SAÚDE

SUS tem alta de atendimentos por vício em aposta

Dados do SUS (Sistema Único de Saúde) apontam para uma alta de atendimentos ambulatoriais relacionados a "transtorno do jogo" e "mania de jogos de aposta".

OFERECIMENTO

Hospital HSM Acessar site
SUS tem alta de atendimentos por vício em aposta SUS tem alta de atendimentos por vício em aposta SUS tem alta de atendimentos por vício em aposta SUS tem alta de atendimentos por vício em aposta
SUS tem alta de atendimentos por vício em aposta

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), afirma que o vício em apostas é um problema grave e que os jogos devem receber regulamentação similar a do cigarro, com forte controle sobre propaganda e alertas dos riscos de dependência.

Ele defende que as próprias plataformas de aposta notifiquem os jogadores sobre os riscos e façam contato com profissionais de saúde.

“A gente pode dar um passo além do cigarro, que é na própria plataforma ter mecanismos de acolhimento, de atendimento com profissional, disparar isso [quando o apostador está há muito tempo na plataforma]”, disse o petista à Folha de S.Paulo.

Dados do SUS (Sistema Único de Saúde) apontam para uma alta de atendimentos ambulatoriais relacionados a “transtorno do jogo” e “mania de jogos de aposta”. Em 2018, foram 111 casos registrados, o que subiu para 1.292 no ano passado.

Na leitura de integrantes do governo, esse número ainda não reflete o cenário da dependência no país. Em relatório divulgado em maio, o TCU (Tribunal de Contas da União) disse que o “número de atendimentos” pode estar subestimado e “que as iniciativas de detecção precoce de casos de dependência são escassas”.

Os sites de apostas online, que incluem as chamadas bets esportivas ou o famoso ‘jogo do tigrinho’, explodiram no Brasil nos últimos anos. As empresas do setor começaram a atuar no final do governo de Michel Temer (MDB), em 2018, e cresceram em uma zona cinzenta da legislação até o governo Lula (PT), que regulamentou o mercado.

Como mostrou pesquisa do Datafolha, de 2023, 15% da população já afirmava praticar apostas, com público majoritariamente jovem, e inclusive de beneficiários do Bolsa Família.
Padilha afirma que tem dialogado com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que comanda a pasta responsável pela regulamentação das apostas. Afirmou ainda que a Saúde vai ofertar cursos de formação a profissionais que acolhem apostadores, sem apontar uma data para concretizar as medidas.

“Mas a própria plataforma tem que ser obrigada a oferecer alarmes, orientação para essas pessoas, atendimento a essas pessoas, formas de atendimento para sair desse vício”.

Citado por Padilha, a controle sobre a comercialização do cigarro envolve a taxação dos produtos, proibição da propaganda, além da exigência de as embalagens mostrarem alertas sobre os riscos à saúde. O Brasil ainda proíbe a venda dos DEFs (Dispositivos Eletrônicos para Fumar), categoria que inclui cigarros eletrônicos e vapes.

Em dezembro, o governo anunciou a criação de um “grupo de trabalho interministerial com foco na saúde mental e na prevenção e redução dos impactos dos jogos na população”, reunindo Saúde, Fazenda e Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência).

O objetivo do grupo é lançar um plano de ação de saúde mental e “prevenção do jogo problemático”.

Há pesquisadores sobre o jogo patológico que traçam a dependência em jogos online como uma epidemia no país.

“É um tema grave e contemporâneo. Tenho conversado com psiquiatras que atendem esses casos, empresas que estão vivendo a situação dos seus trabalhadores nesse vício, nessa adição. Busquei entender as experiências internacionais na minha conversa, por exemplo, com o Ministério da Saúde do Reino Unido”, disse Padilha

O TCU afirma, no relatório do fim de maio, que falta “articulação efetiva” entre os ministérios do governo Lula para a adoção de providências conjuntas sobre o “jogo responsável”.

“Destacam-se, ainda, a ausência de indicadores claros sobre o número de pessoas atendidas no SUS e a carência de campanhas educativas e de mecanismos de bloqueio ou restrição ao público infantojuvenil; a massiva publicidade das apostas, aliada à falta de alertas proporcionais quanto aos riscos de dependência, contribui para que cresça o contingente de pessoas expostas ao jogo problemático”, diz ainda o TCU.

Padilha reconhece que ainda não há dados precisos sobre o impacto, inclusive financeiro, das apostas no SUS.

“Hoje não existe esse cálculo. Vai começar na medida em que a situação cresce. A gente vê isso a partir de algumas experiências internacionais”, disse o ministro.

O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde.

*Texto de MATEUS VARGAS