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Viagra, 'Tadala' e afins: conheça os riscos dos estimulantes sexuais

A disfunção erétil é definida como a perda da capacidade de obter e manter uma ereção satisfatória por um determinado período de tempo.

Cintia Magno

Nas plataformas digitais de música não é difícil encontrar trabalhos que tenham como tema central um princípio ativo responsável por agir em casos de disfunção erétil, a tadalafila. Com preços a partir de R$4,33 nas farmácias, no caso da caixa com um comprimido de 20mg da versão genérica, o medicamento tem se popularizado no Brasil não apenas em estilos musicais como o piseiro e o funk, mas também no próprio consumo.

Um estudo realizado pela Close-Up International – empresa que realiza auditorias e relatórios das prescrições e demandas apresentadas nas farmácias – aponta que a substância foi o segundo remédio na lista dos medicamentos que venderam mais de R$1 bilhão no Brasil, entre julho de 2022 e junho de 2023.

Apesar de associado a um efeito positivo e satisfatório, o grande interesse pela medicação acende o alerta para os riscos do seu uso indiscriminado e sem avaliação médica. O presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Dr. Luiz Otavio Torres, lembra que, na realidade, nenhum medicamento deve ser utilizado sem indicação médica. “É preciso falar em relação à dosagem, se é para tomar diário ou não, existem drogas diferentes no mercado…”, considera.

“O que acontece é que, pelo fato desses medicamentos no Brasil não precisarem de prescrição médica, há um uso indiscriminado, qualquer um chega na farmácia e pede (o medicamento). Existem inúmeras cópias dos originais, então, acaba havendo um uso indiscriminado porque não precisa de prescrição médica. A pessoa chega na farmácia e compra”.

Presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Dr. Luiz Otavio Torres

O médico urologista explica que esse tipo de medicamento faz parte da chamada família dos inibidores da fosfodiesterase 5, mais comumente chamados de inibidores da PDE5. Essa enzima, a PDE5, é responsável por causar uma contração das artérias penianas, o que é conhecido como vasoconstrição. Quando isso ocorre, naturalmente, não entra sangue suficiente nas artérias penianas e o pênis permanece em flacidez. Logo, esse tipo de medicação indicada para tratamento da disfunção erétil age inibindo essa enzima que causa a contração das artérias penianas.

“Se eu tenho uma enzima que inibe a fosfodiesterase tipo 5, então, eu estou inibindo uma substância que inibe a ereção”, explica o médico. “O efeito de inibir a PDE5 faz com que haja uma dilatação das artérias penianas e, consequentemente, com a entrada de sangue, a obtenção da ereção”.

Nesse sentido, o critério para a indicação da medicação é se o paciente tem ou não uma disfunção erétil, que é a dificuldade de entrar ou manter a ereção de uma forma persistente, levando a uma relação sexual insatisfatória.

“Temos que lembrar que tem dois grandes grupos de homens com problema de ereção: tem o grupo de homens que tem um problema orgânico, cujos fatores de risco são a diabetes, a hipertensão, a obesidade, a vida sedentária e a própria idade. Isso tudo são fatores de risco que podem levar a uma causa orgânica da disfunção erétil. No entanto, nós temos também o grupo que não tem problema orgânico, o problema é psicológico”, aponta o Dr. Luiz Otavio Torres.

“Esses medicamentos, os inibidores da PDE5, agem na maioria dos homens com problema orgânico e com problema psicológico. É claro que se o homem tem um problema orgânico muito grave, ele pode não responder a esses medicamentos. Então, não é todo mundo que responde adequadamente a esses medicamentos para a ereção, depende da gravidade do problema”.

Com relação à contraindicação do uso dos medicamentos para disfunção erétil, o médico aponta que a única contraindicação real é o uso concomitante de medicamentos à base de nitratos. Os dois medicamentos não podem ser usados juntos porque podem levar a uma queda da pressão acentuada.

“Na realidade, essa é a única contraindicação. É claro que se esse homem tem uma condição em que ele não pode fazer um exercício físico comparável com a atividade física de uma relação sexual porque ele corre o risco de ter um problema, então, é claro que ele não pode tomar o remédio, mas não por uma rejeição ao remédio. É para não ter o exercício físico da relação sexual”, considera o Dr. Luiz Otavio Torres.

De todo modo, o uso da medicação não deve ser feito de forma indiscriminada e sem acompanhamento ou prescrição de um médico. É fundamental que, antes de iniciar o uso desse tipo de remédio, o homem busque a avaliação médica necessária para que se identifique qual é a dosagem e a frequência mais indicada, além de outras avaliações.

 

Disfunção erétil pode ser alerta para doenças cardiovasculares

Mais do que indicar a necessidade de uso de medicações para manutenção da atividade sexual, a disfunção erétil pode ser um alerta para a ocorrência de doenças cardiovasculares e precisa ser avaliada por um médico especialista na área.

O médico cardiologista Vitor de Holanda (@drvitordeholanda) considera que a disfunção erétil e o risco cardiovascular têm uma estreita ligação. “A maioria dos casos de disfunção erétil são causadas justamente por má circulação e a disfunção erétil pode antecipar em até cinco anos um evento cardiovascular, como um infarto ou um AVC. Ou seja, na verdade, a disfunção erétil é um sinal de alerta”.

