Ir às urnas para exercer o direito e o dever de votar vai além do cumprimento de uma tarefa cívica. Dentro de um sistema democrático, o voto tem o poder absoluto de garantir representatividade, depor governantes, oxigenar instituições e, principalmente, redefinir um futuro próximo, mas que pode influenciar grandemente as próximas gerações.
Em Belém, é impossível dissociar o fato de que o gestor eleito para o mandato 2025-2028 será o prefeito que estará à frente das ações relacionadas à realização da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP30, e portanto, questões ligadas ao meio ambiente com certeza estarão presentes desde programas de governo e debates a programas eleitorais e postagens de internet.
“Tradicionalmente os políticos buscam discutir temas ligados à saúde e educação, porque são duas áreas que, na Constituição Federal, são previstos limites mínimos de 25% em investimentos. Mas como nós seremos sede da COP30 em 2025, a pauta do meio ambiente e de questões ligadas ao saneamento básico podem estar em alta em função dos recursos que serão investidos”, atenta o cientista político Breno Guimarães, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Partidário (Ibradip) e membro efetivo da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep).
O estudioso relaciona esse cenário a uma corrente da Ciência Política que analisa partidos “catch all” (na tradução literal ‘pegam tudo’), conceito criado pelo cientista político alemão Otto Kirchheimer (1905-1965). “São políticos e partidos que buscam atrair vários pontos de vistas, várias correntes ideológicas e vários segmentos sociais atraindo pautas e planos na área da saúde, educação, na segurança, então isso deve ser recorrente na eleição de 2024 – basta olhar os planos de governo que já foram divulgados”, antecipa.
Mestra e doutoranda em Ciência Polícia, a advogada e jornalista Helena Saria concorda com o entendimento de Breno Guimarães sobre meio ambiente e demandas crônicas em destaque, e lembra que, para além de dar atenção às plataformas de cada candidato durante a campanha para escolher em quem votar, é preciso não esquecer o pós-eleição. Ela lamenta o baixo número de candidatas mulheres no pleito deste ano.
“Temos poucas mulheres nesse pleito, tivemos esperança de ter um número maior de candidatas, mas não se concretizou. Seguimos na democracia representativa, com nove chapas, três mais à esquerda, duas mais à direita e as demais de base ideológica não tão visível. É importante que o eleitor, a eleitora, observe as bandeiras que o(a) candidato(a) levanta, busque apoiar aqueles que refletem seu próprio entendimento sobre o que é importante para a cidade. E isso não acaba no dia da eleição, tem que acompanhar a gestão depois de empossada, tem que haver organização para cobrar quem a gente ajudou a eleger, e por isso é tão importante que isso seja feito em estruturas organizadas, de associações, de sindicatos, de entidades de classe, porque a cobrança por melhoria só funciona se vier de muitos”, finaliza.