boa parte do elenco acostumado a enfrentar os principais jogadores do mundo, sobretudo os europeus, ameniza a falta de confrontos diretos. Mas somente após a bola rolar no Qatar é que o Brasil vai poder mostrar que superou os fracassos recentes nas Copas e está pronta para voltar com o título.