Em 2022, o Brasil registrou 174.517 casos prováveis de chikungunya, com uma taxa de incidência de 81,8 casos a cada 100 mil habitantes. De acordo com o primeiro Boletim Epidemiológico de 2023 do Ministério da Saúde, esse indicador representa um aumento de 78,9% na comparação com 2021, e de 32,4% na comparação com o número registrado em 2019. O crescimento na quantidade de casos é divulgado no mesmo momento em que os centros de pesquisa parceiros do Butantan buscam voluntários e voluntárias de 12 a 15 anos para o ensaio clínico de fase 3 de uma vacina contra a doença. Dados das fases anteriores mostraram que o imunizante é seguro e altamente eficaz, com soroconversão próxima a 100%.
Até o momento, foram confirmadas 94 mortes causadas pelo vírus chikungunya no Brasil em 2022, com 15 óbitos ainda em investigação. A maioria das mortes (39) ocorreu no Ceará, que concentra 41,5% do total. A maior incidência da doença aconteceu entre a 5ª e a 35ª semana epidemiológica, ou seja, entre janeiro e agosto.
Os municípios que apresentaram os maiores registros de casos prováveis de chikungunya em 2022 ficam todos no Nordeste: Fortaleza (CE), com 20.453 casos; Maceió (AL), com 5.984 casos; Brejo Santo (CE), com 3.663 casos; Crato (CE), com 3.384 casos; Juazeiro do Norte (CE), com 3.063 casos; Teresina (PI), com 2.979 casos; e João Pessoa (PB), com 2.952 casos. Algumas dessas cidades, especialmente as localizadas no Ceará, registram taxa de incidência consideravelmente superior à média nacional: Brejo Santo teve uma média de 7.297,5 casos a cada 100 mil habitantes; Crato, de 2.527 casos a cada 100 mil habitantes; e Juazeiro do Norte, de 1.100,8 casos a cada 100 mil habitantes.
A chikungunya é uma doença infecciosa febril causada pelo vírus chikungunya transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. A circulação do vírus foi identificada no Brasil pela primeira vez em 2014, e ele já se espalhou por mais de 100 países. Os principais sintomas são febre acima de 38,5°, de início repentino, e dores intensas nas articulações de pés e mãos – dedos, tornozelos e pulsos. Pode ocorrer, também, dor de cabeça, dores nos músculos e manchas vermelhas na pele. Uma das sequelas atribuídas à enfermidade são dores articulares que podem se tornar crônicas – a artralgia crônica.
Como não há um tratamento específico contra a doença e ela se tornou endêmica em diversas regiões do Brasil, o Butantan firmou um acordo com a farmacêutica franco-austríaca Valneva para desenvolver uma vacina de vírus vivo atenuado contra a chikungunya, com o nome internacional de VLA1553-101. Os resultados preliminares dos ensaios clínicos de fase 1, 2 e 3, já realizados nos Estados Unidos, mostraram que a imunogenicidade alcançada após a vacinação permaneceu por ao menos seis meses, e que a vacina é segura e eficaz.
Resultados preliminares da vacina
A fase 1/2 do estudo clínico do imunizante foi iniciada em março de 2018 nos Estados Unidos com 120 homens saudáveis de 18 a 45 anos que não haviam tido infecção natural pelo vírus. Após 14 dias da aplicação da dose única, houve 100% de soroconversão, e os anticorpos foram mantidos mesmo depois de um ano. Não foi registrado nenhum evento adverso grave relacionado à vacinação até um ano após a aplicação.
Já a fase 3 do estudo clínico em adultos começou em setembro de 2020 com 4.115 pessoas maiores de 18 anos em 44 locais dos Estados Unidos. Os dados parciais mostraram que a vacina foi bem tolerada e se mostrou segura. Os eventos adversos em sua maioria foram leves e moderados e duraram no máximo quatro dias após a vacinação. Os resultados preliminares mostraram segurança e taxa de soroconversão e soroproteção de 98,9% até 28 dias após a imunização, sendo que os níveis de anticorpos neutralizantes se mantiveram elevados em 96,3% dos voluntários ao longo de 6 meses.
O estudo clínico no Brasil
No Brasil, outro estudo clínico de fase 3 está em andamento, e vai envolver 750 voluntários de 12 a 17 anos em várias cidades brasileiras onde a chikungunya é endêmica. Os jovens estão sendo recrutados em Belo Horizonte (MG), Boa Vista (RR), Campo Grande (MS), Fortaleza (CE), Laranjeiras (SE), Manaus (AM), Recife (PE), Salvador (BA), São José do Rio Preto (SP) e São Paulo (SP). O estudo está sendo realizado em adolescentes a fim de verificar o perfil de segurança em pessoas de diferentes idades, uma vez que a doença tem um impacto considerável na vida de quem contrai o vírus, incluindo os mais jovens.
Além da eficácia no público mais novo, o estudo também quer verificar como a vacina se comporta em uma população que já apresentou contato prévio com o vírus – espera-se que 20% dos voluntários já tenham sido infectados pelo vírus em algum momento da vida – em comparação com uma população sem contato inicial. O objetivo é observar se o imunizante é seguro e um facilitador da resposta imune.
Fonte: Instituto Butantan