Nesse sentido, o médico aponta que, na grande maioria das vezes, os pacientes que apresentam disfunção erétil são homens obesos, com cintura abdominal aumentada, colesterol alto, diabetes, hipertensão e que não realizam o tratamento adequado. “Ele acha que só tomar o remédio para disfunção erétil que vai resolver o problema, quando, na verdade, tem que tratar as causas, as origens disso. Então, é justamente procurar um cardiologista, fazer avaliação do seu risco cardiovascular, reduzir colesterol, reduzir glicose, iniciar uma atividade física e, já que ele está tendo disfunção junto com todos os fatores de risco, investigar doença coronariana”.

O Dr. Vitor de Holanda explica que, por exemplo, a Sildenafila, que foi o primeiro de todos os medicamentos disponibilizados para disfunção erétil, surgiu como medicação para tratar o coração. Como ele atua na vasodilatação das artérias, o objetivo inicial dele era melhorar a circulação do coração, porém, ele não foi eficiente para esse primeiro objetivo e acabou tendo um efeito colateral, que foi a ereção. Depois de um tempo, portanto, ele acabou sendo utilizado para esse fim, o de tratar a disfunção erétil.

“Então, teoricamente, é uma medicação que seria segura para o uso de pacientes do ponto de vista do coração. Mas o que acontece é que a medicação faz uma dilatação das coronárias, só que ela vai dilatar as coronárias que são boas. As coronárias que são ruins não dilatam e isso faz o que a gente chama de competição de fluxo. Ou seja, o fluxo vai ficar muito melhor nas coronárias que são boas e nas que são ruins vai ficar pior e aí o paciente acaba tendo algum evento. Daí o risco do uso indevido, sem a avaliação adequada, sem a orientação adequada”, explica.

Mais do que indicar a necessidade de uso de medicações para manutenção da atividade sexual, a disfunção erétil pode ser um alerta para a ocorrência de doenças cardiovasculares e precisa ser avaliada por um médico especialista na área.

“É uma medicação teoricamente fácil de comprar, que não precisa de uma receita restrita, então, o homem que está com um problema vai até a farmácia achando que o problema dele é disfunção e, na verdade, pode ser má circulação. Aí ele toma a medicação e piora a circulação nas artérias que já estavam com problema, podendo levar, assim, a infarto na vigência da medicação e AVC também na vigência da medicação”.

Quando isso ocorre, há um aumento do risco de ocorrência do que se costuma chamar de mal súbito. Segundo explica o Dr. Vitor de Holanda, o mal súbito caracteriza toda e qualquer situação em que a pessoa está aparentemente bem e, de uma hora para a outra, perde a consciência ou vem a óbito. Sendo que a principal causa de mal súbito é o infarto, seguido pelo AVC e pelas arritmias cardíacas.

“O uso da Sildenafila não seria um potencializador direto disso, mas em pacientes que já têm predisposição, realmente, se torna um risco aumentado”, esclarece. “Na grande maioria das vezes eles não fazem ideia de que têm essa predisposição e a atividade sexual é considerada uma atividade intensa, então, qualquer pessoa que tenha doença cardiovascular e vai praticar atividade sexual, pode vir a ter infarto. E quando ele toma a medicação, ele se sente mais potencializado a isso, então, ele faz mais atividade, com mais intensidade e isso aumenta também as crises de angina, que são as dores no peito provenientes da má circulação, e o risco de infarto”.

 

FIQUE ATENTO

Principais sinais de alerta para doenças cardiovasculares

O médico cardiologista Dr. Vitor de Holanda alerta que sintomas como dor ou desconforto no peito podem ser sinais de ocorrência de doenças cardiovasculares.

“Às vezes as pessoas acham que o infarto só dá com aquela dor no peito, igual se vê nos filmes, mas um desconforto, um incômodo no peito durante ou após a relação sexual é um sinal de má circulação também e que precisa, sim, ser procurado um médico”, alerta. “Se essa dor não passar em até 20 minutos, ele precisa procurar uma emergência para fazer um eletrocardiograma, dosar enzimas do coração para saber se não está infartando e até mesmo ficar internado em muitas das situações”.

Se a dor ou desconforto passar em até 20 minutos, é recomendável que a pessoa agende uma consulta o mais rápido possível com cardiologista e relate os sintomas porque há a necessidade de se investigar se não tem nenhuma artéria entupindo ou entupida no coração e tratar o problema. “Uma boa parte das vezes, ao tratar o colesterol, a pressão alta e a diabetes a pessoa melhora da disfunção erétil. Então, a disfunção erétil é um sinal de alerta, um sinal vermelho e que se não for tratada a causa, esse paciente, com certeza, pode evoluir para um infarto, um mal súbito e até morte”.

 

NOTA

Diante da repercussão da substância ‘tadalafila’ até mesmo em músicas levou o Conselho Federal de Farmácia (CFF) a emitir uma nota, no ano passado, alertando para os riscos do uso irracional do medicamento.

A nota afirma que “como qualquer medicamento, o uso indiscriminado da tadalafila pode causar reações adversas e perigosas interações com outros medicamentos. Alguns dos efeitos colaterais mais comuns incluem dor de cabeça, indigestão, dor nas costas, rubor facial, congestão nasal e dores musculares. Em casos raros, pode causar alterações na visão, audição ou batimentos cardíacos”, alerta. “É importante lembrar que a tadalafila não deve ser usada por todos os homens, especialmente aqueles que têm problemas cardíacos ou que tomam medicamentos contendo nitratos. O uso desse medicamento deve ser sempre prescrito por um médico e os pacientes devem seguir cuidadosamente as instruções de dosagem e administração sob orientação do farmacêutico”.

Fonte: https://site.cff.org.br/