“Para comparar os perfis cromatográficos das amostras, utilizamos análises estatísticas para verificar se há diferenças significativas entre as amostras de pessoas saudáveis e com câncer, identificando assim as ‘assinaturas do câncer’”, diz o pesquisador.
“Neste trabalho nós não identificamos as substâncias presentes nas amostras, para isso seria necessário um equipamento muito mais caro. A diferenciação foi feita exclusivamente pelos diferentes perfis dos picos presentes no cromatograma, o que também é chamado de fingerprint, ou uma ‘impressão digital’ do câncer”.
De acordo com Costa, um dos aspectos inovadores da pesquisa é avaliar a eficácia do diagnóstico tanto com os dados obtidos apenas de um material biológico, quanto com ambas as amostras doadas, denominado como “análise híbrida”. “Os modelos individuais que apresentaram os melhores resultados em termos de sensibilidade e especificidade foram o de câncer de cabeça e pescoço em urina, com 84,8% e 82,3%, e o de câncer gastrointestinal em saliva, com 78,6% e 87,5%”, enumera. “Com relação aos modelos híbridos, para câncer de cabeça e pescoço, obtivemos 75,5% de sensibilidade e 88,3% de especificidade. Já para câncer gastrointestinal, os índices foram de 69,8% e 87%.”
“Os dados indicam, por exemplo, que nosso método foi capaz de classificar 84,8% das amostras de urina de pessoas com câncer de cabeça e pescoço como sendo, de fato, de amostras ‘positivas’. Para um estudo preliminar, isso foi considerado muito bom”, observa o pesquisador.
“O método desenvolvido é simples, mais barato do que aqueles aplicados atualmente. Além disso, um ponto importantíssimo é que a nossa coleta é não invasiva, realizada de maneira rápida e simples, causando o mínimo desconforto possível para o paciente, muito diferente de um exame de sangue ou biópsia, por exemplo.”
Costa lembra que há uma série de pesquisas, em todo o mundo, relacionadas ao diagnóstico do câncer através da análise dos VOCs. “Contudo, ainda não há nenhum método do tipo sendo adotado, de fato, em uma rotina clínica. Nossos resultados são promissores, porém, o número de voluntários que participaram da pesquisa foi relativamente pequeno”, aponta. “É necessário continuar a pesquisa com um número muito maior de participantes para depois pensar em usar o método nos serviços de saúde. Porém acredito, e espero, que um dia isso possa acontecer.”
Os resultados da pesquisa são descritos no artigo Hybrid volatilomics in cancer diagnosis by HS-GC-FID fingerprinting, publicado na revista científica Journal of Breath Research em 27 de janeiro. Colaboraram com o estudo Ricardo Roberto da Silva, do Núcleo de Pesquisa em Produtos Naturais e Sintéticos (NPPNS) do Departamento de Ciências Biomoleculares da FCFRP; Vítor Luiz Caleffo Piva Bigão, do Departamento de Análises Clínicas, Toxicológicas e Bromatológicas da FCFRP; Fernanda Maris Peria, da Divisão de Oncologica Clínica da FMRP; e Bruno Spinosa De Martinis, do Departamento de Química da FFCLRP.