Dr. Responde

Tuberculose - Um mal antigo, mortal e preocupante 

Abandono do tratamento com a melhora dos sintomas torna o bacilo mais resistente no paciente. Foto: Freepik
Abandono do tratamento com a melhora dos sintomas torna o bacilo mais resistente no paciente. Foto: Freepik

Cintia Magno

Mesmo antes da pandemia de Covid-19 girar as atenções para o vírus SARS-CoV-2, o mundo já via ressurgir a preocupação com uma doença que é uma velha conhecida, a tuberculose. O Relatório Estatísticas Mundiais de Saúde 2023, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), aponta que antes da pandemia de Covid-19 a tuberculose era a principal causa de morte por um único agente infeccioso em todo o mundo, além de ser a principal causa de morte de pessoas com HIV e uma das principais causas de mortes relacionadas à resistência antimicrobiana. O cenário preocupante é ressaltado pela estimativa da OMS, que aponta que 10,6 milhões de pessoas adoeceram com tuberculose no mundo apenas em 2021, o que representa um aumento de 4,5% em relação aos 10,1 milhões em 2020.

A médica infectologista e mestra em doenças tropicais, Dra. Eliane Fonseca, explica que a tuberculose é uma doença infecciosa altamente transmissível e que compromete principalmente os pulmões, mas que também pode acometer qualquer órgão do corpo. “A gente tem tuberculose renal, tuberculose de bexiga, tuberculose da laringe, de pele, meningite tuberculosa, enfim, uma série de outros órgãos podem ser acometidos pelo agente que causa a tuberculose, que é o Mycobacterium tuberculosis”.

De todo modo, a principal forma da doença é a tuberculose pulmonar, cujos principais sintomas são tosse por mais de três semanas, febre que ocorre principalmente no final da tarde, suor noturno e perda de peso. “Esses são os principais sintomas, então, se você está tossindo há três semanas ou mais, procure um atendimento médico. A gente chama isso de paciente sintomático respiratório, que é aquele que apresenta tosse por três semanas ou mais”.

Dra. Eliane Fonseca reforça a importância de se buscar o atendimento médico precoce porque a tuberculose tem cura, mas, para isso, ela precisa ser diagnosticada o mais cedo possível. “Uma vez diagnosticado é importante saber que a tuberculose tem cura, a tuberculose tem tratamento. O tratamento é feito através de medicamentos de tomada diária e, hoje, dura seis meses, mas é importante a gente lembrar que a partir de duas semanas de tratamento, cerca de 15 dias, o paciente já não tem mais bacilos sendo transmitidos, então diminui muito as chances de transmissão da doença após 15 dias”, destaca.

Tratamento não deve ser interrompido sem recomendação médica 

Como a melhora dos sintomas da tuberculose ocorre de forma muito rápida ao final do primeiro mês de tratamento, a médica Eliane Fonseca alerta que, por vezes, o paciente pode querer abandonar o tratamento, o que é um problema pois pode ocasionar uma forma mais grave da doença.

“Quando há esse abandono do tratamento, a tuberculose volta e volta com um bacilo, que é o agente causador da tuberculose, muito mais resistente aos medicamentos. Então, esse paciente além de transmitir esse bacilo resistente a medicamentos, de mais difícil tratamento, também vai ter uma forma mais grave da doença”, aponta. “A tuberculose continua sendo um grave problema de saúde pública porque o indivíduo doente não tratado infecta outras pessoas. É um agente que se espalha muito facilmente no meio ambiente. Um paciente bacilífero, ou seja, aquele que elimina bacilos através da tosse, infecta as pessoas que estão ao seu redor, então, a tosse é o principal mecanismo de transmissão”.

TRANSMISSIBILIDADE 

A médica alerta, ainda, que apenas a forma de tuberculose pulmonar é transmissível. “A tuberculose renal, a meningite tuberculosa, a tuberculose cutânea, a tuberculose de pericárdio não são transmissíveis. Elas são uma reativação da doença. Isso ocorre porque, em algumas pessoas, ao adquirir o bacilo da tuberculose, a resposta imune faz com que esses bacilos fiquem presos dentro de nossas células de defesa, chamadas macrófagos, e um belo dia, quando a nossa humanidade cai, seja por uma quimioterapia, imunodepressão por HIV, ou pelo envelhecimento, esses bacilos podem ser liberados do interior do macrófago, produzindo doença em qualquer órgão do nosso corpo”, explica. “Por exemplo, aquelas infecções urinárias que a gente não consegue isolar o agente, mas que o paciente fica tendo pus na urina, podem estar relacionadas a uma forma de tuberculose, que é a tuberculose de vias urinárias e existe exame específico para detectá-la”.

POR DENTRO DA TUBERCULOSE

A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível, causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, também conhecida como bacilo de Koch. A doença afeta prioritariamente os pulmões (forma pulmonar), embora possa acometer outros órgãos e/ou sistemas. A forma pulmonar, além de ser mais frequente, é a principal responsável pela manutenção da cadeia de transmissão da doença.

Principais sintomas

Tosse por 3 semanas ou mais;

Febre vespertina;

Sudorese noturna;

Emagrecimento.

Caso a pessoa apresente sintomas de tuberculose, é fundamental procurar a unidade de saúde mais próxima da residência para avaliação e realização de exames. Se o resultado for positivo para tuberculose, deve-se iniciar o tratamento o mais rápido possível e segui-lo até o final.

Tratamento

O tratamento da tuberculose dura no mínimo seis meses, é gratuito e está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). São utilizados quatro medicamentos para o tratamento dos casos de tuberculose que utilizam o esquema básico: rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol. A tuberculose tem cura quando o tratamento é feito de forma adequada, até o final.

Prevenção

Vacinação BCG

A vacina BCG (bacilo Calmette-Guérin), ofertada no Sistema Único de Saúde (SUS), protege a criança das formas mais graves da doença, como a tuberculose miliar e a tuberculose meníngea. A vacina está disponível nas salas de vacinação das unidades básicas de saúde e em algumas maternidades. A vacina deve ser ministrada às crianças ao nascer, ou, no máximo, até os quatro anos, 11 meses e 29 dias.

Fonte: Ministério da Saúde.