A popularidade das unhas de gel, conhecidas pelo efeito duradouro e acabamento impecável, pode estar com os dias contados no Brasil. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) iniciou uma análise sobre a segurança do TPO, substância usada como fotoiniciador nesse tipo de esmalte. O movimento ocorre após a União Europeia proibir, no início de setembro, a comercialização do componente, classificado como cancerígeno, mutagênico e tóxico para o sistema reprodutivo. Embora os testes que embasaram a decisão tenham sido realizados em animais, a repercussão levantou dúvidas quanto ao impacto no consumo humano e levou a Sociedade Brasileira de Dermatologia a se posicionar contra a técnica.
Casos de reações adversas já foram relatados no país. A supervisora administrativa Vanessa Lopes compartilhou em depoimento nas redes sociais o que enfrentou após aplicar a técnica. “Minhas unhas começaram a doer, a inchar, ficaram inflamadas e chegaram a descolar. Precisei de atendimento médico, e a dermatologista confirmou que foi consequência do gel. Hoje, ainda tenho unha machucada e não pretendo repetir”.
A experiência não é isolada: consumidores relatam queimaduras, alergias e sensibilidade extrema, reforçando as preocupações da classe médica. A dermatologista Rosana Lazzarini, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, alertou ainda para os riscos às profissionais expostas diariamente. “A resina acrílica ultrapassa a barreira da luva e pode causar alergias sérias em manicures e nail designers”.
O toxicologista Anax Oliveira, por outro lado, pondera que a exposição ao TPO em esmaltações é reduzida. “A unha já é uma barreira natural e, nesse caso, as quantidades absorvidas são muito baixas. Não é porque a substância foi classificada como tóxica que existe comprovação de efeitos reprodutivos em pessoas expostas nesse procedimento.” Ainda assim, a decisão europeia tende a pressionar ajustes nas fórmulas e abre espaço para revisão regulatória no Mercosul, bloco do qual o Brasil faz parte. Enquanto isso, consumidores ficam diante do dilema entre estética e segurança, à espera de uma definição oficial que pode redesenhar o futuro das unhas de gel no país.