Diferentemente da França, que usou o mesmo esquema tático durante todo o Mundial, a não ser nos últimos 20 minutos da partida contra Marrocos, a Argentina utilizou várias estratégias, de acordo com o adversário.
O jovem treinador Scaloni, de 44 anos, vive um dilema sobre como explorar o lado esquerdo defensivo da França, mais frágil, e, ao mesmo tempo, marcar melhor Mbappé, pelo mesmo lado do campo. O técnico tem a opção de usar a mesma formação do início da Copa, com Di María e com um lateral mais marcador pela direita ou a de escalar três zagueiros e dois alas, sem Di María. Ou, ainda repetir a formação que usou contra a Croácia, com uma linha de quatro no meio-campo, com De Paul mais pela direita, para dar o primeiro combate a Mbappé.
Contra a Croácia, o desenho tático da Argentina era idêntico ao da seleção inglesa, campeã mundial em 1966, quando, pela primeira vez, uma equipe jogou com duas linhas de quatro e com dois atacantes (4-4-2). Nos dois times, os quatro no meio marcavam, construíam e se alternavam nas chegadas ao ataque. Não havia pontas nem separação entre volantes e meias.
O experiente Deschamps também vive um dilema, sobre como manter a formação tática e reforçar a marcação sobre Messi. Como o meio-campista Rabiot se desloca para a esquerda para proteger o lateral, já que Mbappé não volta para marcar, abrem-se espaços pelo meio. Griezmann tem jogado demais, feito o papel de meio-campista, de uma intermediária à outra, mas nem sempre dá para ele voltar e se posicionar ao lado de Rabiot e Tchouaméni.
Se a França fizer um gol primeiro e for pressionada, o técnico poderá repetir a mudança feita contra Marrocos, com a entrada de um jogador pela esquerda, para atacar e defender, e deslocar Mbappé para o centro, saindo Giroud. Outra opção é, em vez de um atacante pela esquerda, Thuram, pode entrar um outro meio-campista (Fofana), para reforçar a marcação.
Será uma disputa técnica, tática e de detalhes imprevisíveis e psicológicos. De um lado, a França, experiente, segura, fria, racional. Mbappé quer mostrar ao mundo e ao PSG que ele é o maior craque. Do outro lado, a Argentina, apaixonada, heroica, que vai jogar por suas ambições, pelo país e por Messi, em um gesto de profunda admiração, de gratidão e de solidariedade humana.
Não querendo ser repetitivo, mas sendo, a presença de meio-campistas com qualidade para ter mais o domínio da bola e trocar mais passes não significa ser menos objetivo, como alguns “sábios” dizem. A posse de bola é o início e o meio para se chegar ao gol com velocidade e eficiência. Posse de bola não é o fim. Se a Espanha tivesse melhores atacantes, poderia estar na final. Grandes equipes possuem as duas virtudes. O meio-campo é a alma e o cérebro de um time.
Se a Argentina for campeã, ressurgirão as discussões sobre quem é melhor, Messi ou Maradona. Maradona teve momentos mais espetaculares, mas Messi é mais regular, mais completo, além de ter uma carreira mais longa e com mais conquistas individuais e coletivas. Maradona é mais show, mais artista. Messi é mais craque.
Se a França for campeã, será o terceiro título nos últimos 24 anos, em sete edições de Copa do Mundo. Será a hegemonia da França no futebol mundial.
Alguém já disse que o símbolo é a presença da ausência. Apesar das últimas eliminações, o Brasil ainda é um dos símbolos do futebol, antes que os aventureiros e incompetentes destruam esse fascínio.
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Tostão
Cronistas esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina