Matheus Miranda
Daqui a exatos 11 dias, a seleção brasileira faz a sua tão aguardada estreia na Copa do Mundo do Qatar, contra a Sérvia, no Lusail Stadium. A comoção nas redes sociais para o pontapé inicial rumo ao hexa já toma conta dos torcedores. Mas, o Mundial 2022 conta com uma roupagem diferente em comparativo aos anos anteriores do maior torneio de futebol, que é quanto à simbologia da camisa titular canarinho, tradicional na cor amarela.
Por questões de ideologia política, o manto mais pesado do esporte passou a ser associado mais com o fanatismo político do que propriamente ao desejo de defender a seleção brazuca no gramado. Não à toa, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) fez campanha recente para ressignificar a camisa do Brasil, com o objetivo de conectar pessoas de todas as idades, lugares, cores, raças e ideologias ao futebol.
O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, chegou a destacar. “A Copa do Mundo é um momento de união. Nossa mensagem é de incentivo. O futebol não vive sem o torcedor. Todos podem se sentir bem com a camisa da seleção”, disse.
O espírito de fraternidade, contudo, não engajou na sua totalidade. Isso porque a procura pelas cores alternativas da seleção brasileira se faz presente na escolha dos torcedores acalorados. A camisa reserva, na cor azul, por sinal, foi esgotada com uma hora de venda quando colocada à disposição dos torcedores, no começo de agosto passado.
O geógrafo Reginey Martins, de 57 anos, por exemplo, vai inovar nas partidas da equipe no Mundial. O profissional vai vestir vermelho. O motivo, segundo Martins, é nobre.
“A camisa que vou usar no dia dos jogos do Brasil será vermelha. Ela não contém o escudo da CBF, mas uma referência ao movimento de resistência e a luta de operários e camponeses por uma sociedade mais justa e igualitária”, explicou, ao destacar, também, que as cores tradicionais da equipe tomaram direção contrária ao esporte. “A camisa amarela tradicional da CBF foi apropriada de forma política”, avalia.
DIAS MELHORES
Na expectativa pela volta olímpica brasileira e a sexta estrela bordada na camisa da seleção, Reginey Martins acredita que no futuro o manto possa ser unicamente associado ao esporte como era antigamente. Mas para isso, um alerta. “Quem defende uma sociedade mais justa, solidária, inclusiva e resiliente, deve lutar para que nossos símbolos nacionais sejam desvinculados de partidos políticos e ideias conservadoras. Espero que logo, logo, possamos estar usando a camisa amarela da seleção sem sermos confundidos com segmentos reacionários da sociedade”, pontuou.
Verde e amarelo, ou azul e branco? Tanto faz!
Em meio ao viés político e o amor à amarelinha, um ponto interessante no meio dos torcedores que vão acompanhar os jogos do Brasil trajados com o manto canarinho: o gosto por outras cores. O advogado Leonardo Ducas, de 43 anos, destacou que vai usar azul durante a participação brasileira do Mundial do Qatar pela preferência no tom, mas também, pela econômica.
O profissional entende o caminho que a representatividade da tradicional camisa acabou tendo com a política no país, mas manteve uma linha de análise.
“Essa questão da política envolvendo a camisa da seleção brasileira, bandeira, acho que ainda vai continuar por um tempo com essa apropriação que fizeram. Mas eu, em específico, vou usar azul, não por questão política, mas por que eu realmente não tenho condições de comprar uma camisa nova. A última que eu comprei foi a azul na Copa da Rússia, porque achei mais bonita. Se eu tivesse a amarela, usaria sem problema nenhum”, destacou.
Com uma grande parcela de torcedores que devem abrir mão da cor titular, Leonardo Ducas mostrou-se empático. “Entendo pessoas que ficam com receio de serem confundidas, e com razão, com esse aspecto político que temos hoje no Brasil de extrema-direita. Mas eu acho que é a nossa bandeira, nossa cor. Então ela não representa só uma parcela da população, representa a todos, ou deveria”, completou.
Escolhas por outros tons deve ser respeitada
Dada a polarização na sociedade brasileira, naturalmente a escolha por cores alternativas da seleção ao invés da amarela, ganhou uma grande proporção. Mas, independentemente de ideologia política, para alguns torcedores, a ‘amarelinha’ ainda é sinônimo real do Brasil em Copa do Mundo. O estudante de psicologia e empresário Breno Pancieri, avaliou.
“Eu torço pelo Brasil, acho que o Brasil tem chances de ganhar esse Mundial. Acho que se criou muita polêmica com o partido do presidente, mas a gente tem que saber separar as coisas. É preciso separar a parte política do esporte. É uma só bandeira. Eu discordo desse pensamento em deixar de usar a amarela por isso, mas entendo quem tenha outra opção. Todas são do nosso país”, disse.
O administrador João Dias, analisou a situação pelo mesmo ponto de vista. “É uma questão que se propagou na política, mas a gente como brasileiro temos que usar as cores do nosso país. São as nossas cores e temos que defendê-las”, destacou, ao garantir que vai comprar a sua antes da estreia do Brasil na Copa do Mundo.