JOVENS AO VOTO

Cresce número de jovens aptos a votar em 2024 no Pará

Em Belém, também aumentou o número de eleitores entre 16 e 17 anos, que estão mais ligados na internet e medidas afirmativas.

Gustavo Serrão Fernandes, completou 18 anos mês passado
Gustavo Serrão Fernandes, completou 18 anos mês passado

Estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que o número de jovens de 16 e 17 anos aptos a votar em outubro subiu 78% em relação a 2020, totalizando 1.836.081 eleitores. A região Nordeste lidera as estatísticas com 860.707 eleitores nessas faixas etárias, vindo em seguida o Sudeste (387.385), Norte (298.623), Sul (166.201) e Centro Oeste (113.165).

Em Belém o número de eleitores nessas faixas também aumentou desde a última eleição municipal: em 2020 os eleitores na capital com até 16 anos eram 6.214 (0,03% do total); e com 17 anos eram 10.250 (0,23%). Este ano o Tribunal Regional Eleitoral (TRE do PA) registrou 2.876 (0,27%) eleitores com até 16 anos e 6.397 (0,61%) com até 17 anos. Estão aptos a votar em Belém 1.056.337 eleitores.

No Estado do Pará, na eleição municipal anterior os eleitores com até 16 anos eram 46.125 (0,19%) e com até 17 anos chegaram a 76.655 (0,87%). Este ano a faixa de eleitores com até 16 anos no Estado subiu para 58.639 (0,94%) e os com 17 anos pulou para 81.318 (1,40%) do total de 6.179.908 do eleitorado paraense.

Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

A cientista política e socióloga Karen Gabrieli ressalta que após a redemocratização em 1988, o Brasil passou por um período de estabilidade democrática importante que fortaleceu as instituições, mas que ao mesmo tempo, atingiu de maneira muito superficial a juventude brasileira, fazendo com a memória histórica e coletiva se perdesse.

Karen ressalta que as mulheres são maioria entre os eleitores mais jovens aptos a votar. Ela diz que o movimento político hoje foi capturado pela chamada “economia da atenção”, que se traduz no marqueting digital e nas redes sociais e como esses meios determinam o que é vinculado, o que é debatido.

“A política sai da esfera pública, das praças, dos espaços de convivência coletiva e vai para uma esfera privada, da Internet, onde se desenvolve a opinião pública. E a maioria desses militantes digitais são jovens. E boa parte da política atual embarcou nesse movimento. A história política mostra que os jovens são quem decide uma eleição. Isso ocorreu recentemente nas eleições na França e Inglaterra, por exemplo”, detalha.

O perfil de eleitor mais jovem, diz a especialista, está mais conectado e percebe a política como um jogo de muita polarização. “A Justiça Eleitoral vem tentando estabelecer um regramento das mídias sociais para torná-las mais transparente possível, mas ao que parece isso não vem atingindo esse eleitorado mais jovem e tampouco as redes, tendo em vista que recentemente o ‘X” foi bloqueado pelo STF por se recusar a descumprir determinações judiciais”

Essa realidade, diz a socióloga, mostra o quão é importante estabelecer um marco regulatório da Internet no Brasil, regulando campanhas de impulsionamento e de marqueting digital. “É importante esclarecer que apesar das redes sociais parecerem uma ferramenta pública onde todos podem acessá-las, as empresas que as controlam são privadas. Precisamos aprofundar como essa aparente contradição impacta nesse público mais jovem, votante e que decide eleições.

Hoje, diz Karen, o desenvolvimento da personalidade do público mais jovem se molda ao desenvolvimento das redes sociais.

“Esse público jovem se preocupa muito em poder expressar suas liberdades individuais e suas identidades específicas, demandas diretamente vinculadas à Internet. Por isso a importância de se observar mecanismos de controle e regulação da informação, o que é diferente de censura. O que não podemos permitir é a veiculação de notícias falsas, discursos de ódios, calúnia e difamação, o que são crimes previstos no Código Penal”.

