Depois de o PL ter despontado como a sigla mais envolvida em segundos turnos nas capitais, o ex-presidente Jair Bolsonaro registrou neste domingo derrotas em sete das nove cidades que seu partido disputava, incluindo locais onde se empenhou diretamente nesta reta final, como Belo Horizonte, Goiânia e Palmas.
A lista de reveses inclui ainda Curitiba, onde Bolsonaro hipotecou seu apoio a Cristina Graeml (PMB), embora o PL formasse a chapa de Eduardo Pimentel (PSD), que acabou eleito com larga vantagem.
As vitórias do PL em Aracaju e em Cuiabá, além do desempenho expressivo em Fortaleza, sugerem, na avaliação de pesquisadores, que os bolsonaristas que conseguiram se afastar da polarização nacional e ampliar alianças no segundo turno acabaram mais bem-sucedidos do que quem redobrou a aposta numa plataforma mais à direita.
Uma das derrotas mais emblemáticas de Bolsonaro ocorreu em Goiânia, onde Fred Rodrigues (PL) surpreendeu prognósticos e terminou o primeiro turno à frente de Sandro Mabel (União). O ex-presidente mergulhou de cabeça na campanha de Rodrigues e o acompanhou neste domingo durante a votação, mas não impediu uma derrota de virada para Mabel. Um cenário similar ocorreu em Palmas cidade visitada por Bolsonaro no sábado, e onde Janad Valcari (PL) acabou superada por Eduardo Siqueira Campos (Podemos).
Nos dois casos, os bolsonaristas pouco ampliaram suas votações na segunda rodada, enquanto seus adversários chegaram a quase dobrar os próprios desempenhos. Para a cientista política Fernanda Cavassana, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), “o discurso bolsonarista pautado em valores” ajudou a levar aliados do ex-presidente para o segundo turno, mas “não dá conta de administrar a cidade” por si só.
Um desses exemplos foi Cuiabá, onde o deputado Abilio Brunini (PL), um dos nomes mais alinhados ao bolsonarismo “raiz” no Congresso Nacional, superou no segundo turno o petista Lúdio Cabral (PT). No segundo turno, Abilio levou para seu palanque o governador Mauro Mendes (União), que havia apoiado outro candidato na rodada inicial. Apesar do histórico de ataques mútuos entre Abilio e Mendes, o governador justificou seu apoio dizendo que o bolsonarista “amadureceu”.
Além de Cuiabá, a única outra vitória do PL no segundo turno ocorreu em Aracaju, onde Emilia Corrêa (PL) adotou um discurso conservador, mas sem levar Bolsonaro à campanha – já a capital mato-grossense foi visitada pelo ex-presidente na semana passada.
Bolsonaro perdeu onde fez campanhas
Candidatos do PL acabaram derrotados em outras três capitais – Belo Horizonte, João Pessoa e Manaus – que tiveram passagens do ex-presidente na reta final. Na capital mineira, lideranças nacionais do PL e do Republicanos chegaram a tentar atrair o apresentador de TV Mauro Tramonte (Republicanos), terceiro colocado, para o palanque do bolsonarista Bruno Engler. A conversa, porém, não evoluiu, e Engler acabou derrotado pelo prefeito Fuad Noman (PSD), que dobrou sua votação mesmo sendo acusado falsamente por bolsonaristas, na reta final, de endossar “pedofilia”.
Outro revés ocorreu em Belém, onde Éder Mauro (PL) já havia chegado ao segundo turno em desvantagem para Igor Normando (MDB).
A cientista política Marcia Ribeiro Dias, professora da Unirio, observa que Bolsonaro apostou em quedas de braço com os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União), e do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), e acabou derrotado. Na capital paranaense, Cristina Graeml abraçou o discurso de valores caros ao ex-presidente, enquanto seu adversário focou em aspectos de gestão e se esquivou da disputa nacional.
– Onde Bolsonaro comprou a candidatura, perdeu, como em Curitiba e Goiânia. Parece ter havido uma tendência geral de rejeição à polarização, e mais focada nas forças locais – disse a pesquisadora.
Já em Fortaleza, apesar do revés, o bolsonarista André Fernandes (PL) fez uma disputa parelha com o petista Evandro Leitão, decidida por menos de 1%. Fernandes, embora seja conhecido por abraçar o discurso bolsonarista radical, procurou suavizar a imagem e fez campanha no segundo turno ao lado do ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), seu antigo adversário.
– Há uma emergência de novas forças de direita, com cisões até mesmo na sua facção mais radical, mas que tendem a amparar candidaturas estaduais e nacionais em 2026 – avaliou o cientista político José Álvaro Moisés, da USP.
Agência O Globo