Dr. Responde

Tirzepatida faz usuário perder peso por até 72 semanas

Segundo estudo, mais de 80% dos participantes apresentaram perda de peso significativa durante 72 semanas de uso da tirzepatida. Foto: Divulgação
Segundo estudo, mais de 80% dos participantes apresentaram perda de peso significativa durante 72 semanas de uso da tirzepatida. Foto: Divulgação

GABRIELLA SALES

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “O que tem nisso? Não penso em comida há sete semanas”, escreve uma mulher americana no TikTok em uma publicação em vídeo que mostra uma caneta injetável. Ela se refere ao Mounjaro, nome comercial da tirzepatida, medicamento para tratamento de diabetes utilizado para perda de peso nos Estados Unidos e na Europa.

O processo de aprovação do medicamento no Brasil está sob análise da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que não deu informações sobre quando o medicamento pode chegar às prateleiras no país.

Parte do sucesso do tratamento se deve à promessa de ser ainda mais eficaz do que a semaglutida (Ozempic e Wegovy) para perda de peso. Um estudo no último Congresso Europeu de Obesidade, em Dublin (Irlanda), explica um dos motivos: o usuário obeso leva mais tempo para atingir o “platô” do processo de emagrecimento, quando para de perder peso.

Segundo o trabalho, mais de 80% dos participantes apresentaram perda de peso significativa durante 72 semanas de uso da tirzepatida, tempo considerado inédito se comparado a outros tratamentos existentes.

O medicamento existe em doses de 5mg, 10mg e 15mg. Apesar de dosagens maiores causarem mais perda de peso, o tempo para atingir o platô foi semelhante em todas.
Considera-se que o indivíduo atingiu o platô quando perde menos de 5% do peso corporal num período de 12 semanas. Essa estabilização ocorre com qualquer tratamento para obesidade.

“Conforme o indivíduo perde peso, ocorre a ativação de algumas vias de defesa dessa perda e, com isso, a estabilização do peso”, afirma a endocrinologista Gláucia Carneiro, responsável pelo ambulatório de obesidade da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

O estudo incluiu participantes com IMC (índice de massa corporal) superior a 30 ou a partir de 27 com ao menos uma comorbidade. Os resultados contribuem para a busca da aprovação do medicamento para o tratamento da obesidade. Não há indicação para pessoas que não se encaixam nesses critérios.

Carneiro também considera que o estudo é relevante para confirmar a segurança do medicamento, já que a estabilização do peso é importante para diminuir o risco de emagrecimento excessivo, por exemplo.

A tirzepatida é considerada um duplo-agonista, pois simula os efeitos de dois hormônios intestinais que atuam na sensação de saciedade e no metabolismo. A semaglutida (Ozempic e Wegovy), por exemplo, tem efeito de apenas em um desses hormônios.

Não existem estudos robustos comparando os efeitos das duas substâncias, mas a eficácia da tirzepatida na perda de peso é considerada inédita.

De acordo com Carneiro, efeitos semelhantes aos do Mounjaro são vistos apenas com a realização da cirurgia bariátrica. Para a dosagem de 15mg, a redução registrada foi, em média, de 22% do peso corporal, e apenas 2% dos participantes não responderam ao medicamento. “Para a semaglutida, a média é uma redução de 15% do peso”, afirma a especialista.