Quem define o desenho do Congresso nacional, de uma Câmara Municipal, de um governo ou de uma prefeitura, diz, são os eleitores. “Precisamos manter a necessidade cívica de ir às urnas a cada eleição e escolher nossos representantes, lembrar em quem votamos e cobrar de quem elegemos. As cidades são onde vivemos e acho que as eleições municipais são até mais importantes que as federais porque os vereadores e prefeitos definem os rumos da nossa vida na saúde, mobilidade urbana, educação. A participação cívica do voto dos jovens nas cidades é de suma importância”, destaca.

Estudantes paraenses defendem maior participação política

Sophia Barbosa Marinho, tem 17 anos e cursa o 3º ano do Ensino Médio (convênio). Ela avalia que o crescimento dos eleitores de 16/17 ocorre pela polarização política e dos esforços dos comunicadores digitais, tanto de esquerda quanto de direita. “Nos últimos anos, principalmente com a pandemia, houve uma cisão agressiva no país e a juventude, como principal motor de inovação social, manifestou-se; as redes sociais, que fervilharam com discursos sobre a situação do país. O papel da tecnologia é claro: ela impulsiona o jovem, cria um sentimento de pertencimento”, opina

A estudante diz que a participação política é necessária e inerente ao ser humano que, segundo ela, é um “animal político”. Para Sophia apenas com a movimentação no campo político é possível haver mudança na sociedade. Ela relembra que movimentos como “Caras Pintadas”, o “Diretas Já” e as “Jornadas de Junho”, guiados pelos jovens brasileiros.

“Essas manifestações mudaram o país. Sem elas o Brasil estaria estagnado e certamente as camadas sociais carentes estariam em uma posição de marginalização ainda mais dramática. A participação política precoce é fundamental para a superação das diferenças, da marginalização e da histórica dicotomia social. Apenas por meio dela a soberania do povo será garantida”.

A estudante votará em políticos que “realizem principalmente medidas afirmativas para as camadas mais vulneráveis da sociedade, que se comprometam em oferecer suporte, oportunidade e elevar a qualidade de vida dessas pessoas”.

Luise Sawada Sampaio, 16, cursa o 2º ano do Ensino Médio numa escola particular da capital. Ela avalia que a quantidade de eleitores mais jovens aumentou em decorrência das redes sociais, principalmente pelo “X”, Instagram e Tik Tok que, por diversas vezes, tratam os assuntos políticos de uma forma mais lúdica, por meio de edições de falas de políticos e músicas associadas a elas. “Isso traz um sentimento de pertencimento a algo, tipo: ‘eu sou de tal partido, tenho tal pensamento’. Esse entendimento que foi reforçado pelo acesso às redes sociais também”, avalia.

Ela considera importante participar do processo político cada vez mais cedo. “Isso envolve representatividade do que você acredita. Afinal, se não escolhermos alguém para nos representar que não esteja de acordo com as nossas lutas, não faz sentido algum! Procuro candidatos que prezem mais pelo bem coletivo do que pelo bem próprio”, aponta.

Gustavo Serrão Fernandes, completou 18 anos mês passado. Ele cursa o 3⁰ ano do Ensino Médio também acredita que o maior acesso à tecnologia e à informação desperta a atenção dos jovens para a política cada vez mais cedo. “Atualmente nós, adolescentes, estamos muito mais conscientes de nossa realidade e da competência de nossos representados, aumentando nossa vontade em fazer a diferença no nosso futuro através do voto”, pondera.

Para ele, quanto mais cedo a participação na política melhor será o entendimento sobre a relação entre o debate público e a escolha do voto. “Dessa forma os mais jovens terão sua visão ampliada, pois viverão as consequências de sua primeira experiência eleitoral, percebendo a importância de se informar corretamente para escolher líderes que possam mudar essa realidade desigual do Brasil”, justifica.