DEU RUIM

Datena pede votos para Boulos e irrita PSDB em São Paulo

O tucano José Luiz Datena pediu desculpas por ter "perdido a cabeça" ao partir para cima de Pablo Marçal (PRTB) no debate com candidatos à Prefeitura de São Paul Foto: Band/Reprodução
Datena gravou um vídeo pedindo votos para o candidato do PSOL, Guilherme Boulos. Foto: Reprodução/Band

A direção nacional do PSDB desautorizou nesta segunda-feira o candidato derrotado do partido à prefeitura de São Paulo, o apresentador José Luiz Datena, e reafirmou o apoio no segundo turno à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Datena gravou um vídeo pedindo votos para o candidato do PSOL, Guilherme Boulos.

“O adversário de Nunes é um representante do lulopetismo, do extremo e da radicalização que sempre combatemos. Por coerência histórica, o PSDB não poderia deixar de indicar neste segundo turno a candidatura do prefeito Ricardo Nunes”, diz trecho da nota assinada pelo presidente nacional do partido, Marconi Perillo; pelo presidente estadual, Paulo Serra; e pelo presidente do Instituto Teotônio Vilela, deputado federal Aécio Neves (MG).

Na noite do primeiro turno, o partido se antecipou ao apresentador e declarou apoio a Ricardo Nunes pouco depois do fechamento das urnas. Datena não gostou, como mostrou o blog do colunista Bernardo Mello Franco, mas se manteve em silêncio. Seis dias depois, gravou o vídeo pedindo votos para Boulos.

– Contra a infiltração do crime organizado em São Paulo, contra a infiltração do crime organizado no poder público, eu apoio o Boulos – disse o apresentador, que ficou em quinto lugar na disputa, com apenas 1,84% dos votos válidos, o pior resultado do PSDB na capital desde 1988.

No vídeo, obtido pelo jornal “Folha de S. Paulo”, Datena acrescenta que irá votar em Boulos para “parar com essa criminalidade” que torna a cidade, o estado e o país “reféns do narcotráfico”.

– Nós não queremos isso (ficar refém do narcotráfico). Por isso eu apoio o Boulos para o segundo turno de São Paulo. Vote com ele. Vote contra o crime – diz Datena, no vídeo de 40 segundos.

Na primeira pesquisa Datafolha após o fim do primeiro turno, Ricardo Nunes aparece com 55% das intenções de voto, enquanto Boulos tem 33%. Outros 10% declaram a intenção de votar em branco ou nulo, e 2% se dizem indecisos.

Além de Datena, Boulos já havia recebido o apoio de Tabata Amaral (PSB), que ficou em quarto lugar na disputa, com 9,91% dos votos válidos.

O terceiro mais bem colocado na disputa, o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), se recusou a apoiar Nunes. Na semana passada, ele disse que “liberou” os seus eleitores a votarem de acordo com as suas “convicções, princípios e ideologias”. Já Marina Helena, candidata derrotada do Novo, declarou apoio ao prefeito. Em sexto lugar no primeiro turno, ela teve 1,38% dos votos.

A candidatura de Datena à prefeitura de São Paulo rachou o PSDB e foi bancada pela direção nacional do partido. A convenção da sigla que oficializou o nome do apresentador na disputa foi marcada por confusão e protestos.

A ala dissidente pró-apoio a Nunes era liderada pelo ex-presidente do diretório municipal Fernando Alfredo. Esse grupo instalou um carro de som na frente da Assembleia Legislativa, onde foi realizada a convenção, que tocava frases ditas por Datena no passado contra o PSDB, como “Aécio (Neves) deveria estar preso”, “Acho que ele recebeu propina mesmo” .

Na tentativa de frear contestações a Datena, a direção nacional da federação PSDB-Cidadania já havia aprovado, no dia anterior, sua candidatura.

A campanha de Datena foi marcada pela cadeirada que ele deu em Marçal após se provocado no debate da TV Cultura. O ex-coach havia feito insinuações sobre uma acusação de assédio sexual, que acabou arquivada pela Justiça, além do uso de uma gíria comum nas prisões para definir estupradores.

Patinando nas pesquisas, Datena encerrou o debate da TV Globo, o último do primeiro turno, sem apelar por votos na suas considerações finais:

-Você vota em mim se você quiser.

Texto de: Bernardo Mello Franco (AG)