NOVOS ESTUDOS

Vacina contra meningite B pode oferecer proteção parcial contra gonorreia

Os avanços na medicina preventiva ganham destaque com a crescente busca por soluções que abordem os desafios de saúde pública de forma mais ampla e integrada.

Foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará
Foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará

Os avanços na medicina preventiva ganham destaque com a crescente busca por soluções que abordem os desafios de saúde pública de forma mais ampla e integrada. A relevância aumenta à medida que cresce a conscientização sobre a importância da educação em saúde e políticas que promovam a prevenção de doenças e a igualdade no acesso aos serviços de saúde. Estudos recentes, um deles publicado no The Journal of Infectious Diseases , em julho de 2024 1 e outro, uma meta-análise, publicado em fevereiro deste ano no PubMed 2, apontam que a vacina meningocócica B (MenB), desenvolvida originalmente para prevenir a meningite, pode oferecer proteção parcial contra essa infecção sexualmente transmissível (IST), cujos casos continuam a crescer no mundo 4.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2020 houve cerca de 82,4 milhões de novos casos de gonorreia em pessoas de 15 a 49 anos no mundo, com a maior parte das infecções ocorrendo na África e na Região do Pacífico Ocidental. A incidência global foi estimada em 19 casos por mil mulheres e 23 casos por mil homens 4.

Desafio crescente: resistência da bactéria que causa gonorreia

A gonorreia, causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, é uma IST que pode contaminar os genitais, reto, garganta e até olhos. Muitos casos são assintomáticos, o que contribui para a sua disseminação silenciosa. Quando se manifestam, eles incluem:

  • Dor ao urinar;
  • Corrimento genital;
  • Desconforto ou dor durante relações sexuais.

Segundo a ginecologista Maria dos Anjos Neves, do Delboni, marca da Dasa em São Paulo, a transmissão ocorre principalmente por relações vaginais, anais ou orais sem proteção com uma pessoa infectada. “Qualquer pessoa sexualmente ativa está suscetível, independentemente de identidade de gênero ou orientação sexual”, alerta.

Um agravante é a crescente resistência da bactéria aos antibióticos. “Já existem registros de cepas resistentes à ceftriaxona, principal medicamento de primeira linha, o que aumenta os temores de uma chamada ‘supergonorreia’”, explica a especialista. Além disso, infecções por gonorreia podem facilitar a transmissão do HIV, gerar infertilidade, doenças inflamatórias pélvicas e complicações tanto para gestantes quanto para recém-nascidos.

Vacina MenB: esperança com limites

Embora não tenha sido projetada especificamente para a gonorreia, pesquisas têm sugerido que a vacina meningocócica B (MenB) pode oferecer um benefício inesperado: proteção cruzada contra a bactéria Neisseria gonorrhoeae 3.

Essa proteção parcial chamou a atenção mundial. No Reino Unido, o Serviço Nacional de Saúde (NHS) se prepara para um marco histórico ao lançar, em agosto, o primeiro programa de vacinação contra a gonorreia usando a vacina MenB. Nesta primeira fase, o enfoque será em grupos de maior risco, como homens gays e bissexuais com histórico recente de múltiplos parceiros ou ISTs anteriores, seguindo recomendações do Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização (JCVI)3.

Os dados por trás dessa decisão são promissores. O estudo publicado no Journal of Infectious Diseases indicou que a vacina MenB-4C (Bexsero), administrada em duas doses, pode reduzir o risco de contrair gonorreia em até 40%. Apesar de não ser uma proteção completa, especialistas acreditam que esse impacto já representa uma valiosa ferramenta no controle da doença. “Com mais de 80 milhões de casos registrados anualmente no mundo, a ideia de uma vacina já existente ajudar nesse cenário é animadora”, comemora a infectologista Rosana Richtmann, consultora de vacinas na Dasa 4.

Prevenção tradicional ainda é essencial

Rosana reforça que, apesar do potencial da vacina MenB, ela não substitui estratégias já consolidadas de prevenção. Nada pode substituir o uso consistente de preservativos, a testagem regular de ISTs e o acompanhamento com profissionais de saúde.

Embora a descoberta traga esperança para o controle da gonorreia, permanece um desafio global o desenvolvimento de uma vacina especificamente destinada à bactéria Neisseria gonorrhoeae. As iniciativas em torno da MenB abrem um caminho promissor, lembrando que ciência e prevenção sempre caminham juntas na luta pela saúde de todos.

Débora Costa

Coordenadora do site Diário do Pará

Graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela UNAMA (Universidade da Amazônia). Especialista em Comunicação Corporativa e Marketing Empresarial com ênfase em mídias e redes sociais. Coordena o site Diário do Pará, parte do Grupo RBA, desde 2010. Ao longo da carreira, atuou na cobertura de diversas editorias, além de ter experiência no veículo de TV e na Coordenação do Núcleo de Mídias Digitais. 📍 Nascida em Belém-PA 📌 Redes Sociais: 📷 Instagram: @debboracosta 🐦 X: @debboracosta 💼 LinkedIn

Graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela UNAMA (Universidade da Amazônia). Especialista em Comunicação Corporativa e Marketing Empresarial com ênfase em mídias e redes sociais. Coordena o site Diário do Pará, parte do Grupo RBA, desde 2010. Ao longo da carreira, atuou na cobertura de diversas editorias, além de ter experiência no veículo de TV e na Coordenação do Núcleo de Mídias Digitais. 📍 Nascida em Belém-PA 📌 Redes Sociais: 📷 Instagram: @debboracosta 🐦 X: @debboracosta 💼 LinkedIn