Aplicar a vacina contra a gripe nas crianças brasileiras é essencial para reduzir a circulação do vírus influenza. Por serem socialmente ativos – segundo o Censo Escolar da Educação Básica 2022, mais de 9 milhões, entre 4 meses e 6 anos, frequentam uma unidade escolar –, os pequenos assumem papel importante na transmissão da doença, uma vez que transportam inúmeros microrganismos para dentro e fora de suas casas.
“É importante mães, pais e responsáveis perceberem que as crianças transmitem o vírus e que, por meio desse contato, elas podem colocar em risco a população idosa se ainda não receberam a vacina”, afirma o diretor de Regulatório, Controle de Qualidade e Estudos Clínicos do Butantan, Gustavo Mendes Lima Santos.
A abordagem dialoga com o conceito de saúde coletiva, uma vez que cada pessoa imunizada funciona como uma barreira, freando a circulação viral e protegendo de forma indireta aqueles mais suscetíveis à doença.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os casos de influenza atingem, em média, 20% a 30% das crianças de todo o mundo. Por isso, nos últimos anos, o Ministério da Saúde ampliou o público-alvo da população pediátrica na sua campanha anual de imunização. Entre 2011 e 2013, a ação contemplava apenas crianças de 6 meses a 2 anos; de 2014 até 2018 incluiu menores de 6 meses até 5 anos; e, a partir de 2019, até os pequenos de 6 anos de idade.
Neste ano, a campanha contra a gripe está prevista para terminar no dia 31 de maio e a taxa de cobertura do grupo ainda não bateu os 30%, sendo a pior entre os públicos prioritários – o índice recomendado pela OMS é de 90%. Em 2022, a cobertura vacinal da faixa etária ficou em 65,2%, e a meta não foi alcançada em nenhum dos estados.
“Infelizmente, baseadas nessa onda de desinformação, percebemos que muitas mães têm medo de que a vacina traga algum tipo de prejuízo para o desenvolvimento da criança. Mas é ao não vacinar que se assume um risco muito sério. Assim como todos os imunizantes, a vacina contra a gripe passa por diversos testes rigorosos. Se existe uma possibilidade de prevenir uma doença, devemos utilizar essa estratégia”, ressalta Gustavo Mendes.
Todas as crianças que receberam pelo menos uma dose da vacina influenza sazonal em anos anteriores devem ser imunizadas com apenas uma dose em 2023. Já os pequenos que serão imunizados contra a gripe pela primeira vez devem seguir o esquema de duas doses. Dentro da faixa etária, a capacidade do imunizante em estimular a produção de anticorpos no organismo, também conhecida como imunogenicidade, varia entre 40% e 80%.
Evolução para quadros graves
Geralmente, a gripe, doença provocada pelo vírus influenza, dura de 7 a 10 dias e os sintomas comumente apresentados são febre alta, tosse, coriza, dor de garganta, dor muscular e dores de cabeça. A criança deve ser levada imediatamente a uma unidade de saúde quando apresentar dificuldade para respirar, cor azulada dos lábios ou unhas, tosse persistente, dores de ouvido, peito ou garganta, febre persistente ou que volte a aparecer após 4 ou 5 dias do início do quadro.
Nos casos mais graves, a infecção por influenza, sobretudo entre os não vacinados, pode evoluir para quadros de pneumonia ou Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) – principalmente nos bebês menores de 2 anos, em que o sistema imune ainda está em formação. Dados do Boletim InfoGripe publicado em 19 de maio, alertam para o alto número de internações entre o público infantil causadas por SRAG em todo o país. De acordo com o estudo, a tendência é observada entre 13 dos 27 estados brasileiros e concentra-se, principalmente, nas regiões norte e nordeste.
Embora esse aumento esteja associado em sua maioria ao vírus sincicial respiratório (VSR), o quadro reforça a importância da adesão à campanha da vacinação contra a gripe, uma vez que os vírus influenza têm apresentando elevada taxa de circulação nas últimas semanas.
Fonte: Instituto Butantan