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Veja os riscos de tomar remédio pra emagrecer sem orientação médica

O Governo do Pará comemora nesta segunda-feira (26), às 16h, em solenidade no Palácio do Governo, a realização de mil cirurgias bariátricas pelo Programa "Obesidade Zero".  FOTO: Bruno Cecim- Agencia Para
O Governo do Pará comemora nesta segunda-feira (26), às 16h, em solenidade no Palácio do Governo, a realização de mil cirurgias bariátricas pelo Programa "Obesidade Zero". FOTO: Bruno Cecim- Agencia Para

Pryscila Soares

Na Semana de Combate à Obesidade, uma prática que tem causado bastante preocupação nos médicos, sobretudo os endocrinologistas – especialistas que tratam a obesidade –, é o uso indiscriminado de medicamentos para o emagrecimento sem a devida prescrição médica. Um desses medicamentos é o Ozempic (semaglutida), que é indicado para o tratamento do diabetes tipo 2 e, fora de bula (off label), costuma ser prescrito pelos endocrinologistas para tratar a obesidade, sendo que a indicação da forma de uso é individual e feita de acordo com o perfil clínico de cada paciente.

Em janeiro deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso do Wegovy (semaglutida 2,4mg), sendo o primeiro medicamento injetável de uso semanal para tratar pacientes com sobrepeso e obesidade. Ele tem o mesmo princípio ativo do Ozempic, que não necessita de receita para ser comercializado. É exatamente este fato que preocupa a classe médica, uma vez que qualquer pessoa tem a possibilidade de adquirir o medicamento sem uma receita controlada.

Nas farmácias da capital paraense, a solução injetável do Ozempic custa, em média, R$ 963,00 (1mg) e R$ 733 (0,25/0,5mg). Apesar do valor alto, em algumas farmácias, o medicamento está em falta ou com poucas unidades à disposição dos clientes. De acordo com o endocrinologista Rubens Tofolo, o uso da semaglutida em pacientes com sobrepeso e obeso é liberado nos Estados Unidos e na Europa desde 2019.

INDISCRIMINADO

Contudo, diferente do que ocorre no Brasil, nos EUA e Europa, a venda do medicamento é feita com receita controlada. “Inicialmente, a semaglutida foi utilizada para tratar o diabetes, só que os médicos começaram a verificar que os pacientes emagreciam muito. A base já é liberada na Europa e Estados Unidos desde 2019, para emagrecimento. A indicação seria para pessoas com sobrepeso que tenham mais doenças associadas como hipertensão, diabetes, colesterol ou para paciente com IMC (índice de massa corporal) igual ou maior a 30”, informou.

Os pacientes costumam chegar aos consultórios dos endocrinologistas apresentando efeitos colaterais severos devido ao uso indiscriminado, conforme frisou o médico. “O grande problema é que, diferente dos EUA e Europa, aqui é possível comprar o remédio sem receita. Existe no Brasil um uso indiscriminado da semaglutida. Não tem receita controlada. No Brasil, temos duas canetas do Ozempic, a de 0.25mg e a de 1mg, que estão em falta. A indústria não fala isso abertamente, mas temos quase certeza que é pelo uso indiscriminado. O Ozempic tem que ser feito uma vez por semana e a gente pega pacientes que usam todos os dias, com efeitos colaterais severos”, declarou Tofolo.

EFEITO

O especialista ressalta que os efeitos do uso da semaglutida em pacientes com sobrepeso ou obesos são muito promissores e muito semelhantes ao resultado de uma cirurgia bariátrica, uma vez que o paciente pode reduzir de 20% a 30% o seu peso corporal total. Contudo, para quem utiliza o medicamento sem o acompanhamento de um especialista, além de prejudicar a eficácia do medicamento, a pessoa corre um grande risco de apresentar graves efeitos colaterais.

“Pode levar à hipoglicemia, alteração no funcionamento do intestino – produzir diarreia sem controle ou prisão de ventre e lesão no pâncreas, o que chamamos de pancreatite. Estes são os quatro principais. O mais importante é procurar um especialista para que a pessoa não somente tenha um acompanhamento adequado como, também, uma prescrição correta. A gente avalia a função pancreática antes de indicar a medicação”, informou o médico, acrescentando que o medicamento é contraindicado para pacientes com menos de 12 anos ou acima de 70 anos, além de gestantes, lactantes e pacientes com doença no pâncreas.

OBESIDADE

  • A obesidade é uma doença multifatorial e crônica, cuja origem de 60% dos casos é genética.
  • O Atlas Mundial da Obesidade 2022, publicado pela Federação Mundial de Obesidade, prevê que, em 2030, cerca de 30% dos brasileiros adultos e 15,7% das crianças e adolescentes deverão apresentar algum grau da doença. No mundo, o Atlas estima que 1 bilhão de pessoas estarão obesas naquele ano.
  • Para o endocrinologista Rubens Tofolo, o crescimento do número de obesos é exponencial. “Precisamos urgente de uma política pública direcionada a isso. O paciente sem condições econômicas, que depende do SUS, não encontra nenhum remédio para tratar obesidade na farmácia popular”, disse.
  • Ainda de acordo com o especialista, a Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) devem realizar um congresso em junho deste ano e um dos temas discutidos será o uso indiscriminado da semaglutida. “A ideia é fazer um documento formal solicitando receita controlada para a semaglutida. Provavelmente, será encaminhado para a Anvisa. A própria indústria farmacêutica tem interesse nisso”, garante.

Fonte: endocrinologista Rubens Tofolo e Atlas Mundial da Obesidade 2022