Diário no Qatar

A seleção tá indo (Coluna do Tostão 04/12)

Foto: Lucas Figueiredo/CBF
Foto: Lucas Figueiredo/CBF

A Copa continua com muitos bons jogos e emoções. A Alemanha, depois do título de 2014, foi eliminada na primeira fase nos dois Mundiais seguintes. Certamente, há vários motivos.
Um é a queda de qualidade da geração, mesmo mantendo uma ótima estrutura profissional. Outro motivo são os detalhes inesperados. Um terceiro, como disse PVC, é o trauma emocional do 7 a 1.

Freud, após um minucioso estudo, chamou de “arruinados pelo sucesso” as pessoas e os grupos que, depois de grandes conquistas, procuram, inconscientemente, o fracasso, por se sentirem culpados, não merecedores do sucesso.

Nos jogos mata-mata, as seleções inferiores vão fechar os espaços perto da área, com 8 a 9 jogadores, para contra-atacar. Japão e Coreia do Sul fazem isso com velocidade.
Já a Austrália, contra a Argentina, bastante recuada, marcava bem, mas não tinha habilidade nem rapidez para contra-atacar.

Até a metade do segundo tempo, a Argentina, em poucos momentos, conseguiu chegar ao gol, como no toque de Messi, preciso, rasteiro, no canto. A Austrália fez um gol por acaso e quase empatou no fim. Messi completou mil jogos na carreira, com quase 800 gols e quase 350 passes para gol, um espetáculo inacreditável.

Nas oitavas de final, há seleções de todos os continentes pela primeira vez na história. Brasil, Portugal e França, que escalaram quase todos os reservas, perderam na última rodada da fase de grupos.

O lugar-comum de que, no futebol moderno, não há titulares e reservas e de que o jogo é muito mais de estratégia do que de talento individual, é um conceito politicamente correto para agradar aos que estão no banco de reservas e aos fascinados pela prancheta.

Na segunda, se Alex Sandro não jogar contra a Coreia do Sul, Tite terá de improvisar um lateral esquerdo.

Marquinhos faz falta na zaga, e o time poderia ter problemas em duas posições. Danilo, se tiver condições de atuar, seria a melhor opção, por já ter jogado várias vezes pela esquerda na Juventus.

Entraria Militão ou Daniel Alves pela direita. O Brasil, por ter uma equipe segura e sólida, mesmo sem encantar, é o favorito contra a Coreia do Sul, que se beneficiou por jogar contra a seleção reserva de Portugal. Como se diz em Minas Gerais, a seleção brasileira tá indo.

Queria ver o Brasil fazer um gol coletivo, como o primeiro da vitória da Holanda contra os Estados Unidos. Foi um gol espetacular, após troca de passes, com toques de primeira, desde a defesa.

O Brasil gostou tanto dos pontas, que passou a correr o risco de eles serem muito marcados e de o time se perder por falta de boas jogadas pelo centro.

Com exceção da Holanda, que joga com três zagueiros, Brasil, França, Argentina, Inglaterra, Espanha e Portugal, todos candidatos ao título, marcam com duas linhas de quatro. Quando não dá para pressionar, os meias ou pontas pelos lados voltam e defendem na linha dos dois volantes.

Cada defensor tem um protetor, um secretário à frente. A formação com três zagueiros e dois alas, formando uma linha de cinco, que chegou a ser moda no mundo, mesmo em grandes equipes, parece que perdeu o encanto.

No futebol e em qualquer outra profissão, é preciso separar o novo, que chega para ficar, do novo, que, inicialmente, fascina, mas que não tem consistência nem futuro. Além disso, não basta ter conhecimento. É necessário executar bem. A teoria sem a prática é um vazio.

A prática sem a teoria é um chute no escuro.

Tostão
Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina